Como o aborto é promovido na Amércia Latina

Como o aborto é promovido na Amércia Latina

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 Segundo o diretor do escritório para a América Latina do “Population Research Institute”, primeiro se cria uma polêmica sobre um caso humano dramático de uma criança estuprada; depois se propõe uma lei geral de legalização do aborto.

Matéria pública por ZENIT.org em 19 de maio de 2010.

Este processo, adotado em outros continentes, está sendo aplicado na América Latina, como explica a ZENIT nesta entrevista Carlos Polo Samaniego, peruano, antropólogo e diretor do escritório para a América Latina do Population Research Institute desde 2001.

Este consultor de várias organizações na América Latina sobre política familiar analisa dois casos muito parecidos, que levantaram muitos artigos e debates radiofônicos e televisivos nas últimas semanas.

Um foi uma denúncia aos meios de comunicação, em Quintana Roo (México), no início de abril, provocando um debate regional em relação a uma menina de dez anos grávida do padrasto que a estuprou. A menina, que se encontrava em um estado avançado de gestação, não foi submetida ao aborto.
Em 12 de abril, a imprensa brasileira explicava que uma criança de 10 anos havia feito um aborto, com a aprovação de um juiz, em Recife, após ter sido estuprada diversas vezes por seu padrasto.

– Em ambos os casos, algumas organizações solicitavam o aborto para salvar a vida das mães; não é coincidência o fato de irem à imprensa os dois casos ao mesmo tempo?
Carlos Polo: Tudo parece indicar que não. O escritório da América Latina de Population Research Institute vem fazendo monitoração de casos como estes há alguns anos. Analisamos as iniciativas e publicações das principais organizações abortistas na América Latina e detectamos padrões comuns.
Os de Quintana Roo e Recife pertencem a uma grande lista de casos similares “fabricados” para legalizar o aborto na América Latina. Argentina, Peru, Colômbia, Nicarágua e Honduras são alguns dos lugares escolhidos por esses grupos que não buscam o bem-estar das meninas, mas sim impulsionar sua agenda, apelando aos sentimentos de compaixão para implementar confusão na opinião pública. Podemos dizer que buscam semear confusão mesmo dentro da Igreja.

– Em que se baseia para afirmar que os casos são “fabricados”?
Carlos Polo: Temos que dizer que o drama das meninas grávidas é real e sumamente doloroso. O que se fabrica e manipula é a repercussão midiática e a insistência de que o aborto é a única solução. Sobre esta realidade, são montadas campanhas que apresentam o aborto para aqueles que procuram outras saídas fora do aborto como um povo sensível, desumano e incompreensível. Os bispos, sacerdotes e leigos comprometidos, usualmente os primeiros defensores da vida dessas criaturas que estão por nascer, são muitas vezes alvos de ataque. A pressão chega a ser muito forte, como se a tensão estivesse situada no nosso senso de humanidade ao extremo. Mas é tudo parte de uma falácia, de uma grande mentira baseada num drama humano: muitas vezes essas meninas nem correm perigo nem querem abortar. E o pior, depois sofrem as consequências de fazê-lo.

– Esta acusação é muito grave. O senhor está em condições de mantê-la?
Carlos Polo: Cada vez temos mais evidências. Durante muito tempo, suspeitamos que isso acontecia mais ou menos da forma como agora conhecemos bem. Mas foi necessário um grande número de leigos, profissionais em diferentes áreas; nós nos organizamos e trocamos eficientes informações e experiências para que pudéssemos descrever todo o circuito, encontrando os padrões de “fabricação” de casos dos quais se falava antes. Agora, cada vez que é gerado um destes “casos”, surgem voluntários para socorrer as meninas e seus pais. Por exemplo, graças a Deus, em Quintana Roo se pôde resgatar a menina e salvar seu bebê.

– E o que lhes revelou o caso de Quintana Roo?
Carlos Polo: O que suspeitamos: que um grupo inescrupuloso havia isolado esta família, ocultando seu paradeiro. Pressionaram a mãe até que concordasse a dar seu consentimento ao aborto, ainda que em sua consciência existia uma insatisfação e uma luta muito grande. Na menor oportunidade de fazer algo diferente, essa mãe e essa menina optaram com alegria pela vida. Mas, lamentavelmente, nem sempre chegamos a tempo. Ficam na memória casos como os de Recife (o primeiro de gêmeos há um ano e agora, mais recentemente, outro). O de “Amélia”, na Nicarágua, sobre o qual publicamos uma ampla pesquisa há pouco. Amélia tinha câncer no ovário. Diversas organizações católicas ofereceram ajuda para o tratamento do câncer. Mas as organizações feministas que a mantinham oculta e pediam o “aborto terapêutico” não permitiram que ela recebesse a ajuda. Quando a pessoa vê que a prioridade é o cumprimento da agenda política abortista, então é claro que Amélia, como pessoa, não lhes interessa realmente. Não se trata do aborto para que faça bem à Amélia, mas simplesmente de usar aAmélia para que “faça bem” ao aborto.

– Qual é a origem desta estratégia abortista?
Carlos Polo: De fato, há muitas pistas. Uma delas nos coloca em um documento que, em janeiro de 2003, o Center for Reproductive Rights publicou com o título What Role Can International Litigation Play in the Promotion and Advancement of Reproductive Rights in Latin America? (Qual o papel dos conflitos internacionais na promoção e desenvolvimento dos direitos reprodutivos na América Latina?). Suas autoras, Mônica Roa, Luisa Cabal e Lilian Sepúlveda, são membros destacados desta organização de Nova York que promove o aborto legal e o manifesta abertamente.
Nesse documento, dizem claramente: “Os tribunais podem ser um fórum excelente para produzir a mudança”. Também afirmam que, nesta estratégia de litígios, sua última oponente é a Igreja Católica. E afirmam que tudo isso se inicia por “examinar o processo de identificação de temas e casos”. Abertamente, o Center for Reproductive Rights expõe como sua própria equipe de advogados e suas organizações associadas apresentaram os quatro “casos” citados no documento. Um deles, o da peruana Karen Llantoy, foi utilizado anos depois como argumento por Mônica Roa na sentença que legalizou o aborto na Colômbia.

– Voltando aos casos de Quintana Roo e de Recife. Conte-nos brevemente o que aconteceu em cada um destes “casos”.
Carlos Polo: Como se diz, em Quintana Roo se atuou a tempo e foi possível salvar a menina e seu bebê. O “caso”, como estratégia abortista, fracassou em todos sentidos. Não houve aborto. Nem as autoridades nem a opinião pública ficaram impressionadas. E o bispo de Cancun-Chetumal, Dom Pedro Pablo Elizondo, L.C., esteve muito consciente da assembleia que procurou criar divisão e dúvidas.

Em Recife, infelizmente, o “caso” terminou com aborto. Ao contrário do México, no Brasil os hospitais do governo oferecem todas as facilidades para abortar em casos de estupro. Mas poucas mulheres estupradas no Brasil escolhem abortar. Este recente caso em Recife tem um componente adicional que confirma muita de nossas informações com a deturpação que a imprensa fez com relação às declarações do arcebispo, Dom Fernando Saburido, dando a impressão que este aprovava o aborto em certos casos de meninas estupradas, para salvar sua vida. É como se utilizasse “argumento de falsa misericórdia”.

O mesmo arcebispo teve de acompanhar essa campanha de desinformação com uma nota em que acusa o Diário de Pernambuco de manipular suas declarações. Segundo refere o arcebispo, o jornalista lhe fez a mesma pergunta em várias ocasiões e de diferentes formas, para depois selecionar aquela resposta entre todas que poderia apresentar a manipulação e falsa interpretação. “Recebeu a comunhão, em todos os sentidos, com a orientação de nossa Santa Igreja, que defende a vida e não admite, sob nenhuma hipótese, que seja eliminada, porque é um dom de Deus e somente a Ele cabe decidir – explicou Mons. Saburido. No caso específico da menina de 10 anos, grávida de quatro meses, vítima de estupro por seu padrasto e submetida a um aborto, estou em desacordo da decisão tomada, que considero anticristã por ter tomado uma vida que poderia perfeitamente ser salva. Não faltaria alguma família disposta a adotar o bebê, oferecendo-lhe afeto e dignidade”.

Precisamente esse é o ponto chave para começar a derrotar esta estratégia: unidade no interior da Igreja. O testemunho de fé e ação em Quintana Roo ilumina e confirma perfeitamente as palavras do bispo de Recife, e vice-versa. A força do Evangelho da Vida acolhido e testemunhado é mais potente que qualquer vertente abortista.

– Alguns céticos poderiam ainda ter insistido na boa intenção destas organizações ao apresentar estes casos. O que o senhor diz sobre isso?
Carlos Polo: Eu sugeriria que averiguasse como terminam as mulheres concretamente envolvidas nestes “casos”. O habitual é o total abandono por parte daqueles que até antes da intervenção eram “seus grandes aliados”. Não podemos nos deixar surpreender pela falácia, porque a meia verdade termina sendo uma grande mentira. Qualquer coisa pode ser objeto de uma tentativa de manipulação.

O lema institucional do Population Research Institute é “Colocar as pessoas em primeiro lugar”, porque é como uma chave para entender quão prejudicial é o aborto e todos os subprodutos da cultura da morte. E nossa ânsia é servir a todas as instâncias da Igreja para detectar e desmascarar estas manobras. Sabemos muito bem que nestes casos devemos exercitar aquilo que somos como membros do Corpo Místico e cooperar, como um órgão específico, para o bem de todos. 

– Finalmente, que recomendação o senhor daria para evitar que haja mais danos com esta estratégia?
Carlos Polo: Que sejamos Igreja. Que nos unamos para pensar, orar, entender e agir pro-ativamente a favor da vida. Que nossos pastores não se sintam sós, porque cada vez somos mais leigos e colocamos nossos talentos profissionais ao seu serviço. Que nossos irmãos se animem a aprofundar neste trabalho e a entrar em contato, como uma grande rede. Só assim podemos enfrentar à altura os desafios do mundo de hoje.
 

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