Reinaldo B. Reis
“Quando, pois, tocar a trombeta, de qualquer canto em que vós a escuteis,
reuni-vos a nós. Nosso Deuscombaterá por nós.” (Ne 4, 14).
Colocar-se à escuta do Espírito é uma graça profética da qual a Renovação Carismática tem-se servido para ser educada na fidelidade aos projetos que Deus tem no Seu coração para que ela viva seu carisma de modo eficaz e útil a toda a Igreja.
Planejar, atuar, construir, anunciar, sem escutar o Espírito, é pautar em ações carentes de unção, em mero ativismo religioso, que pode ser vistoso e barulhento, mas que certamente logo se mostrará estéril do ponto de vista das intenções de Deus. Para que a labuta dos construtores não seja vã, é preciso que o Senhor construa a casa, edifique a obra (cf. Sl 127, 1a). E a obra de Deus não pode ser feita sem o poder de Deus, que nos é dado – conforme a promessa – no dom do Espírito! (cf. At 1, 4-8)…
Reunido em Fortaleza, de 08 a 12 de outubro de 2009, o Conselho Nacional da RCCBRASIL colocou-se, para o discernimento a respeito das atividades desse ano de 2010, em atitude de abertura e obediente escuta ao Espírito Santo. Desde a oração da manhã do primeiro dia, foi calando forte no coração dos conselheiros que o amor à Palavra de Deus – uma das consequências imediatas da experiência do batismo no Espírito Santo – deveria ser enfatizada em todas as instâncias e atividades da RCC, agora em 2010.
Entre outras moções relativas à Palavra, uma delas (e que foi interpretada como própria para o tema geral do ENCONTRO NACIONAL DE FORMAÇÃO, em Lorena, no mês de janeiro) nos foi dada a partir do Livro de Neemias. Especialmente – mas não exclusivamente – naquilo que nos é narrado nos quatro primeiros capítulos (assim que for possível faça a leitura desses quatro capítulos; depois, com mais tempo, leia tanto o livro de Esdras como o de Neemias, inteiros; eles serão importantes para a caminhada do povo da RCC, neste ano). Por todos os demais momentos da reunião do Conselho, Deus foi ampliando o nosso entendimento acerca da aplicação daquelas palavras à vida prática da Renovação Carismática para esses tempos que nos são dados a viver no “aqui e agora” de nossa história. E, por certo, muito ainda vai Ele nos revelar e direcionar…
RECONSTRUÇÃO DOS MUROS E RESTAURAÇÃO DO POVO – Neemias, copeiro do rei Artaxerxes (enteado de Ester), da Pérsia, obtém dele – depois de orar e renovar sua fidelidade à aliança com Deus – permissão para voltar a Jerusalém e trabalhar pelo livramento do abatimento em que se encontra o seu povo. Convoca e desafia os seus compatriotas a se levantarem e a reconstruírem os muros caídos de Jerusalém. Neemias é um leigo dedicado, de coração reto, que tem a visão e as prioridades ordenadas e preocupadas em promover a obra de Deus. Sua vida é caracterizada pela oração e pela dependência de Deus – a quem procura dar sempre todo o crédito e glória – alguém capaz de liderar, encorajar e repreender no momento certo. Em tudo usa a fórmula oração e ação!
Perguntávamos nós, na reunião: “O Senhor tem nos motivado e desafiado a construirmos a nossa casa, a nossa Sede Nacional, e tem mesmo até confirmado isso com sinais bastante concretos, ultimamente (o terreno que nos foi ofertado na cidade de Canas, no Vale do Paraíba, por exemplo). Onde se encaixa essa moção de reconstrução, então?”
Avançando na leitura de Neemias, fomos percebendo que, juntamente com a reconstrução das muralhas, Neemias – apoiado fortemente pelo ministério do sacerdote Esdras – também promoveria aquilo do que a reconstrução do muro era apenas um sinal, uma prefiguração: a restauração espiritual do povo!
Jerusalém, centro espiritual e político de Judá, mal podia se considerar uma cidade, sem muros. Enquanto Neemias se ocupa da reconstrução física, política e geográfica de Judá, Esdras lida com sua restauração espiritual. Trabalham juntos para recobrar o ânimo do povo, edificando-o moral e religiosamente, a fim de que a restauração fosse completa.
“LEVANTEMO-NOS, PONHAMOS MÃOS À OBRA” (cf. Ne 2, 18, Bíblia de Jerusalém) – Desde que se organizou para proteger o seu carisma e preservar a sua identidade, a RCC – especialmente em nível nacional – tem mantido o seu Escritório ativo e disponível. Mas sempre de modo um tanto quanto itinerante, nômade, “na casa dos outros”… Mãe, “árvore-tronco” de tantos outros frutos, sente ela hoje – enquanto Movimento Eclesial vocacionado a promover a comunhão e a unidade entre todas as expressões que dela brotaram –, a necessidade de ser contemplada com sua sede própria, com seu espaço onde uma equipe administrativa estável cuide de seus trâmites, um centro de capacitação para lideranças que irradie pelo Brasil a Cultura de Pentecostes, um centro de custódia e pesquisas do seu patrimônio histórico, e – por que não? – um “Santuário Elena Guerra” que promova a espiritualidade de Pentecostes através do apostolado da efusão do Espírito Santo, num jeito bem católico de ser. Um espaço, enfim, que ajude o Movimento a reafirmar progressivamente sua identidade, seu carisma, seu papel na Igreja e no mundo do terceiro milênio…
Esgota-se nessa obra o que Deus quer para a RCC? Obviamente que não!…De fato, como aquela obra junto à muralha de Jerusalém, esta se apresenta para nós como elemento oportuno de arregimentação das forças vivas da Renovação para, “reunidos pela Palavra” (parafraseando a Neemias, com sua trombeta), permitir que Ele restaure em nós, povo marcado pela experiência de Pentecostes, todas as brechas das nossas muralhas, que tem enfraquecido o senso de nossa identidade, espalham o desânimo em nossos corações, relativizam nosso protagonismo na vivência do carisma que nos é próprio, emperram nossos passos e enlanguescem nossa coragem na combatividade profética, na militância apostólica, na valentia missionária… Unidos,“nosso Deus combaterá por nós!”, (cf. Ne 4, 14). E assim como a reconstrução das muralhas de Jerusalém em tempo inesperado arrefeceu o ânimo dos que eram contra porque “reconheceram que fora por intervenção de nosso Deus que se concretizou essa obra” (cf. Ne 6, 16), permitamos também nós, a partir de agora, que o Senhor mesmo restaure os nossos sonhos, o nosso amor à salvação, a nossa visão, livrando-nos de toda miopia espiritual… Que o Senhor retire do nosso horizonte o medo do novo, que paralisa nossa ação e entrava nossos projetos… Que Ele restaure em cada um dos que se empenharem nessa obra o amor à Palavra, à prática da oração pessoal, à vida fraterna e celebrativa, preenchendo as brechas da desunião que nos separam uns dos outros, que nos tornam presas fáceis aos ataques dos inimigos do Reino… Que Ele mantenha sempre os nossos pés no chão, mas não nos prive de tocar os céus com nossos sonhos e visões, com nossa audácia e nossa esperança, com nossa fragilidade, mas com a força do Seu Espírito… Que o Senhor dos Exércitos restaure nossa disposição de lutar contra o pecado, restaure nossa vocação à santidade, nossa cidadania de filhos e filhas resgatados da morte ao preço do sangue do Cordeiro… Que Ele repare a brecha da crítica ácida, gratuita, infundada e preconceituosa, do profetismo pessimista… Que, pela restauração de nossas brechas – pessoais e comunitárias –, nosso “templo” seja (re)construído, nossa nação soerguida, a aliança com o Senhor renovada, o povo restaurado no seu ânimo de servir a Deus, e – ensinados a buscar uma contínua repleção do Espírito, (cf. Ef 5, 18b) – um grande aviamento espiritual tenha lugar em nossa pátria; e que o mundo possa ver, em nossa identidade solidificada, rosto, memória e sinal de Pentecostes – sinal verde para a instauração da sonhada civilização do amor…