Por Ronaldo José de Souza

Existe uma forma de raciocinar que parece ser típica da sociedade ocidental: pensar as coisas sempre em termos de causa e efeito. Talvez seja por isso que o conceito de santidade e, consequentemente, a ideia de dignidade diante de Deus que grande parte dos cristãos têm está condicionada a seus merecimentos. Em outras palavras, a pessoa precisa sentir que fez algo para merecer o que recebe de Deus.

É nessa linha de raciocínio que se justifica a pergunta: “O que é necessário fazer para receber o Espírito Santo?”. Já escutei várias pessoas respondendo a essa indagação e, sinceramente, nunca me convenci. Entre as muitas explicações, as chamadas “condições para receber o Espírito Santo” enunciadas em alguns livros me causaram arrepios.

Não deve haver condições, pensava eu. O Espírito Santo é quem suscita na pessoa a disposição para a fé, a caridade, a oração e o arrependimento dos pecados. Nesse sentido, Ele é causa e não efeito de algo. Arrepender-se dos pecados parece ser uma condição circunstancial nos Atos (cf. 2, 38), ou seja, uma exigência para aquele contexto específico em que Pedro foi, indagado. Não me parece algo que possa ser inferido como condição universal.

Mas acabei tendo que reconhecer duas coisas necessárias. A primeira é um contexto de fé, o que não significa que a pessoa envolvida precise ter uma fé inabalável e uma convicção plena de que Deus agirá. Basta um clima suficiente para levar as pessoas a atribuírem ao Espírito Santo os efeitos experimentados. Sem a fé, o que quer que ocorra cairá no vazio religioso, ou seja, será considerado como fruto da iniciativa e boa vontade pessoal ou coisa parecida, mas nunca como uma interferência de Deus.

A segunda condição e, creio eu, a principal delas é pedir. No seu evangelho, Lucas esclarece (cf. 11, 13): “Se vós, pois sendo maus, sabeis das boas coisas a vossos filhos, quanto mais o vosso Pai Celestial dará o Espírito Santo aos que lho pedirem” (grifo meu). Em condições normais, pedir é o que se exige daquele que quer receber o Espírito Santo.

Ainda assim, não se pode descartar que em circunstâncias especiais – mesmo sem fé e sem pedido – Deus, em sua infinita misericórdia, ultrapasse os limites de qualquer concepção teológica a respeito e conceda a sua graça. O mais importante é ser batizado no Espírito e submeter-se a esse – tenho que admitir – banho espiritual.

Talvez esse seja o único banho realmente necessário à salvação. Os outros são, sob esse aspecto, completamente dispensáveis. Aliás, nos evangelhos, só se encontra Jesus na água em três ocasiões. Primeiro, no seu batismo. E, cá pra nós, parece que Ele não entrou no rio de muito bom grado: “Deixa por agora – disse a João – pois convém que cumpramos a justiça completa” (Mt 3, 15). Depois que Jesus foi batizado, saiu logo da água (cf. Mt 3, 16).

A outra vez em que se vê Jesus na água é andando por cima (cf. Mt 14, 25). É quando Pedro, depois de receber autorização para caminhar também sobre o mar, começou a afundar, Jesus não hesitou: “Ah! Homem de pouca fé!” (cf. Mt 14, 31). Antes disso, diante da possibilidade de ser empurrado para dentro do lago de Genesaré, pelo povo que se comprimia em redor dele, Jesus apressou-se em pedir o barco de Pedro e sentar-se livre do perigo (Lc 5, 1-3).

Além dessas três ocasiões, os evangelhos não contam nada mais a respeito de Jesus com a água. Afinal de contas, ele é o novo Moisés, o personagem do Antigo Testamento “retirado das águas” e que, quando voltou ao Egito, transformou tudo quanto foi água em sangue.

Talvez seja bom lembrar, para que não fiquem dúvidas, que quando Jesus foi lavar os pés dos discípulos, cingiu-se antes com uma toalha e mais uma vez impediu que Pedro tomasse banho (cf. Jo 13, 4.10).

Acho que já consegui escandalizar os mais escrupulosamente higiênicos. Evidente que minha aplicação é forçada, mas se é repugnante pensar em alguém que não toma banho, imagine um cristão sem o batismo no Espírito Santo.

Fonte: Revista Renovação, edição nº 38.