A Comissão Episcopal Pastoral para Liturgia da CNBB promoveu a 27ª Semana Nacional de Liturgia, de 14 a 18 de outubro. O evento ocorreu para celebrar os 50 anos da publicação da constituição Sacrosanctum Concilium, do Concílio Vaticano II.
Mas, diante dessa celebração, podem vir as dúvidas: o que é Liturgia? Qual sua finalidade? Para que ela serve? Como celebrá-la?
O Instituto de Educação a Distância, IEAD RCCBRASIL, disponibilizou do material estudado no curso Introdução à Liturgia, o capítulo no qual o professor Pe. João Paulo Veloso aborda alguns dos fundamentos da Liturgia. Abaixo o artigo:
Fundamentos da Liturgia
Para este artigo, teremos como base o Concílio Vaticano II, por meio da Constituição Sacrosanctum Concilium (SC), sobre a Sagrada Liturgia. Logo na introdução da SC, no artigo 2, o Concílio nos diz para que serve a Liturgia:
“…Dia após dia, a Liturgia vai nos transformando interiormente em templos santos do Senhor e morada espiritual de Deus, até a plenitude de Cristo, de tal forma que nos dá a força necessária para pregar Cristo e mostrar ao mundo o que é a Igreja, como a reunião de todos os filhos de Deus ainda dispersos, até que se tornem um só rebanho, sob um único pastor.” (Sacrosanctum Concilium, art. 2º)
Assim, percebe-se que o principal objetivo da Liturgia é preparar as pessoas para a comunhão celestial. Ao celebrá-la e participar dos sacramentos, estamos antecipando o gozo celeste. Aqui, na Terra, já se participa da alegria plena que se terá no Céu.
A Liturgia, segundo o Concílio Vaticano II, também nos dá forças para caminhar em Cristo, para anunciar o Reino de Cristo e, assim, manifestar ao mundo o grande objetivo da Igreja, que é o de reunir toda a humanidade sob um único rebanho, sob um único pastor.
A Natureza da Liturgia
A Liturgia parte diretamente do coração do Pai. No Antigo Testamento, percebem-se os diversos momentos em que Deus apresenta ao seu povo elementos de culto, como a Tenda do Encontro e o Templo de Jerusalém. Nas prefigurações do verdadeiro culto, Deus mostrava o seu desejo de aproximar o homem de Deus. Não por um ato humano, mas por um ato divino. É o próprio Deus que se aproxima do homem, quando o homem eleva o seu coração no culto litúrgico. Assim, temos a plenitude do culto em Jesus Cristo.
Jesus Cristo fundou a nossa religião, apresentou os seus elementos de salvação e quis que a Liturgia da Igreja fosse a continuação dessa obra salvífica. Ela é continuada na Igreja, só tem esse valor de salvação porque Cristo está presente na Liturgia.
A Presença de Cristo na Liturgia
Primeiramente, Cristo está presente na pessoa do Ministro Ordenado no ato em que celebra os sacramentos. O sacerdote age em in persona Christi, é o próprio Cristo que age através daquele sacerdote. Então, a Liturgia é uma obra de Cristo.
O segundo lugar na Liturgia em que se encontra a presença de Cristo é nas espécies eucarísticas do Corpo e do Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo. Jesus, verdadeiramente, está presente em Corpo, Sangue, Alma e Divindade na Sagrada Eucaristia.
O terceiro lugar é na proclamação da Palavra de Deus. Quando a Palavra de Deus é proclamada, é o próprio Cristo quem está falando. Por último, a presença de Cristo se torna real nos Salmos, nos Cânticos, na Oração do Povo de Deus, na Oração Comum da Igreja, onde as pessoas se reúnem para louvar e adorar ao Senhor. A respeito disso, o Sacrosanctum Concilium, no artigo 7, afirma o seguinte:
“Com razão se considera a Liturgia como o exercício da função sacerdotal de Cristo. Nela, os sinais sensíveis significam e, cada um à sua maneira, realizam a santificação dos homens; nela, o Corpo Místico de Jesus Cristo – cabeça e membros – presta a Deus o culto público integral.” (Sacrosanctum Concilium, art. 7º)
Ou seja, a Liturgia da Igreja é um culto público à cabeça do corpo. Quem é a cabeça do corpo? É o próprio Jesus Cristo. Nada na Igreja é privado e secreto. Todo o culto litúrgico é público, aberto para todas as classes sociais, todos os tipos de pessoas, homens, mulheres, pobres, ricos, etc. O culto público da Igreja é para todos aqueles de boa vontade que são batizados e pertencem a esse corpo místico de Jesus Cristo.
A Participação na Liturgia
As pessoas que não são batizadas podem assistir aos sacramentos, mas como não são batizadas, não podem recebê-los. O batismo é a porta de entrada para todos os demais sacramentos. Dessa forma, quem não é batizado pode participar da Liturgia da Igreja, acompanhando com as suas orações, mas não pode se aproximar da eucaristia, não pode receber o sacramento da confissão, não pode receber a unção dos enfermos e, também, não pode contrair o matrimônio.
Para isso, é necessário que se peça o batismo e então se terá acesso a todos os sacramentos da Liturgia da Igreja.
Ainda, a Liturgia da Igreja antecipa aquilo que vai se viver no céu. Participar da Liturgia na Terra é estar em comunhão com os anjos e com os santos que já celebram um grande louvor de Deus, ininterruptamente. Na Santa Missa, antes de fazermos a grande aclamação do Santo, o sacerdote fala da nossa união com a multidão dos anjos e dos santos.
Então, em cada sacramento, não se está celebrando só com a parte visível da Igreja, mas com a parte invisível também, com a Igreja Triunfante, com a Igreja que está no Céu.
A Liturgia e a Missão
A Liturgia tem a força de nos preparar para a missão. No artigo 10 da SC, o Concílio Vaticano II afirma que:
“A liturgia é o cume para o qual tende a ação da Igreja e, ao mesmo tempo, é a fonte donde emana toda a sua força. Os trabalhos apostólicos visam a que todos como filhos de Deus, pela fé e pelo batismo, se reúnam para louvar a Deus na Igreja, participar do sacrifício e da ceia do Senhor”.
A Liturgia, portanto, é de onde emana toda a força da Igreja. É onde começa e termina o trabalho apostólico.
Participa-se da Liturgia para se sair em missão e se retorna à Liturgia quando se volta da missão, junto com os frutos colhidos, com os peixes pescados para o Senhor.
A Liturgia e a Oração
A Liturgia não é a única forma de oração na Igreja, a SC também afirma que a oração pessoal tem valor fundamental para preparar os corações para participar da Liturgia. É muito importante ter um momento sozinho com Deus. Assim, a qualidade da oração pessoal vai se refletir no grau de participação da oração comunitária, que é a Liturgia.
Ainda no sentido da oração pessoal, o Concílio recomenda vivamente que as práticas devocionais não sejam perdidas: rezar o terço, fazer jejum, novenas aos Santos são práticas espirituais antiquíssimas da Tradição da Igreja que não devem ser colocadas de lado. Pelo contrário, essas práticas devocionais nos ajudam a participar melhor da Eucaristia, dos sacramentos.
No entanto, elas devem estar em consonância com o Ano Litúrgico. Por exemplo, o Tempo Quaresmal é um tempo propício para se rezar a Via Sacra; mas no Tempo Pascal, essa oração não é tão adequada, porque na Páscoa se celebra a ressurreição de Cristo e não a sua morte.
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