“Jesus, tendo ressuscitado na madrugada do primeiro dia depois do sábado, apareceu primeiro a Maria Madalena, de quem tinha expulsado sete demônios. Ela foi anunciar o fato aos seguidores de Jesus, que estavam de luto e choravam. Quando ouviram que ele estava vivo e tinha sido visto por ela, não acreditaram. Depois disso, Jesus apareceu a dois deles, sob outra aparência, enquanto estavam indo para o campo. Eles contaram aos outros. Também não acreditaram nesses dois. Por fim, Jesus apareceu aos onze discípulos, enquanto estavam comendo. Ele os criticou pela falta de fé e pela dureza de coração, porque não tinham acreditado naqueles que o tinham visto ressuscitado” (Mc 16, 9-14). Pouco depois, “foi elevado ao céu e sentou-se à direita de Deus. Os discípulos então saíram e pregaram por toda parte” (Mc 16, 19-20). Dali para frente, até que volte o Senhor, a força do Espírito Santo que logo lhes foi concedida conduz a Igreja ao anúncio da Boa Nova do Evangelho. Este é o tempo do Espírito e da esperança! Não há limites para o zelo missionário da Igreja, que deve alcançar todos os homens e mulheres de todos os povos, raças e línguas.
O que a Igreja e os cristãos devem levar em sua “mala de viagem” pelas estradas do mundo, a fim de dar a conhecer o nome de Jesus, enquanto esperamos a sua vinda? Em primeiro lugar, a experiência pessoal e comunitária do encontro com Jesus Cristo, de quem pode repetir, com Maria Madalena, que foi anunciar aos discípulos: “Eu vi o Senhor”, e contou o que ele lhe tinha dito (Cf. Jo 20, 18). Mais do que muitas ideias, cabe-nos levar às outras pessoas o relato do que aconteceu conosco, na experiência concreta do encontro com o Ressuscitado, porque não dá para discutir o que é vivido!
Foi-nos dada e riqueza dos Sacramentos da Igreja, a partir do batismo! Na estrada, a força para não desanimar está na Eucaristia (Cf. 1Rs 19, 8), Pão do caminheiro. A unção do Espírito, recebida na Crisma, sustenta o ardor de quem se faz apóstolo da Boa Nova. Quando caímos, a misericórdia do Senhor se faz presente na graça da Reconciliação. A vida se faz serviço, no Matrimônio ou na Ordem. Na doença, a união com o mistério da Morte e da Ressurreição do Senhor se encontra no Sacramento da Unção dos Enfermos.
No alforje do cristão, há que se levar uma intensa vida de oração, com a linguagem do conhecido peregrino russo: “Pela graça de Deus sou cristão, mas pelas minhas ações sou um grande pecador. Fui à igreja para ali fazer minhas orações durante a liturgia. Estava sendo lida a primeira Epístola de S. Paulo aos Tessalonicenses e, entre outras palavras, ouvi estas: ‘Orai incessantemente’ (1Ts 5, 17). Foi esse texto que se inculcou em minha mente, e comecei a pensar como seria possível rezar incessantemente, já que um homem tem de se preocupar também com outras coisas a fim de ganhar a vida”. O camponês foi de igreja em igreja, para ouvir sermões, mas não encontrou a resposta que queria. Finalmente, encontrou um santo homem de Deus que lhe disse: “A oração interior incessante é um anseio contínuo do espírito humano por Deus. Para sermos bem-sucedidos nesse exercício consolador, precisamos suplicar com mais frequência a Deus que nos ensine a rezar sem cessar. Rezar mais e rezar com mais fervor. É a própria oração que lhe revela como rezá-la sem cessar; mas leva algum tempo”. Então, o santo ensinou ao camponês a Oração de Jesus: “Senhor Jesus Cristo, tem misericórdia de mim”. Enquanto viajava como peregrino pela Rússia, o camponês passou a repetir essa oração com os lábios. Até considerava a oração de Jesus sua companheira verdadeira. E, então, um dia, teve a sensação de que a oração passou sozinha de seus lábios para seu coração. Ele diz: “Parecia que, pulsando normalmente, meu coração começava a dizer as palavras da oração a cada batida. Desisti de dizer a oração com os lábios. Passei simplesmente a ouvir o que meu coração dizia” (Cf. “A Espiritualidade do Deserto e o Ministério Contemporâneo – O Caminho do Coração” – por Henri J. M. Nouwen, Ed. Loyola, 2000).
A oração do peregrino busca sua fonte na Palavra de Deus, lida, meditada, rezada, acolhida na Liturgia e vivida. Cada cristão cultive a intimidade com a Palavra de Deus, crie o saudável hábito de lê-la diariamente. Muitas pessoas dedicam o tempo necessário a um capítulo da Escritura por dia. Ler, meditar, orar, contemplar, viver! É o roteiro diário do cristão, pelo que não pode faltar em sua casa a Bíblia pessoal, que acompanhe todos os passos dados.
Assim, sustentados, os cristãos assumem os ideais do Reino de Deus. Não se acomodam diante dos obstáculos, mas os transformam em estímulos, plataformas de lançamento para irem adiante, olhando para frente e para o alto. Nivelam a sua vida pelas coisas do alto (Cf. Cl 3, 1-2), batalhando por valores consistentes, com a coragem de caminhar contra a correnteza. Não cabe em sua vida adaptar-se para lucrar eventuais facilidades no trato com a mentalidade do tempo, ainda que devam estar prontos a servir e amar a todos, sem distinção. Com firmeza e equilíbrio, atraiam a todos pelo bem e não pela mediocridade.
Há uma forma dos cristãos se apresentarem, manifestando a originalidade de sua vida, enquanto caminham neste mundo e de se fortalecerem mutuamente nas dificuldades: “Nós, que somos do dia, estejamos sóbrios e revestidos com a couraça da fé e do amor, tendo a esperança da salvação como capacete. Deus não nos destinou para a ira, mas para alcançarmos a salvação por nosso Senhor Jesus Cristo. Ele morreu por nós, para que, acordados ou dormindo, vivamos unidos a ele. Por isso, confortai-vos e edificai-vos uns aos outros, como, aliás, já fazeis. Pedimos-vos, irmãos, que tenhais toda a consideração para com aqueles que se afadigam entre vós e, no Senhor, vos presidem e admoestam. Cercai-os de estima e de extremado amor, em razão do seu trabalho. Conservai a paz entre vós” (1 Ts 5, 8-12).
Quando alguém encontra o Senhor Jesus Cristo e a ele adere, muda seu modo de falar e de se expressar, pois nascem de seu coração palavras correspondentes à graça que lhe foi dada: “Agora, porém, rejeitai tudo isto: ira, furor, malvadeza, ultrajes, e não saia de vossa boca nenhuma palavra indecente; também não mintais uns aos outros, pois já vos despojastes do homem velho e da sua maneira de agir e vos revestistes do homem novo, o qual vai sendo sempre renovado à imagem do seu criador” (Cl 3, 8-10).
Até que o Senhor volte, dois polos de uma tensão positiva sustentam nossa vida: de um lado a Morte e Ressurreição do Senhor, com sua Ascensão e vinda do Espírito Santo. De outro lado a sua vinda gloriosa, na plenitude dos tempos. Vinde, Senhor Jesus!