O Instituto de Educação a Distância, IEAD RCCBRASIL, oferece aos carismáticos a oportunidade de se aprofundarem na História da Igreja.  O curso tem o objetivo de estudar os modelos eclesiológicos e missionários, como a Igreja se autocompreendeu e se organizou ao longo dos séculos.

Neste artigo de Pe João Paulo Veloso, professor do História da Igreja, o IEAD disponibilizou, do material estudado no curso, parte do capítulo. O assunto abordado trata sobre uma das características próprias da Igreja de Jesus Cristo, a unidade. Abaixo o artigo:

 

Propriedades essenciais da Igreja: a unidade, a catolicidade, a santidade e a apostolicidade

O catecismo da Igreja Católica, no parágrafo 811, introduz-nos nessa temática, dizendo assim:

“Esta é a única Igreja de Cristo, que no Credo confessamos ser una, santa, católica e apostólica. Estes quatro atributos, inseparavelmente ligados entre si indicam traços essenciais da Igreja e da sua missão. A Igreja não os confere a si mesma; é Cristo que, pelo Espírito Santo, concede à sua Igreja que seja una, santa, católica e apostólica, e é ainda Ele que a chama a realizar cada uma destas qualidades.”

A Igreja é Una

A primeira propriedade da Igreja é ser una. O que nós vemos na Bíblia a respeito da unidade da Igreja é que Jesus revelou o mistério dessa unidade em algumas parábolas¹, como por exemplo a da videira (João 15,1-17);  do Reino (Mateus 12, 25-28); do Bom Pastor (João 10,1-18). Todas elas demonstram que Jesus quer que sua Igreja seja una, assim como Ele e o Pai são um. Jesus também orou pela unidade da Igreja na véspera da sua Paixão, como podemos ler no capítulo 17 do Evangelho de São João.

A Igreja de Cristo nasce unida, pois tudo o que os primeiros cristãos faziam era em comum, como lemos em Atos dos Apóstolos 2,42:

“Eles mostravam-se assíduos ao ensinamento dos apóstolos, à comunhão fraterna, à fração do pão e às orações”.

As três Pessoas Divinas, Pai, Filho e Espírito Santo, são um único Deus. A unidade da Igreja é derivada desse mistério da unidade divina, ou seja, tem em Deus a sua fonte de unidade.

A Igreja também é una por seu fundador: Jesus quis que ela fosse una, como acabamos de demonstrar pelas passagens bíblicas acima.

O Espírito Santo é a alma da Igreja, é Ele quem realiza essa unidade.  Portanto, a própria essência da Igreja é ser una.

Vejamos o que diz um dos grandes Padres da Igreja², São Clemente de Alexandria:

“Que estupendo mistério! Há um único Pai do universo, um único Logos³ do universo e também um único Espírito Santo, idêntico em todo lugar; há também uma única virgem que se tornou mãe, e me agrada chamá-la Igreja” (CEC4 nº 813).

Devemos ter em mente que unidade não significa uniformidade. A Igreja é una, mas ela também é diversa em suas expressões, em seus carismas5, em seus ministérios6. A Igreja alcança o mundo inteiro, cada diocese é diferente uma da outra, mas todas elas, unidas em torno do seu Bispo e em comunhão com o Papa, expressam a unidade da Igreja.

altO Catecismo da Igreja Católica, no parágrafo 815, vai nos mostrar três vínculos de unidade:

– A profissão da única fé recebida dos apóstolos. Como sabemos que professamos a mesma fé? Pelo Símbolo dos Apóstolos7 e pelo Símbolo Niceno-Constantinopolitano8, rezados a cada missa dominical no mundo inteiro.

– A celebração comum do culto divino, sobretudo dos Sacramentos. Os sete sacramentos da Igreja são os mesmos sacramentos celebrados em cada diocese do mundo.

– A sucessão apostólica. Há uma sucessão ininterrupta, desde os Apóstolos até os Bispos de hoje, pela imposição das mãos e a oração consecratória9.  Essa sucessão tem garantido a unidade da Igreja até hoje.

Sabemos que a unidade desejada e querida por Cristo foi por muitas vezes ferida. Há muitas separações e divisões visíveis na Igreja de nosso Senhor. É por isso que temos que caminhar rumo à unidade. O catecismo também nos apresenta elementos para caminharmos para essa unidade plena, como a oração comum, as obras de caridade em comum, o diálogo, o amor fraterno. São esses os caminhos que a Igreja nos propõe para que realmente todos os cristãos sejam o único rebanho sob um único Pastor.

Notas:

1 – Parábolas: gênero literário presente na Bíblia e muito utilizado por Jesus, Trata-se de uma história fictícia tirada do cotidiano, contendo uma lição moral ou religiosa.

2 – Padres da Igreja: esta expressão indica os grandes bispos dos primeiros oito séculos da história da Igreja. Eles explicaram e fundamentaram a fé católica através do estudo, das catequeses, dos sermões e do diálogo com a Filosofia.

3 – Logos: termo grego que significa “palavra” e indica a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade, ou seja, o Filho. Assim, o Filho é a “palavra do Pai”.

4 – CEC: abreviação de Catecismo da Igreja Católica. (Catechismus Ecclesiae Catholicae).

5 – Carismas: dons extraordinários concedidos pelo Espírito Santo para a edificação da comunidade.

6 – Diocese: determinada porção territorial do povo de Deus, liderada por um bispo. Cada diocese é a Igreja Católica, mas cada uma com sua particularidade.

7 – Símbolo dos Apóstolos: é a profissão da nossa fé, também conhecido como a oração do “Creio em Deus Pai…”.

8 – Símbolo Niceno-Constantinopolitano: é a versão completa do Símbolo dos Apóstolos. Teve sua redação final no ano 381, no Concílio de Constantinopla.

9 – Oração Consecratória: também chamada de oração de consagração. É realizada pelo bispo nas ordenações.

 

Para mais informações sobre o curso História da Igreja, acesse a página do IEAD.