Neste espaço, sempre tratamos de assuntos que nos levam a refletir com mais intensidade a vida da Renovação Carismática Católica. Por esse motivo, neste encarte, abordaremos pontos que nos ajudam a aprofundar a vontade de Deus em nossa vida. Durante esses últimos anos, seguimos, como Movimento, a escuta profética dos passos do Senhor para nossa ação missionária na vida da Igreja. Em 2009, a temática foi “Jesus é o Senhor”. Essa moção nos conduziu a proclamar que Ele é Senhor de nossas vidas e de todo nosso apostolado. Atualizamos a adesão a Jesus Cristo como nosso único e verdadeiro Senhor, o que nos ajudou em todas as atividades de evangelização daquele ano. Sentimos um fortalecimento em nossa vida espiritual e conseguimos vislumbrar melhor o que significaria para nós nestes tempos viver a reconstrução.
No ano seguinte, como consequência da proclamação de seu Senhorio em nossa vida, sentimos a necessidade de renovar nosso compromisso com a missão de dar ao mundo uma grande notícia, ou melhor, a “Boa Notícia”. Por isso, no ano de 2010, nos unimos em torno da Palavra de Deus para “anunciar a Boa Notícia” e “unidos, reconstruir as muralhas”. Foi um tempo de estreitar ainda mais nossos laços de amor com a Palavra de Deus, de retomar, como Amigos de Deus, a leitura orante dos textos bíblicos, de dialogar com Deus através da Palavra. Assim, fomos direcionados, com o livro de Neemias, a repensar e planejar nossas ações enquanto líderes do Movimento: nasce, dessa forma, o Planejamento Estratégico.
Quanta alegria em anunciar boas notícias! Alegria aos anunciadores, esperança aos ouvintes! Como um sinal de encorajamento, toda Igreja naquele ano foi presenteada com a Exortação Apostólica Pós-Sinodal Verbum Domini. Isso foi para nós, da Renovação Carismática Católica, como uma confirmação de nossa prática evangelizadora.
Realmente, Deus queria nos conduzir a uma missão ainda maior e fazer-nos perceber que Ele estava a direcionar nossos trabalhos. Chegamos em 2011 e “Por causa da Palavra do Senhor, lançamos as redes”. Quantas atividades missionárias foram realizadas no decorrer daquele ano, e quantos irmãos foram alcançados pelo Anúncio. O Senhor nos levou a lançar redes, mesmos em águas que, aos nossos olhos, já não ofereciam mais condições de pescaria. Pela obediência à Sua voz, nos encontramos com redes cheias de vidas. Foi um ano de encorajamento. Deus nos revelava que nossa vida é o maior instrumento de missão. É com a vida que obedecemos a Sua voz, e é com o nosso testemunho que vamos alcançar aqueles irmãos que A desconhecem. Pelo amor a Jesus Cristo, obedecemos, e, também, somos impelidos a ir ao encontro daqueles que não conhecem o Seu Amor.
Experimentamos, no decorrer desse ano (2011), a riqueza da missão. Vimos que o Grupo que se lança em missão é presenteado com os frutos do encorajamento, da alegria, da ousadia, da resposta generosa de Deus, que o faz crescer não apenas em número, mas em graças espirituais. E o povo que é alcançado por este anúncio tem a oportunidade de conhecer o amor de Deus e se entregar a Ele, tendo vidas restauradas e transformadas.
É assim que a moção da reconstrução vai se realizando por toda a vida da Renovação Carismática Católica.
Estamos em 2012, e nossa missão vai crescendo! Agora é tempo de cuidar daqueles que o Senhor trouxe até o Seu aprisco. E o interessante que o próprio Jesus nos mostra que ainda há ovelhas que não são deste aprisco. Entendemos, então, que nossa missão está apenas começando. Nos demos conta que estamos vivendo um momento de nova unção em nosso discipulado e apostolado. Estamos aprendendo com o modelo de Jesus a apascentar as Suas ovelhas, pois Ele mesmo nos pede: “Apascenta as Minhas ovelhas”.
Paremos para contemplar o que Deus tem feito em nosso meio nesses últimos anos: hoje a RCCBRASIL esta construindo uma Sede Nacional; temos um Escritório Nacional que cresceu não apenas em número de funcionários, mas em demandas missionárias, na qualidade da comunicação e no cuidado da vida do Movimento; temos quatro casas de missão no Brasil e, em breve, estaremos enviando missionários para outro continente; mobilizamos o país em oração; respondendo a necessidade de termos servos mais bem preparados, investimos na formação, através do Instituto de Educação a Distância e da Escola Nacional de Formação de Lideres e Missionários. Enfim, percebemos que Deus tem falado conosco de maneira clara e profética. Também é visível que todos os que seguem esse direcionamento profético estão alcançando um grau de maturidade eclesial.
Conforme aprofundamos nossa reflexão, vamos entendendo que estamos vivendo um chamado de Deus. E, a partir dessa linha de pensamento, iniciamos neste encarte um olhar sobre este tema: Vocação. Nesta edição, abordaremos três pontos: o que entendemos por vocação, a vocação do leigo na Igreja e vocação e a vida no Espírito.
I – O que entendemos por vocação
A palavra vocação vem do latim “vocare”, que entendemos por “chamado”. Como cristãos, compreendemos ser vocação um chamado de Deus. Deus chama, mas espera a resposta. É Deus quem chama e é o homem quem responde ao chamado.
É importante perceber que há diferença entre vocação e profissão. Quando falamos em vocação estamos nos referindo a um chamado de Deus que é para sempre, em cada instante do dia e da vida. Não se pensa em construir patrimônio ou remunerações: é uma vida apoiada na providencia de Deus, vive-se o “ser” de uma vocação. Quanto à profissão, podemos até dizer que se trabalha por aptidão ou onde se encontra a remuneração necessária.
Diz a Palavra de Deus, em 1Ts 4,3: “Esta é a vontade de Deus: a vossa santificação”. Por meio desse versículo, podemos compreender que a santidade é a nossa vocação. A Resposta a esse chamado que Deus nos faz à santidade só é possível através do amor. Toda vocação só é realizável pelo amor.
II – Vocação dos Leigos na Igreja
A Igreja nos ensina na Exortação Apostólica Pós-Sinodal Christifideles Laici que há variedade das vocações. “Segundo a parábola evangélica, o ‘proprietário’ chama os trabalhadores para a sua vinha nas várias horas do dia: alguns, ao amanhecer; outros, às nove da manhã; outros ainda, por volta do meio-dia e das três da tarde; os últimos, cerca das cinco (cf. Mt 20, 1ss.). Ao comentar esta página do Evangelho, São Gregório Magno interpreta as várias horas da chamada relacionando-as com as idades da vida: ‘É possível aplicar a diversidade das horas — escreve ele — às diversas idades do homem. O amanhecer pode certamente representar, nesta nossa interpretação, a infância. A hora tércia, por sua vez, pode entender-se como sendo a adolescência: o sol dirige-se para o alto do céu, isso é, cresce o ardor da idade. A hora sexta é a juventude: o sol está como que no zênite do céu, isso é, nesta idade reforça-se a plenitude do vigor. A idade adulta representa a hora nona, porque, como o sol declina do seu alto, assim esta idade começa a perder o ardor da juventude. A hora undécima é a idade daqueles que se encontram muito avançados nos anos… Os trabalhadores são, portanto, chamados para a vinha em horas diferentes, como a querer significar que à santidade de vida um é chamado durante a infância, outro na juventude, outro quando adulto e outro na idade mais avançada’” (CL 45). Em qualquer momento de nossa vida, Deus nos chama; a qualquer hora podemos ouvir esse chamamento; e para cada época há uma missão diferente. Portanto, nunca podemos esquecer que Deus chama e que aguarda a resposta do homem.
O Papa João Paulo II continua, dizendo que a Igreja deve dar hoje um grande passo, deve entrar numa nova etapa histórica do seu dinamismo missionário: “Para evangelizar o mundo são necessários, antes de mais, os evangelizadores. Por isso, todos, a começar pelas famílias cristãs, devem sentir a responsabilidade de favorecer o despertar e o amadurecer de vocações especificamente missionárias, tanto sacerdotais e religiosas como laicais, recorrendo a todos os meios oportunos e sem nunca esquecer o meio privilegiado da oração, conforme a própria palavra do Senhor Jesus: ‘A seara é grande, mas os trabalhadores são poucos. Rezai, pois ao dono da seara que mande trabalhadores para a sua seara!’” (CL 35).
É com alegria que olhamos para este texto escrito por João Paulo II, pois, nos tempos atuais, (a RCCBRASIL vem vivendo seu chamado de ser na Igreja rosto e memória de Pentecostes, um Movimento que se preocupa em ajudar os que se sentem chamados a uma vocação específica a dar uma resposta generosa a Deus, colocando suas vidas inteiramente a serviço da evangelização. E, neste serviço, a RCC tem contribuído para promover a dignidade humana.
Temos visto a missão da RCCBRASIL no Marajó, em Canas, em Pelotas, contribuindo para que os filhos de Deus sintam a dignidade desta condição. Assim, confirmamos o que ensina a Christifideles Laici: “A dignidade da pessoa aparece em todo o seu fulgor, quando se consideram a sua origem e o seu destino: criado por Deus à Sua imagem e semelhança e remido pelo sangue preciosíssimo de Cristo, o homem é chamado a tornar-se ‘filho no Filho’ e templo vivo do Espírito, e tem por destino a vida eterna da comunhão beatífica com Deus” (CL 37).
III – Vocação e a Vida no Espírito
Firmamos nossos pés na caminhada com Cristo a partir de uma experiência íntima com o Espírito Santo. A partir desse encontro profundo, nos deixamos ser conduzidos por Ele e aos poucos vamos sentindo uma transformação em nosso interior. Isso resulta no que chamamos de vida no Espírito.
A vida no Espírito consiste em:
viver sob o senhorio de Jesus;
viver a santidade;
viver a missão;
viver na comunidade fraterna.
É o Espírito Santo quem nos impulsiona a assumir que Jesus Cristo é o Senhor de nossas vidas, que nos conduz a uma atitude de conversão, gerando em nós vida de santidade. Ele nos leva a assumir o discipulado e o apostolado, e a viver em unidade com os irmãos.
Alguns sinais vão marcando nossa vida como:
• Desejar conhecer mais quem é Jesus Cristo;
• Viver o cristianismo de uma nova maneira;
• Buscar o conhecimento da Doutrina da Igreja e das Escrituras;
• Ter uma vida de oração pessoal e comunitária;
• Sentir a necessidade de louvar a Deus pelo que Ele é, pelo que Ele faz e por tudo que Ele pode fazer;
• Passar a servir a Deus e ao próximo;
• Nossa vida se irradia de alegria e contagia a comunidade;
• Sentir o Senhor libertando do medo, das angústias, dos ressentimentos, das emoções descontroladas e muitas vezes aprisionadas;
• Ter a coragem de olhar para nós mesmos e assumir que temos erros, necessidades, fraquezas, e buscar em Deus nossa mudança.
Uma das coisas mais ricas que descobrimos na vida no Espírito é a vida fraterna, a comunidade de irmãos. Não existe como viver no Espírito individualmente. É através dessa experiência com o Espírito Santo que nos sentimos o Corpo de Cristo.
A vida fraterna ou a comunidade fraterna é um sinal profético daquilo que o papa João Paulo II falou a respeito de nossa identidade e espiritualidade: a sonhada “Civilização do Amor”.
IV – Conclusão
Os sinais acima citados nos levam a perceber que temos uma vocação, a vocação da vida no Espírito. Vamos caminhando, de forma que o Senhor vá abrindo o nosso coração à Sua vontade. Quanto mais realizamos a vontade de Deus, mais vamos nos aproximar da felicidade, porque vocação acertada é vida feliz.
No próximo encarte, vamos apresentar os tipos de vocação e passaremos alguns pontos sobre o discernimento vocacional.