Por Sérgio C. Zavaris
Coordenador Nacional do Ministério de Fé e Política / RCCBRASIL
Há muito se sabe que o homem é um ser gregário.
É um ser que anda em bandos e tem necessidade de interação com seus pares. Busca no estabelecimento de suas relações sociais uma identificação com suas próprias necessidades e por isso, passa a medir a si mesmo com base no “feedback” alcançado junto aos membros do grupo ao qual pertence. Normalmente chamamos estes grupos de “comunidades”.
Contudo a noção de comunidade, que sempre foi ligada à região geográfica, trazendo assim uma noção de bairro, hoje, especialmente com a internet, tornou-se uma definição de agrupamento virtual que não conhece necessariamente o plano geográfico. Percebe-se a existência de camadas concorrentes de comunidades ligadas por sentimentos ou valores, cujas intercessões acontecem em alguns pontos comuns com outras comunidades e que se estabelecem a cada minuto.
Neste contexto, nascem as culturas intrínsecas daquela comunidade capaz de criar regras e valores que se traduzem em legislação para nortear todos aqueles que comungam da participação daquela comunidade. Contudo há leis que se transformam em regras de conduta e há regras de conduta que não se traduzem em leis. Assim parece ser com as gangues de marginais ou as comunidades de um sistema penitenciário que seguem regras de condutas estabelecidas, ainda que não formalmente regidas por lei escrita.
Entretanto, as comunidades mais organizadas tendem a estabelecer condutas escritas para facilitar a referência única e transparente daquilo que se propõem estabelecer como regra. Nesse particular, a intenção de criar instrumentos de controle também se estabelecem por essa via. Contudo, muitas vezes o estabelecimento de uma regra escrita serve, fundamentalmente, para trazer ao centro das atenções uma reflexão ou uma postura, até mais do que tornar justo e equitativo os procedimentos a serem adotados por uma comunidade em particular situação.
Nesse sentido, a RCC do Brasil traz, para as lideranças do Movimento, uma instrução normativa que orienta as posturas e condutas dos conselhos, durante o período das eleições políticas. É importante ressaltar a função que se pretende com a adoção dessa medida. Um olhar mais cauteloso permitirá perceber que o foco é trazer para o debate e a reflexão nossas opiniões e posicionamentos, como demonstração de responsabilidade e de uma postura cívica, participando do processo democrático. A questão que se impõe é qual a opinião e o posicionamento da RCC sobre as questões que dizem respeito ao presente e futuro da nação brasileira.
Como não se entende que tamanha responsabilidade possa ser atributo apenas de um grupo, ainda que pertencentes a qualquer instância de liderança, é chegada a hora de uma efetiva participação de toda a Renovação Carismática Católica nas reflexões sobre a política nacional e seus desdobramentos para o Brasil.
Através da Instrução Normativa 01/09-RCCBRASIL, a partir de 2010, todas as instâncias de conselho (diocesano, estadual e nacional) são chamadas a abrir espaço para as reflexões cívicas e democráticas da política nacional. Para isso, devem avaliar a etapa de maturidade em que se encontram e que ações podem ser desenvolvidas para um crescimento de atitudes cívicas responsáveis, como o amor à pátria, oração pelo Brasil, etc. Com isso, o Conselho Nacional reafirma sua posição de respeito pela autonomia das devidas competências dos conselhos estaduais e diocesanos país afora.
Quanto ao incentivo organizado da participação de seus membros no pleito eleitoral, vale ressaltar o caráter pedagógico que tal reflexão enseja e que não se pretende alterar o maior valor do processo democrático, qual seja, a participação do povo de Deus como agentes do processo decisório. Isto significa dizer que a discussão e o debate legítimos da democracia são os valores mais caros para o nosso país e para a Renovação Carismática Católica do Brasil, no âmbito da política. Possa o discernimento do Espírito Santo ser a luz a conduzir todas as intenções que governam os nossos corações e dar coragem para prosseguirmos decididamente na busca de estabelecer definitivamente a civilização do amor ainda aqui nesta terra.
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