Por Padre John Flynn, L.C.
Com o dia de São Valentim, tanto os bispos dos Estados Unidos como os da Inglaterra e Gales organizaram uma semana de atividades para chamar atenção sobre a importância do matrimônio e a vida familiar. Ao mesmo tempo, a organização Relationships Foundation publicava dois relatórios sobre o matrimônio. A 9 de fevereiro foi publicado Counting the Cost of Family Failure (Avaliando os custos dos rompimentos familiares) e, no dia seguinte, Why Does Marriage Matter? (Por que o matrimônio é importante?).
No primeiro documento, a fundação coloca em 41,7 milhões de libras (64,5 milhões de dólares) o custo anual dos relacionamentos rompidos. Isso equivale a 1.350 libras (2.088 dólares) por cada contribuinte do Reino Unido. É necessário que os responsáveis políticos levem em conta essa pesada carga econômica e adotem as medidas apropriadas para assegurar que as relações sejam mais estáveis, pedia o relatório.
“É uma verdade impopular que as decisões têm consequências e custos, e esses nem sempre são suportados por quem toma as decisões”, comentava o relatório.
A fundação afirmava também que o progresso das famílias é a chave para a vida social e a transmissão de conhecimentos e habilidades. O relatório assinalava em 73 milhões de libras (112 milhões de dólares) por ano o montante pago pelas famílias através de seu apoio aos membros familiares e os cuidados sociais que proporcionam.
O relatório observava que os gastos familiares implicam custos que não são simplesmente econômicos. Fazia referência a estudos que mostram uma maior incidência de problemas de saúde entre os adultos divorciados e seus filhos.
Além disso, os traumas emocionais, a solidão e a ruptura das relações têm um impacto significativo. A educação dos filhos também sofre danos, posto que pais divorciados têm menos tempo para ajudá-los em seus deveres e incentivá-los a aprender.
“Os representantes da Conferência Anual da Associação de Professores de 2008 afirmaram que as vidas caóticas no lar e a pobreza tornam as crianças incapazes de aprender”, observava o relatório.
A fundação admitia que não há solução fácil ou de curto prazo para o problema da instabilidade na vida familiar, mas a carga da desintegração familiar é insustentável para a sociedade, concluía.
Vantagens
O segundo relatório de Relationships Foundation considerava o outro lado da moeda e examinava as vantagens do matrimônio. Em Why Does Marriage Matter? é explicado que, ainda que quase toda relação tenha seus benefícios, as vantagens são maiores para os casais casados.
O relatório observava que alguns argumentam que esses assuntos deveriam ser decisão privada entre duas pessoas e, portanto, não convêm às autoridades públicas.
“Mas o matrimônio não afeta só dois adultos que dão seu consentimento, mas também qualquer criança envolvida, as famílias em amplo sentido e a sociedade como conjunto”, afirmava o documento.
“Ao apoiar o matrimônio, a política está reconhecendo que é benéfico ver as relações como instituições públicas, não só como eleições privadas”, continuava a fundação.
Daí a necessidade de julgar algo que não é um mito, que as relações privadas deveriam gozar das mesmas proteções legais e sociais que apoiam o matrimônio, assegurou o documento.
O relatório reunia a investigação de numerosos estudos para respaldar a afirmação de que o matrimônio é benéfico para as famílias e a sociedade em geral. Entre os benefícios para o casal estão os seguintes:
–Os homens casados investem de 10% a 40% mais que os solteiros em educação;
–Os casais casados geram maiores finanças que outros casais similares, solteiros ou que moram juntos, inclusive aqueles com rendas similares;
–O matrimônio está associado a uma redução significativa da depressão;
–O estado matrimonial contém o avanço do Alzheimer na terceira idade;
–É mais provável que as pessoas casadas sobrevivam ao câncer;
–As pessoas casadas têm um menor risco de suicídio que as pessoas não casadas, um efeito protetor que se mantém nos últimos 25 anos;
–O matrimônio faz das pessoas mais sadias e felizes, e as pessoas casadas vivem mais.
O casamento também beneficia os filhos:
–Os bebês nascidos de pais casados têm um índice menor de mortalidade infantil. Em média, o risco de mortalidade infantil aumenta entre 25-30% se a mãe forma parte de um casal de fato, e de 45%-68% se a mãe for solteira;
–Os pais casados passam mais tempo com seus filhos, proporcionam-lhes mais recursos materiais, trabalham mais próximos da mãe de seus filhos e estão mais comprometidos, emocional e moralmente, em contribuir com o futuro de seus filhos;
–70% das crianças nascidas em 1997, de pais casados, podem esperar passar toda sua infância com ambos pais naturais, em comparação com 35% dos filhos de casais de fato.
–Levando em conta fatores como raça, educação da mãe, qualidade do bairro e habilidades cognitivas, as crianças criadas com somente um progenitor correm maior risco de acabar na prisão até os 30 anos;
–As crianças que vivem com mães solteiras, padrastos, ou namorados de sua mãe são mais propícias a serem vítimas de abusos, e as crianças que vivem somente com sua mãe tem um índice mais alto de mortes por lesões intencionadas;
–Crianças cujos pais se casam e permanecem casados têm mais probabilidade de ter no futuro um casamento estável e tendem a esperar o matrimônio para terem filhos.
Os casais de fato, que hoje se costumam apresentar como uma alternativa aceitável ao casamento, simplesmente não possuem os mesmos benefícios do casamento, conclui o relatório.
Viver Juntos
O relatório explicava que os casais não casados, em média, têm um nível inferior de satisfação em sua relação, mais conflitos, mais violência e um menor nível de compromisso. No geral, a falta de benefícios para os casais de fato em comparação com os matrimônios vem do fato de que as pessoas que escolhem viver juntas e tendem a se comprometer menos em um relacionamento para a vida.
O relatório comentava ainda que alguns opinam que a relação entre famílias sólidas e as vantagens que derivam delas é devido a um efeito de seleção, o que significa que apenas pessoas “casáveis” se comprometem com o matrimônio e todos os benefícios se devem ao tipo de pessoa que o escolhe.
O documento respondia que esse argumento não é válido. Em primeiro lugar, ignora o resultado positivo de tomar uma decisão clara e um compromisso, que tem lugar quando nós nos casamos.
Em segundo lugar, o aumento de nascimentos fora do matrimônio é resultado de uma dramática mudança nas últimas décadas, que tem natureza social e não é o resultado de uma espécie de alteração genética que faz com que as pessoas sejam menos “casáveis”.
Casais
Estes dois relatórios não são mais que a última amostra de uma “inundação” de documentação que comprova o quanto o matrimônio é importante para a sociedade. Em outubro de 2009, outra organização do Reino Unido especializada em relacionamentos, One Plus One, publicou um estudo com o nome de When Couples Part: Understanding the Consequences for Adults and Children (Quando os casais rompem: Entendendo as Consequências para Adultos e Crianças).
Após a leitura dos dados da pesquisa, o relatório concluiu que, embora as evidências do impacto das separações matrimoniais sejam muito complexas, “a conclusão predominante é sua associação com as desvantagens de adultos e crianças”.
Essa ligação ainda é forte, apesar do fato de que o divórcio e a separação são difundidos na sociedade de hoje. A pesquisa mostra que os impactos negativos não diminuiram com o passar do tempo , acrescentou o relatório.
“Daí a urgente necessidade de reconhecimento político para que promovam o desenvolvimento familiar e a estabilidade”, concluía.
Crianças
Bento XVI falava recentemente dos benefícios do matrimônio, no dia 8 de fevereiro, aos participantes da assembleia plenária do Pontíficio Conselho para a Família. Fazendo referência à necessidade de proteger as crianças, o Papa comentava: “precisamente a família, fundada no matrimônio entre um homem e uma mulher, é a maior ajuda que se pode dar às crianças”.
“Elas querem ser amadas por uma mãe e um pai que se amam, e necessitam crescer e viver junto com ambos pais, porque as figuras materna e paterna são complementares na educação dos filhos e na construção da sua personalidade e de sua identidade”, acrescentou.
“Portanto, é importante fazer todo o possível para ajudá-las a crescer em uma família unida e estável”, recomendava o Papa.
Seja uma perspectiva sociológica ou religiosa, parece ter sentido apoiar e proteger o casamento.
Fonte: Zenit