“Creio em um só Senhor, Jesus Cristo…Também por nós foi crucificado sob Pôncio Pilatos, padeceu e foi sepultado. Ressuscitou ao terceiro dia, conforme as Escrituras, e subiu aos céus, onde está sentado à direita do Pai. E de novo há de vir, em sua glória, para julgar os vivos e os mortos, e o seu reino não terá fim”. Assim professamos a nossa fé e nela queremos perseverar até o fim!
Deus quer salvar a todos e não quer que ninguém se perca (Cf. Mt 18,14). Há muitas pessoas que passarão a vida inteira sem ouvir falar no nome de Jesus Cristo. Tantas terão como luz, para que a salvação venha até sua história, apenas a voz de sua consciência, e temos a certeza de que não estão excluídas do plano de amor de Deus. Por outro lado, há múltiplas manifestações religiosas, nas quais o Espírito Santo passou na frente de todo o esforço evangelizador da Igreja, plantando as “Sementes do Verbo” no coração das pessoas e grupos.
Entretanto, há de fazer parte de nossa convicção de fé o fato de que Jesus Cristo é o Senhor e Salvador. Não teria sentido viver o cristianismo se não houvesse esta certeza em nós. Respeitamos as convicções alheias e teremos, certamente, muitas boas surpresas, ao nos apresentarmos diante de Deus, na ocasião de nossa Páscoa pessoal, passando pela dolorosa e maravilhosa realidade da morte, quando, acolhidos nos braços do Pai, nossos olhos se abrirão para a eternidade feliz.
Tudo isso é dom de Deus e devemos reconhecer a gratuidade do seu amor. Entretanto, o dom total que vem do alto traz consigo a responsabilidade de nosso “sim” ao plano de salvação. Quando proclamamos que Jesus Cristo virá para julgar os vivos e os mortos, tal certeza nos encha de grande alegria e nos comprometa, já que tudo o que fazemos ganha valor. Não existe um caderno de contabilidade para somar nosso débito e nosso crédito a serem acertados na porta da eternidade, como muitas vezes se visualiza o que é chamado dono das chaves, São Pedro. Mas chegará o dia do juízo! (Cf. Hb 9,27) Deus está atento e vê nossos esforços, nosso desejo de acertar, as milhões de vezes em que recomeçamos, especialmente a amá-lo e ao nosso próximo!
Neste final de semana celebramos os fiéis falecidos. É edificante ver quantas pessoas se dirigem ao cemitério, muitas vezes chamado com razão de Campo santo, para recordar os entes queridos que faleceram. Sentimentos diversos, atitudes variadas. Alguns choram de saudade, e este é um bonito sentimento humano. Outros apenas enfeitam as sepulturas. Pode haver gente que traz ao cemitério alguma revolta, para muitos virá o arrependimento por não ter feito algo em benefício daqueles que agora são pranteados. É bom não ficar nos lamentos, mas aprofundar o nosso olhar. É ocasião privilegiada para tomarmos consciência de que ninguém “ficará para semente” e que chegará, mais cedo ou mais tarde, a nossa hora. Auguramos, entretanto, que no dia de Finados resplandeçam outros sentimentos, e estes são mais do que sentimentos. Trata-se da certeza de que Jesus Cristo é nosso Senhor e Salvador (Cf. Sl 22), e que, por Ele conduzidos, passaremos pelo vale da sombra da morte e chegaremos às verdes pastagens da eternidade. Recordemos o ensinamento de São Paulo: “Se é só para esta vida que pusemos a nossa esperança em Cristo, somos, dentre todos os homens, os mais dignos de compaixão” (1 Cor 15,19). Mais ainda, é ocasião para confiarmos a vida dos falecidos nas mãos de Deus. É o que podemos fazer por eles.
Fomos marcados pela graça de Deus no Batismo, confirmados pela ação do Espírito Santo, alimentamo-nos da Eucaristia, ao tornamos presente a Morte e a Ressurreição do Senhor, vivemos nesta terra buscando o Reino de Deus e a sua justiça, enfrentamos todas as lutas e dificuldades, olhando para frente e “buscando as coisas do alto, onde Cristo está sentado à direita de Deus”. Sabemos que “quando Cristo, nossa vida, se manifestar, então seremos também manifestados com ele, cheios de glória” (Cl 3,1-2).
E o nosso ponto de chegada é posto diante dos olhos ao celebrarmos, neste domingo, a Solenidade de todos os Santos. Ponto de partida no Batismo, Vida cristã, Páscoa pessoal na morte, e o Céu como ponto de chegada! A Igreja nos propõe a santidade, nada menos do que isso. Não se trata apenas de pensar nos santos e santas canonizados, como o foi recentemente Santa Dulce dos Pobres, ou o também brasileiro Santo Antônio de Sant’Ana Galvão, comemorado nesta semana, ou vários beatos e beatas de nosso Brasil, que estão para ser proclamados. Aqui, olhando para eles e elas, desejamos percorrer a estrada da santidade imediatamente.
Algumas propostas! Na vida de São Geraldo Magela, ao sair de casa para seguir os Missionários Redentoristas, deixou um bilhete para a mãe e os irmãos: “Fui embora para ser santo”. Santidade exige decisão, escolha, clareza de objetivos, prontidão para não se acomodar. Depois, a santidade se realiza no cotidiano, fazendo bem todas as coisas, amando a Deus e ao próximo. É santidade o cumprimento dos próprios deveres religiosos e a prática da cidadania. É santidade cuidar da natureza, proteger o meio ambiente. É caminho de santidade a disposição para fazer gentilezas, ceder o próprio lugar, não desejar impor seus pontos de vista, buscar mais o que nos une do que ressaltar a desunião. Vale o exemplo do Apóstolo: “Com os súditos da Lei, me fiz súdito da Lei – embora não fosse mais súdito da Lei –, para ganhar os súditos da Lei. Com os sem lei, me fiz um sem lei – eu que não era sem a lei de Deus, já que estava na lei de Cristo, para ganhar os sem lei. Com os fracos me fiz fraco, para ganhar os fracos. Para todos eu me fiz tudo, para certamente salvar alguns. Por causa do evangelho eu faço tudo, para dele me tornar participante” (1 Cor 9,20-23). Ou assim propõe o mesmo São Paulo: “Aspirai à mesma coisa, unidos no mesmo amor; vivei em harmonia, procurando a unidade. Nada façais por competição ou vanglória, mas, com humildade, cada um julgue que o outro é mais importante, e não cuide somente do que é seu, mas também do que é do outro” (Fl 2,2-4). Enfim, é santidade não se acomodar com o pecado, mas levantar-se e recomeçar sempre! É o que desejamos ao celebrar os fiéis defuntos e aqueles que são hoje colocados diante de nós para nos aventurarmos na mesma estrada da santidade que percorreram.