Nesta quarta-feira,25, papa Francisco deu continuidade à sequência de catequese sobre a Igreja, durante Audiência Geral, na Praça de São Pedro, em Roma. Leia na íntegra as palavras do Santo Padre.
A Igreja: 2. Pertencente ao povo de Deus
Queridos irmãos e irmãs, bom dia. Hoje, há um grupo de peregrinos coligados conosco na sala Paulo VI, são os peregrinos doentes. Porque, com este tempo, entre o calor e a possibilidade de chuva, era mais prudente que eles permanecessem lá. Mas eles estão coligados a nós através de grandes telões. E por isso, estamos unidos na mesma audiência. E todos nós, especialmente hoje, vamos orar por eles, por suas doenças. Obrigado.
Na primeira catequese sobre a Igreja, quarta-feira passada, partimos da iniciativa de Deus, que quer formar um povo que leve Sua bênção a todos os povos da terra. Começa com Abraão e depois, com muita paciência – e Deus, tem muita paciência! -, prepara este povo na Antiga Aliança, até que, em Jesus Cristo, o constitui como sinal e instrumento da união dos homens com Deus e uns com os outros (cf. Concílio Ecumênico Vaticano II, Constituição dogmática Lumen gentium, 1). Hoje queremos nos deter sobre a importância para o cristão, de pertencer a este povo. Vamos falar sobre a pertença à Igreja.
1. Nós não estamos isolados e não somos cristãos com título individual, cada por conta própria, não, a nossa identidade cristã é de pertença! Somos cristãos porque pertencemos à Igreja. É como um sobrenome: se o nome é “Eu sou um cristão”, o sobrenome é “Eu pertenço à Igreja”. É muito bonito ver que esta pertença também é expressa no nome que Deus dá a si mesmo. Respondendo a Moisés, no maravilhoso episódio da “sarça ardente” (cf. Ex 3,15), Ele se define como o Deus dos pais. Não diz: Eu sou o Onipotente…, não, eu sou o Deus de Abraão, Deus de Isaac, Deus de Jacó. Desta forma, Ele se manifesta como o Deus que fez uma aliança com nossos pais e mantém-se fiel à sua aliança, e nos convida a entrar nesta relação que nos precede. Esta relação de Deus com o seu povo nos precede, desde aquele tempo.
2. Neste sentido, o pensamento vai, em primeiro lugar, com gratidão, para com aqueles que nos precederam e que nos acolheram na Igreja. Ninguém se torna cristão sozinho! Isso é claro! Ninguém se torna um cristão por si só. Não se faz cristãos em laboratório. O cristão é parte de um povo que vem de longe. O cristão pertence a um povo que se chama Igreja e essa Igreja o faz cristão, no dia do batismo, e, em seguida, no curso de catequese, e assim por diante. Mas ninguém, ninguém se torna um cristão por si só. Se acreditamos, se sabemos orar, se conhecemos o Senhor e podemos ouvir a sua Palavra, se o sentimos perto e o reconhecemos em nossos irmãos, é porque tantos outros, antes de nós, viveram a fé e então, transmitiram a nós. A fé nós recebemos de nossos pais, de nossos antepassados, e eles nos ensinaram. Se pensarmos sobre isso, quantos rostos queridos passariam diante dos olhos, e passam neste momento: pode ser o rosto de nossos pais que pediram para nós o Batismo; de nossos avós ou de qualquer familiar que nos ensinou como fazer o sinal da cruz e recitar as primeiras orações. Lembro-me sempre da face da freira que me ensinava catecismo, sempre vem à mente – ela está no céu, com certeza, porque é uma santa mulher -, mas sempre vou me lembrar de dar graças a Deus por esta religiosa. Ou o rosto do pároco, de outro padre, ou de uma religiosa, catequista, que nos transmitiu o conteúdo da fé e nos fez crescer como cristãos… Bem, esta é a Igreja: uma grande família, na qual se é acolhido e se aprende a viver como crentes e discípulos do Senhor Jesus.
3. Esse caminho, podemos viver, não somente graças a outras pessoas, mas junto com outras pessoas. Na Igreja não existe “fazer sozinho”, não existem jogadores como “batedores livres”. Quantas vezes o Papa Bento XVI descreveu a Igreja como um “nós” eclesial! Às vezes você pode ouvir alguém dizer: “Eu creio em Deus, creio em Jesus, mas a Igreja não me interessa…”. Quantas vezes já ouvimos isso? E isso é errado. Há aqueles que acreditam que você pode ter um relacionamento pessoal, direto, imediato com Jesus Cristo, fora da comunhão e da mediação da Igreja. São tentações perigosas e prejudiciais. São, nas palavras do grande Papa Paulo VI, dicotomias absurdas. É verdade que caminhar juntos é um desafio e, às vezes, pode ser cansativo: pode acontecer que algum irmão ou irmã nos cause algum problema, ou façam escândalo… Mas o Senhor confiou a sua mensagem de salvação para os seres humanos, a todos nós, a testemunhas; e em nossos irmãos e irmãs, com seus dons e os seus limites, que Ele vem a nós e torna-se conhecido. E isso significa pertencer à Igreja. Lembre-se bem: ser um cristão significa pertencer à Igreja. O nome é “cristão”, o sobrenome, “pertença à Igreja”.
Queridos amigos, peçamos ao Senhor, por intercessão da Virgem Maria, Mãe da Igreja, a graça de nunca cair na tentação de pensar que podemos deixar o outro de lado, que podemos deixar a Igreja de lado, que podemos nos salvar sozinhos, de ser cristão de laboratório. Pelo contrário, você não pode amar a Deus sem amar os irmãos e irmãs, você não pode amar a Deus fora da Igreja; você não pode estar em comunhão com Deus, sem estar em comunhão com a Igreja, e não podemos ser bons cristãos, senão com todos aqueles que procuram seguir o Senhor Jesus, como um só povo, um só corpo, e esta é a Igreja. Obrigado.
Fonte: Boletim Santa Sé