Somos todos filhos e filhas da Igreja que é mãe e mestra, e sendo mãe e mestra nos ensina como devemos viver para sermos fiéis a Deus e a seus desígnios. Um dos ensinamentos que a Mãe Igreja nos oferece é o da Imaculada Conceição, e para iniciar nossa reflexão a este respeito, voltemo-nos à Palavra de Deus.
Iniciemos pelo Gênesis, o livro da criação, o primeiro da Sagrada Escritura: “Porei inimizade entre ti e a mulher, entre a tua descendência e a dela. Esta te ferirá a cabeça e tu lhe ferirás o calcanhar!” (Gn 3,15) Eva fora criada, sem pecado, virgem, inocente, incorrupta e não enganada pelas insídias do inimigo representado na serpente. Depois que a mesma cedeu a serpente, decaiu dessa inocência inicial, tornando-se escrava do pecado. (cf. Ineffabilis Deus, 28)
Olhemos agora para o Evangelho: “Alegra-te, cheia de graça, o Senhor está contigo!” (Lc 1, 28) Eis que aqui temos o contrário do que acontecera com Eva. Por graça divina, Maria não deu ouvido à serpente, ela não cedeu às insígnias do inimigo. Ora, “não se exprimiria desta maneira o anjo e nem haveria plenitude de graça”, se Nossa Senhora tivesse o pecado original, visto o ser humano ter perdido a graça após o pecado. A saudação do anjo Gabriel nos mostra que Maria era a sede de todas as graças de Deus, era exornada de todos os carismas do Espírito Divino, de modo que, ela não somente nunca esteve sujeita à maldição, mas foi também, juntamente com seu Filho, participante de perpétua benção. (cf. Ineffabilis Deus, 26)
O dogma da Imaculada Conceição, que a Igreja ensina, deve ser instrumento eficaz de nossa santificação. Maria toda pura, desde de sua concepção, não cede ao pecado. É mulher livre para servir a Deus, mulher livre para viver a vontade de Deus. Só conseguiremos viver a vontade de Deus, na medida em que formos livres do pecado. Homem e mulher, quando escravos do pecado, são escravos do inimigo de Deus; por consequência, impedidos de viver na presença de Deus, de viver os desígnios de Deus, de viver na santidade. Para isto fomos criados, escolhidos, para sermos santos e irrepreensíveis no amor (cf. Ef 1,4). Ora, se Nossa Senhora não fosse imaculada, a inimizade entre ela e o inimigo não seria inteira e a vitória não seria total, pois Maria Santíssima teria sido, pelo menos em parte, sujeita ao poder do demônio através do pecado original.
Este dogma abrange dois pontos importantes de nossa fé católica, o primeiro é o de Maria ter sido preservada da mancha original desde de sua concepção; o segundo é que este privilégio não lhe foi dado por mérito dela, e sim, pelos méritos de Cristo Jesus, em vista da redenção da humanidade, sendo ela a mãe de Deus. Mas, que graça Nossa Senhora achou diante de Deus para poder ser escolhida como a Mãe Dele? Foi a graça original, ou seja, foi gerada sem a mancha do pecado original. “…essa doutrina foi revelada por Deus, e por isso deve ser crida firme e inviolavelmente por todos os fiéis.” (cf. Ineffabilis Deus, 41)
“O Espírito virá sobre ti, e o poder do Altíssimo te cobrirá com sua sombra. Por isso, o menino que vai nascer será chamado Santo, Filho de Deus.” (Lc 1, 35) Eis aqui o caminho que leva a santidade, que leva a verdadeira liberdade. Se nos deixarmos guiar pelo Espírito de Deus, teremos condições de sermos servos do Senhor, vivendo seus direcionamentos, cumprindo com a vontade de Deus para cada um de nós. Lembremo-nos que a santidade é possível para os que se deixam conduzir pelo Espírito Santo. Na santidade de vida podemos dizer com alegria como a Virgem: “Eis aqui a serva do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra!” (Lc 1, 38)
Pe. Leandro José Rech
Arquidiocese de Florianópolis