Discernir é a capacidade de separar com plena distinção o certo do errado, de avaliar com tino e clareza a situação que se apresenta. Há várias formas de discernimento, que podem vir através da virtude da prudência (reflexivo e doutrinal), dos dons intelectuais de santificação (principalmente o dom do conselho) ou por manifestação carismática, sobre a qual pretendemos tratar.

Do conjunto das graças chamadas gratia gratis data(graça dada gratuitamente), a ação do Espírito Santo que revela o princípio animador de todas as coisas, que pode ser divino, humano ou diabólico, recebe o nome de dom carismático do discernimento dos espíritos. Trata-se de um dos dons comentados por São Paulo quando escreve aos Coríntios 12, 10c: “a outro o discernimento dos espíritos”.

Esse tipo de manifestação carismática merece especial atenção da parte da liderança da Renovação Carismática Católica, a qual, pretendendo seguir devotamente o Espírito Santo, lida com uma grande obra de evangelização que requer clareza sobre a vontade de Deus em seu itinerário.

Como qualquer carisma extraordinário, o discernimento é dom de serviço que se manifesta conforme a necessidade. No caso, discernir os espíritos é necessidade imperiosa no apostolado carismático, seja no uso de outros carismas, como o de línguas, de profecia, seja nalgumas propostas ou situações que se apresentam, enfim, no dia a dia da vida carismática.

Mas, o mais importante nisso tudo é compreender que é Deus quem diz o que realmente é necessidade para o homem, para uma obra. Por isso, São Paulo afirma em I Cor 12, 7 que “a cada um é dada a manifestação do Espírito”, e que o “Espírito distribui todos esses dons, repartindo a cada um como lhe apraz” (I Cor 12, 11), e existem tesouros maravilhosos nessas expressões do Apóstolo. Primeiro, pode-se entrever que o Espírito Santo é o grande maestro da sinfonia carismática, da manifestação dos dons. Aleluia! Segundo, que o mesmo Espírito tudo dirige como lhe apraz, como quer. Aleluia!

É claro para o Movimento que discernimento dos espíritos “é o ‘dom do Espírito Santo através do qual uma pessoa percebe, intuitiva e instantaneamente, quais espíritos estão presentes e operantes em uma palavra, ação, situação ou pessoa’” (Módulo Básico).

Evidente que essa percepção tem natureza de revelação divina. Não há qualquer esforço que se possa fazer capaz de produzir uma manifestação do Espírito de tal índole. Isso nos coloca inteiramente na dependência de Deus, pois, é “Deus que opera tudo em todos” (cf. I Cor 12, 6b). Se Ele não vier com os esplendores de sua ação, nada acontece, estamos perdidos na incerteza da procedência dos moveres que nos cercam, como um navio sem rota.

Por fim, coloquemo-nos ao inteiro dispor de Deus. Ele conhece as nossas necessidades, as necessidades de nosso Movimento. Ele sabe a melhor hora de se manifestar. Se cultivarmos a docilidade para com Ele, temos um caminho aberto para as feituras de grandes coisas. E Deus, que “não é Deus de confusão, mas de paz”(cf. I Cor 14, 33), nos socorrerá com o auxílio de sua graça, que deve ser suplicada incessantemente por cada um nós.

 

Pedro Ferreira do Nascimento

Grupo de Oração Magnificat- Várzea Grande (MT)