
A cada ano, com a celebração da Quarta-feira de Cinzas, inicia-se o Tempo Litúrgico da Quaresma, que são os quarenta dias que precedem a Semana Santa, colocados pela Igreja para que possamos nos preparar bem para a maior de todas as Solenidades litúrgicas do ano, a Páscoa, grande celebração da Ressurreição de Jesus, em que recordamos Sua vitória sobre o Mal, o pecado, a morte e o inferno.
O Catecismo da Igreja Católica no ensina que:
“os tempos e os dias de penitência, no decorrer do ano litúrgico, são momentos fortes de prática penitencial da Igreja. Esses tempos são particularmente apropriados aos exercícios espirituais, às liturgias penitenciais, às peregrinações em sinal de penitência, às privações voluntárias como o jejum e a esmola, à partilha fraterna (obras de caridade e missionárias).”
A liturgia quaresmal é muito rica, e podemos encontrar a voz de Deus para nós através dela:
“Rasgai o vosso coração, e não as vestes; e voltai para o Senhor, vosso Deus; ele é benigno e compassivo, paciente e cheio de misericórdia, inclinado a perdoar o castigo”
O Salmo 50 nos ajuda a reconhecer nossas misérias diante de Deus. O texto nos ensina como devemos agir diante do pecado: Em primeiro lugar devemos clamar a Deus, para que nossos pecados sejam perdoados “conforme a Sua misericórdia”. De fato, precisamos ser lavados, purificados de nossas culpas. Quando isso acontece, o Senhor nos lava para ficarmos puros e mais brancos do que a neve e assim poderemos pedir: “Criai em mim um coração que seja puro, dai-me de novo um espírito decidido.”
O Papa Francisco, logo no início da Exortação Apostólica “Evangelii Gaudium” nos exorta:
“Convido todo o cristão, em qualquer lugar e situação que se encontre, a renovar hoje mesmo o seu encontro pessoal com Jesus Cristo (...).Quem arrisca, o Senhor não o desilude; e, quando alguém dá um pequeno passo em direção a Jesus, descobre que Ele já aguardava de braços abertos a sua chegada.” Esse encontro pessoal com o Senhor nos leva a experimentar a misericórdia divina. Segue o Papa: “Insisto uma vez mais: Deus nunca Se cansa de perdoar, somos nós que nos cansamos de pedir a sua misericórdia.”
Quaresma é, para nós, tempo de retorno, tempo de conversão! E o tempo que o Senhor nos dá para mudarmos de vida é HOJE. Não podemos ficar presos ao saudosismo do passado, no que poderíamos ter feito ou no que deixamos de fazer, e não podemos ter nossa vida tão focada no futuro, a ponto de esquecermos de viver o presente. “No momento favorável, eu te ouvi e, no dia da salvação, eu te socorri”. É agora o momento favorável, é agora o dia da salvação.” (II Cor 6,2).
No Evangelho e S. Mateus (6,1-6.16-18), o Senhor nos oferece três caminhos que devem nos nortear durante o tempo da Quaresma. Claro que esses segredos evangélicos devem ser vividos todos os dias:
I – Jejum: Precisamos ter cuidado com as más inclinações do nosso coração. O jejum nos ajuda a ter autocontrole, não permitindo que nossos desejos nos dominem e nos escravizem. O jejum tem como finalidade nos levar ao equilíbrio e ao desprendimento daquilo que não é necessário.
II – O segundo é a prática da Caridade, esmola sincera para com os mais necessitados e sofridos. É também a caridade com quem convive conosco. Percebemos também a necessidade da caridade da reconciliação, do perdão, de distribuir o que temos com quem vive ao nosso lado ou com quem está distante; a caridade que promove a paz.
III – O terceiro é reconhecer a Oração como elemento primordial da nossa vida. Restaurar a nossa relação com Deus para que Ele seja o primeiro em tudo aquilo que fazemos. Precisamos orar, ter nosso momento de intimidade, ter um tempo especial em nossas vidas dedicado ao nosso Senhor.
Deus os abençoe e os conduza nessa caminhada quaresmal, reconhecendo que, de fato, este é o tempo favorável, o tempo de conversão. Os Sacramentos da Penitência e Eucaristia nos ajudarão nesse processo.
Recordemos o refrão de uma música antiga: “Eis o tempo de conversão. Eis o dia da salvação. Ao Pai voltemos, juntos andemos. Eis o tempo de conversão!” Nesse breve trecho musical encontramos duas práticas essenciais: Voltar ao Pai, através da oração e exercer a comunhão com os irmãos, andando de mãos dadas, o que torna a caminhada mais leve.
Pe. Heldeir Gomes Carneiro
Assessor do Brasil no CONCCLAT