Quero partilhar um texto bíblico que toca profundamente o meu coração, no Evangelho de São João 3, 28-30: “Vós mesmos me sois testemunhas de que vos disse: Eu não sou o Cristo, mas fui enviado diante dele. Aquele que tem a esposa é o esposo. O amigo do esposo regozija-se sobremodo com a voz do esposo. Nisso consiste minha alegria, que agora se completa. Importa que Ele cresça e eu diminua”.
Recordo-me que na primeira vez em que li a expressão “amigo do esposo” fiquei, por um longo tempo, refletindo quem seria esse personagem. Até que me deparei com o capítulo 24 do Livro do Gênesis, onde encontrei a resposta. O texto relata uma missão confiada por Abraão ao servo mais antigo de sua casa: Conquistar uma esposa para seu filho Isaac. O servo, obediente ao seu senhor, pega uma porção das riquezas de Abraão e parte para cumprir a sua missão. O texto relata a saga e, ao final, Rebeca se torna esposa de lsaac.
Ao observar a beleza e a riqueza do texto, passei a compará-Io com a missão que desempenhamos como missionários, e eis algumas reflexões:
1. As escolhas de Deus
Abraão não convida um servo qualquer, o texto relata que ele chama o servo mais antigo de sua casa, aquele que administrava todos os seus bens, portanto, aquele servo tinha fidelidade comprovada e, certamente, era alguém a quem Abraão muito amava. Isso também ocorre com os missionários, são homens amados e escolhidos por Deus, têm o coração despojado, são homens fiéis, que trazem em seus corações um profundo amor pela obra de Deus.
O profeta Isaías nos recorda esta verdade: “Vós sois minhas testemunhas, diz o Senhor, e meus sevos que eu escolhi.” (Is 43, 10).
A certeza de ser eleito por Deus impulsiona o coração do missionário, levando-o a superar qualquer dificuldade, pois tem a convicção de que os lábios de Deus pronunciaram seu nome.
2. Capacitados pelo Espírito
O servo de Abraão não parte de mãos vazias, ele leva consigo uma parte das riquezas do seu senhor. Assim, o missionário, ao deixar sua família, trabalho, comunidade, não parte de mãos vazias, mas é dotado de dons e carismas, para que com poder desempenhe sua missão.
A palavra de Deus nos dá esta convicção: “Mas descerá sobre vós o Espírito Santo e vos dará força; e sereis minhas testemunhas em Jerusalém, em toda a Judéia e Samaria e até os confins do mundo.” (At 1, 8).
Sabemos que, sem a unção do Espírito Santo, nenhuma missão será bem sucedida, o missionário é, então, revestido com a força que desce do alto, para que anuncie com coragem, unção e ardor a palavra de Deus.
3. Intimidade com Deus
A missão do servo era nada mais, nada menos que conquistar uma esposa para o filho do seu senhor, e, para convencer a moça, precisava, certamente, conhecer bem as qualidades do moço, conhecê-lo em profundidade.
Um missionário é chamado a viver em intimidade com Jesus, conhecê-Lo, para que, ao falar em seu nome, fale não como alguém que ouviu dizer, mas como alguém que experimentou a presença transformadora de Jesus em sua vida.
O missionário é, portanto, uma pessoa de profunda e contínua vida de oração, pois a oração, na vida cristã, não é uma realidade opcional, é uma necessidade na vida diária do missionário, se ele quer verdadeiramente entrar na intimidade com Deus, relacionar-se com Ele, progredir em seu conhecimento vivencial e deixar-se assim transformar em Cristo, pelo Espírito.
Por isso, o missionário deve cultivar o bom hábito da oração pessoal diária, pois como poderemos testemunhar Jesus, se na verdade não O conhecemos? A oração é o momento propício de conhecermos o Senhor e de nos deixarmos conhecer por Ele.
4. Aceitação da Missão
A tarefa que deve ser desempenhada por um missionário se assemelha à tarefa do amigo do noivo; no caso, conquistar um povo santo para o Senhor.
Para isso, é fundamental assumirmos todas as conseqüências do nosso SIM. Aceitar a missão implica, muitas vezes, renúncia às nossas vontades e interesses pessoais, para que a vontade de Deus se manifeste em nossas vidas. Ao levarmos a termo a missão que nos é confiada, certamente ouviremos o Senhor nos dizer: “Muito bem, servo bom e fiel; já que foste fiel no pouco, Eu te confiarei muito. Vem regozijar-te com teu senhor.” (Mt 25, 21).
5. Novas propostas
Abraão coloca uma exigência para o seu servo, procurar uma esposa para seu filho, não na terra onde habitava, mas na terra de sua parentela.
Certamente, neste ano missionário, o Espírito Santo suscitará novos caminhos para evangelizarmos. Missão de porta em porta, tardes e noites de louvor, grupos de oração em escolas e praças, seminários de vida no Espírito, experiências de oração, etc.
O importante é ficarmos atentos ao Espírito Santo, que continua soprando onde, quando e como quer. E sairmos do óbvio, daquilo que já estamos acostumados a fazer, e procurarmos novas iniciativas de evangelização.
Lázaro Praxedes
Coordenador nacional do Ministério de Pregação
Fonte: Revista Renovação, edição nº 42, p. 11