Uma das mais belas realidades da vida cristã é o chamado de Deus, a vocação, com os sinais oferecidos pelo Senhor a toda a Igreja e a cada um dos fiéis, com o qual todos podem descobrir seu caminho de disponibilidade e serviço a Deus e ao próximo. Certeza primeira é que existe um olhar de Deus dirigido a cada pessoa e não há um cristão sequer sem uma vocação específica. O primeiro chamado é à participação na vida divina, na qual se encontra também a plenitude do ser humano. Em Cristo, “Deus nos escolheu, antes da fundação do mundo, para sermos santos e íntegros diante dele, no amor. Conforme o desígnio benevolente de sua vontade, ele nos predestinou à adoção como filhos, por obra de Jesus Cristo, para o louvor de sua graça gloriosa, com que nos agraciou no seu bem-amado” (Ef 1,4-6).
Deus nos leva em conta, Deus pensa em nós, Deus pode intervir em nossa vida sem desrespeitar a liberdade com a qual ele mesmo nos criou. Não se trata de um destino cego, mas da mais digna e decisiva proposta, com a qual se joga o sentido de nossa existência. Assim, falar de vocação é falar de algo que vem do alto! Iluminados pelo Salmo cento e trinta e oito, todos podem proclamar a cantar: “Antes que te formasses dentro do ventre de tua mãe, antes que tu nascesses, te conhecia, te consagrei para ser meu profeta entre as nações eu te escolhi, onde te envio irás, o que te mando proclamarás!” Na justa medida, dada pelo próprio Deus, todos são chamados a serem profetas, reis-pastores e sacerdotes reais! No Batismo, esta graça nos foi concedida e há de florescer durante a vida.
Entretanto, Deus quis depender de nossa participação para que seu chamado se espalhe e suscite respostas. É no mínimo positivamente intrigante a palavra de Jesus: “A colheita é grande, mas os trabalhadores são poucos. Pedi, pois, ao Senhor da colheita que mande trabalhadores para sua colheita” (Lc 10,2). A liberdade daquele que tudo pode e pode chamar quis comprometer-se conosco e com nossa oração. Dali para frente, tornou-se dever para todo cristão, e assim será sempre, a oração pelas vocações. É de São João Paulo II a afirmação de que a vocação é a resposta de Deus providente a uma comunidade orante.
Podemos falar de vocações genuínas para o matrimônio cristão, uma forma de entrega a Deus que supera o simples contrato de convivência entre um homem e uma mulher. Podemos pensar nas vocações ao sacerdócio, essenciais em nossa Igreja, com a qual jovens chamados ao ministério e ao celibato se entregam ao Senhor, são consagrados através do Sacramento da Ordem e enviados ao ministério da Palavra, da Santificação e do Pastoreio. E a belíssima vocação dos religiosos e religiosas, prontos a ser sinais dos valores do Reino de Deus na pobreza, castidade e obediência, consagração tão desafiadora quanto necessária e urgente! Nossa realidade amazônica deve também sua Evangelização a gerações de missionários e missionárias, de nosso país e de outras terras, vocação desafiadora e transformadora. Nos últimos anos, uma nova realidade vocacional cresceu na Igreja e também em nossa Arquidiocese, as Comunidades Novas, que São João Paulo II chamou de resposta providencial à urgência da Nova Evangelização. Nelas, celibatários, virgens consagradas, casais, jovens chamados ao sacerdócio, uma gama variada de modalidade de serviço se encontra presente e viva.
Todas as formas de entrega a Deus deverão encontrar seu caminho de radicalidade, expresso com palavras fortes no Evangelho (Cf. Lc 10,1-12.17-20). Serão cordeiros no meio de lobos, aceitando o método do serviço livre e desinteressado, sem empunhar as armas da violência! Quem experimenta o chamado terá um relacionamento de liberdade diante dos bens da terra, renunciando ao supérfluo e valorizando o essencial, o que vale também para os casais cristãos! Vocacionados são homens e mulheres portadores da paz, oferecendo-a a todos, sem distinção e inclusive convivendo com a possível recusa à mensagem oferecida. Estarão ainda dispostos a não perder tempo, insistindo no essencial da mensagem a ser oferecida: “O Reino de Deus está próximo de vós!” (Lc 10,9). Quando realizarem a missão, ficarão alegres não tanto com os louros da vitória ou as maravilhas realizadas, mas com o que não passa: “Ficai alegres porque vossos nomes estão escritos no céu” (Lc 10,20).
Neste ano de 2019, nossa arquidiocese de Belém se alegra com o chamado de Deus. No sábado, dia 6 de julho, data em que se celebra o vigésimo oitavo ano da Ordenação Episcopal do Arcebispo, são ordenados cinco diáconos temporários, os seminaristas Alan Henrique, Francimar, Leonardo Matias, Paulo Felipe e Paulo Victor, que serão sacerdotes no final do ano com mais um que já é Diácono. Em novembro um sacerdote novo religioso. Em quinze de agosto, quadragésimo sexto aniversário de sacerdócio do Arcebispo, serão ordenados mais trinta e oito Diáconos Permanentes, homens casados que se prepararam na Escola Diaconal Santo Efrém, preparados para o serviço da caridade, da palavra e do altar! A vocação está na ordem do dia em nossa Igreja de Belém!
Nossa Arquidiocese abriga os Seminários que nos são próprios, Seminário Maior São Pio X, Seminário Maior Monsenhor Edmundo Igreja, Seminário Arquidiocesano Missionário Redemptoris Mater, Seminário Propedêutico Dom Tadeu Prost, Centro Vocacional – Seminário Menor – São João Maria Vianney. Além deles, vários Seminários de Dioceses e Prelazias do Regional Norte II, Seminários das Ordens e Congregações Religiosas e Seminários de Comunidades novas, com seus respectivos seminaristas e formadores. Vale a pena conhecer o espaço da Faculdade Católica de Belém, onde cerca de trezentos seminaristas, religiosos, religiosas, leigos e leigas estudam Filosofia e Teologia. É um espaço de esperança e confirmação do chamado de Deus!
Aliás, não faltam as vocações, não falta o chamado de Deus! O que falta é o trato e o carinho da parte de todos nós! Comunidades paroquiais venham a ser propagandistas do bem que é o Sacramento do Matrimônio! Párocos, vigários e agentes de pastoral que tenham a coragem de chamar ao sacerdócio e à vida religiosa e Missionária nossos jovens e adolescentes, o que deve se acrescentar à oração: “Enviai, Senhor, operários à vossa messe, pois a messe é grande e poucos os operários”.