Por Dom Eduardo Benes de Sales Rodrigues
“Pela aceitação de um Deus de Amor, que coroou a Evolução com a aurora do Homem, à sua imagem e semelhança – como os cristãos acreditam -, pode-se admitir, consequentemente, um sentido para a Evolução, ainda misterioso para nós, mas o qual estaria guiando as etapas evolucionárias desde o princípio dos tempos. Podemos supôr que esse Deus tenha um propósito perfeito para o final dos tempos, se a Humanidade não destruir o planeta antes da consumação final n’Ele”.
Acompanhando, ainda que através das poucas informações veiculadas pela imprensa, a conferência de Kopenhague, sobre meio ambiente, voltou-me ao pensamento a figura de Teilhard de Chardin, sacerdote jesuíta e paleontólogo. Seus escritos teológicos e filosóficos foram divulgados depois de sua morte. Iluminados por uma visão sintética do desenrolar universal da Evolução, eles dão valor ao fenômeno de complexificação cerebral do phylum humano, que levou ao aparecimento da consciência de si mesmo (“passo” da reflexão), depois a uma rede mundial de comunicação dos pensamentos humanos, a noosfera, no coração da qual age o “Cristo Evolutor” que conduz a Humanidade, de maneira imanente e transcendente, ao mesmo tempo, para o “ponto Omega” (Reino de Deus). Ele escreveu um livro de destaque, “O Fenômeno Humano,” publicado depois de sua morte. Teilhard percebeu que o processo de evolução da matéria até suas formas mais complexas culminando no aparecimento da consciência – a humanidade – tinha sua continuidade no processo histórico que nos conduziria na direção de uma consciência sempre mais profunda de sermos uma única humanidade com um destino comum. Hoje esta consciência se mostra de forma ineludível com o aparecimento da Internet, que consegue colher a humanidade em uma única rede, e com a percepção de que a terra em que vivemos é a casa de todos e de que não existe ação coletiva ou pessoal que não tenha repercussões planetárias. Mais que nunca fica evidenciada a responsabilidade de cada pessoa e de cada nação pelo destino da humanidade como um todo.
O momento que estamos vivendo coloca-nos de forma dramática em uma encruzilhada: que caminhos a humanidade vai tomar? Em Kopenhague os países ricos fizeram uma proposta em que querem diminuir o aquecimento global preservando, entretanto, seus interesses, deixando aos outros, menos ricos, ou simplesmente pobres, a tarefa de arcarem sozinhos com seus problemas, devendo ainda eles tomarem, sem apoio dos países ricos, medidas que venham frear a poluição do mundo. A reação dos outros países foi imediata. Salvar a própria pele foi sempre a lei da selva. O momento histórico está a ensinar que a melhor maneira de se salvar é cuidar da salvação de todos. O momento é de solidariedade, é de conversão. Como não lembrar a advertência de João Batista ouvida neste tempo do Advento “quem tem duas túnicas, dê uma a quem não tem e quem tiver comida faça o mesmo…”(Lc 3,10-14). Este convite de João Batista pode ser traduzido para o momento que a humanidade está vivendo com as palavras de Bento XVI na sua última encíclica, quando ele fala à humanidade do “objetivo de reforçar aquela aliança entre ser humano e ambiente que deve ser espelho do amor criador de Deus, de Quem provimos e para Quem estamos a caminho ». É desejável que a comunidade internacional e os diversos governos saibam combater, de maneira eficaz, as modalidades de utilização do ambiente que sejam danosas para o mesmo. É igualmente forçoso que se empreendam, por parte das autoridades competentes, todos os esforços necessários para que os custos econômicos e sociais derivados do uso dos recursos ambientais comuns sejam reconhecidos de maneira transparente e plenamente assumidos por quem deles usufrui e não por outras populações nem pelas gerações futuras: a proteção do ambiente, dos recursos e do clima, requer que todos os responsáveis internacionais atuem conjuntamente e se demonstrem prontos a agir com sinceridade, no respeito da lei e da solidariedade para com as regiões mais débeis da terra.
Uma das maiores tarefas da economia é precisamente um uso mais eficiente dos recursos, não o abuso, tendo sempre presente que a noção de eficiência não é axiologicamente neutra”(n. 50). Será que a cúpula de Kopenhague conseguirá colocar a humanidade nesse caminho. Teilhard de Chardin via com esperança o desfecho do processo evolutivo, mas alertava: “O fim do Mundo: mudança de equilíbrio que desprenderá o Espírito, por fim completo, de sua matriz material, para fazê-lo repousar daí em diante, com todo seu peso, sobre Deus-Ômega. O fim do Mundo: ponto crítico, ao mesmo tempo de emergência e de emersão, de amadurecimento e de evasão”; “… mas também pode ser que, seguindo uma lei à qual nada ainda escapou no passado, o Mal, crescendo, ao mesmo tempo que o Bem, atinja no fim seu paroxismo, ele também sob uma forma especificamente nova. Não há cumes sem abismos.” Onde entra a liberdade, não há céu sem a possibilidade de seu contrário. O momento é de convergência para salvar o mundo. Você, caro leitor(a), é parte ativa do processo.
Fonte: CNBB