“O Teu nascimento, Mãe de Deus, trouxe alegria para toda a esfera terrestre, pois de Ti nasceu o Sol da Justiça, Cristo, o nosso Deus”, diz um antigo hino oriental sobre o nascimento de Nossa Senhora. Seu nascimento é sinal de esperança. Tão logo, Deus haveria de cumprir sua promessa: “uma virgem conceberá e dará à luz um filho, e o chamará Deus Conosco” (Isaías 7, 14).
Desde o século VI os cristãos no Oriente celebram a Natividade de Maria. No Ocidente, a festa passa a ser celebrada a partir do século VII, com o objetivo de recordar aos fiéis o plano de Deus para a salvação da humanidade, compreendendo a importância dela na História da Salvação, pois foi por meio de Maria que veio ao mundo o Redentor.
São Luiz Maria Grignion de Montfort afirma que “durante a vida, Maria permaneceu muito oculta” e a chama de “Mãe escondida e secreta”, pois ela tem um papel muito discreto nas Escrituras. Segundo o santo, “a sua humildade foi tão profunda, que não teve na terra atrativo mais poderoso sem mais contínuo que o de se esconder de si mesma e de toda criatura, para que só Deus a conhecesse”. Pode-se assim dizer que a humildade de Maria se expressa desde o seu nascimento e dos poucos fatos conhecidos deste tão importante acontecimento.
Os estudos mais recentes da arqueologia e da Mariologia apontam que o nascimento da Virgem Maria deu-se em Jerusalém. Uma antiga tradição cristã diz que o casal Ana e Joaquim não podiam ter filhos e eram já de idade avançada quando ela foi concebida.
Segundo essa tradição, a concepção de Maria, por meio do ato conjugal daqueles anciãos, acontece por graça divina depois de um período de muito sofrimento pela frustração de não ter um descendente. É neste contexto que Maria é agraciada, sua concepção sem pecado original está no designo de Deus em favor de Seu plano de Salvação dos homens.
Sob a concepção de Maria, o Papa Pio IX, na bula Inefabilis Deus, no qual faz a proclamação do dogma da Imaculada Conceição, afirma que “A Virgem Mãe de Deus não devia ser concebida por Ana antes que a graça afirmasse o seu poder: porquanto devia ser concebida aquela primogênita da qual seria depois concebido o primogênito de toda criatura” (n.30). É a vontade de Deus, onipotente, que preserva Maria sem pecado, em vista da encarnação do Verbo, Jesus Cristo. Porém, ela também é fruto do amor de um casal confiante na misericórdia de Deus.
Para a História da Salvação ela não é somente a bênção realizada pelo Senhor na vida de um casal, mas é a “Filha de Sião”, aquela exortada a alegrar-se com a manifestação misericordiosa de Deus em seu favor, símbolo de Jerusalém e do povo escolhido, como diz o profeta Sofonias: “Rejubila, filha de Sião, solta gritos de alegria, Israel, alegra-te filha de Jerusalém!’ O Senhor revogou tua sentença, eliminou teu inimigo. O Senhor está no meio de ti: não verás mais a desgraça” (Sf 3, 14-15).
A esse respeito o Papa Bento XVI explica que “Maria é a filha de Sião, a quem são dirigidas as palavras daquele texto, a quem é proclamado o ‘alegra-te’, a quem é dito que o Senhor virá até ela; dela é retirado o temor, pois o Senhor está com ela, para salvá-la”. É desta forma também que se pode explicar, por exemplo, um dos termos usados na Ladainha para referir-se a ela: ‘‘causa de nossa alegria’’. A alegria de Maria é a alegria da humanidade inteira, Seu filho, Jesus Cristo, o Salvador.
Concebida sem a mancha do pecado e escolhida por Deus, a menina que seria a mãe do Salvador é chamada por seus pais de “Maria” (no Hebraico: Miriam). Um nome comum entre tantas as mulheres nas Sagradas Escrituras, como é o caso da irmã de Moisés, a irmã de Lázaro, a mãe dos filhos de Zebedeu, discípulos de Jesus, entre outras. Dentre muitos significados do nome encontra-se “amada” ou “favorita de Javé”, em uma análise etimológica mais fundamentada. Há ainda os que defendem outros significados como “elevada” ou “exaltada”.
Contudo, é naquela menina de Jerusalém que ele toma significado distintivo “entre todas as mulheres” (cf. Lc 1, 42). Expressa a mulher eleita por Deus Pai, pré-escolhida entre as mulheres, honrada por ser a Mãe do Filho de Deus e cheia do Espírito Santo. Não há como não levar em consideração a tradição hebraica de que o nome representa uma missão. Eis, pois, a missão de Maria: é “elevada” à dignidade de Mãe do Filho de Deus, é esposa “amada” pelo Espírito Santo, é a filha “favorita” do Pai.
A sabedoria da Tradição da Igreja em celebrar a natividade de Maria permite ver com esperança a antecipação do cumprimento da promessa da vinda ao mundo do Salvador, a Encarnação do Verbo de Deus, perceptível na anunciação do anjo a Virgem e visível na natividade de Jesus.
Assim diz uma oração deste dia: “A vossa natividade, ó Maria, foi aurora e esperança de salvação para o mundo inteiro!”. É impossível olhar para os acontecimentos da vida de Maria e não encontrar neles os sinais da presença de Seu Filho, Jesus Cristo, e perceber que todas as coisas convergem em direção a Ele.
Jefferson Souza
Grupo de Oração Ágape
Diocese de Macapá (AP)