Os Evangelhos mostram Jerusalém como a meta do caminho de Jesus. Lá ele se entregou até o fim, morreu e ressuscitou. E justamente no centro do culto e da doutrina, onde se achava o templo, não foi acolhido. Muitos se aproximam do Senhor, mas aparecem logo os contrastes. Há grupos que fazem perguntas a Jesus, mais interessados em preparar-lhe armadilhas. “Com que autoridade fazes isso?” (Mc 11,29), perguntam-lhe instigados pela ação de Jesus, que purifica o Templo. Provocam-no a respeito do tributo a César (Mc 12,13-17), querem saber do mandamento mais importante, ou os saduceus questionam a ressurreição dos mortos (Mc 12, 18-27).

Da Jerusalém do mistério pascal de Cristo brotou o anúncio de seu nome e da salvação que ele oferece, percorrendo as estradas ou atalhos da história. Naquela cidade se revelaram os recônditos do coração humano que busca Deus. Sabemos que muitos foram de longe para conhecer Jesus. Lá no início, foram homens chegados do oriente, viajando atrás de uma estrela. No decorrer da vida pública de Jesus, eram cegos, surdos, mudos, coxos, aleijados, prostitutas, publicanos e outras classes de pecadores públicos. Acorriam a ele escribas e fariseus, pobres e ricos, maus e bons. Afinal, o convite era dirigido a todos! As decisões das pessoas foram tomadas pouco a pouco. E nos séculos e milênios que se seguiram, muitos o procuram. E nós fazemos parte da incontável multidão dos que são sedentos de Deus!

Em Jerusalém, quando estava para se concluir a atividade de Jesus, abre-se uma janela para a conversão dos pagãos! São homens que acorreram à cidade para a festa. Chega a hora da glorificação de Jesus! Pela paixão e morte ele chegará à glória, como ilustra a comparação do grão de trigo, sepultado na terra para dar fruto. A mesma sorte caberá aos seguidores de Jesus, que hão de acompanhá-lo onde quer que ele vá: à cruz e à glória. Revistamo-nos da pele daqueles estrangeiros que se aproximaram dos apóstolos, desejando ver Jesus (Jo 12,20-33), para descobrir dentro de nós mesmos e em tantas pessoas as perguntas autênticas.

Há coleções de livros que retratam vidas célebres. Posto ao lado de personagens históricos, pode até parecer que Jesus Cristo seja apenas um mestre a mais, dentre tantos outros. Sua sabedoria viria a ser comparada com outras figuras que marcaram época. Os cristãos sabem que ele é infinitamente maior do que qualquer sábio de qualquer tempo. O que atraiu os estrangeiros que foram aos apóstolos querendo “ver Jesus” é sua originalidade. Ver, no Evangelho de São João, é aproximar-se para crer! Crer é mais do que curiosidade, mais do que a emoção, muito mais do que um vago sentimento religioso.

A Jesus se vai não para negociar milagres ou favores. Diante dele caem todas as provocações e eventuais exigências ou cobranças. Desconcertadas ficaram todas as pessoas que acorriam para provocá-lo. Intrigados ficaram todos os Pilatos ou os Herodes da história. Nos Sinédrios e Tribunais de todos os tempos, que se reuniram para analisar sua doutrina ou julgá-lo, mesmo quando o condenaram ou aos seus discípulos, deixou-lhes dentro do coração o terrível incômodo de não terem aderido à verdade que se apresentava (cf. Mt 27,11-26; Jo 18,28 –19,16). Ele lhes escapa sempre, continuando o caminho, como fez em Nazaré (Lc 4,30).

“Jesus Cristo é a boa nova da salvação comunicada aos homens de ontem, de hoje e de sempre; mas, ao mesmo tempo, ele é também o primeiro e supremo evangelizador. A Igreja deve colocar o centro da sua atenção pastoral e da sua ação evangelizadora em Cristo crucificado e ressuscitado. Tudo o que se projeta na Igreja deve partir de Cristo e do seu Evangelho. Por isso, ela deve falar cada vez mais de Jesus Cristo, rosto humano de Deus e rosto divino do homem. É este anúncio que verdadeiramente mexe com os homens, que desperta e transforma os ânimos, ou seja, que converte. É preciso anunciar Cristo com alegria e fortaleza, mas, sobretudo com o testemunho da própria vida” (Ecclesia in America 67).

A todos os interlocutores, sinceros ou não, Jesus se apresenta como aquele que é Caminho, Verdade e Vida. Será sempre nova e provocante a caridade que o levou a entregar-se à morte no seu amor pelo mundo! Não dá para ficar indiferente diante de sua pessoa. Quero homenagear as pessoas inquietas, que desejam saber mais, aquelas que têm no coração muitas perguntas que perturbam e para as quais só Deus é a resposta. Que ele mesmo abra as portas da fé para todos os homens e mulheres que acorrem à Igreja. Peço ao Senhor, às portas da Semana Santa e da Páscoa, que nós, cristãos, digamos com a vida o que celebraremos dentro da Igreja. Que ninguém passe em vão ao nosso lado, mas saibamos levar, como Filipe e André, até Jesus Cristo, a humanidade suplicante de nosso tempo, que quer vê-lo e segui-lo.

 

Dom Alberto Taveira Corrêa

Arcebispo Metropolitano de Belém