3 de julho é a data em que a Igreja celebra a memória de São Tomé. Apesar deste grande apóstolo ser comumente lembrado por seu episódio de “incredulidade”, ao refletir sobre as passagens bíblicas em que é mencionado, podemos aprender importantes lições.
Para isso, retomamos discursos de Papa Bento XVI e Papa Francisco em que destacam ricos aprendizados por meio da vida de São Tomé.
1- Determinação e disponibilidade em seguir Jesus
O Evangelho de João “oferece-nos informações que reproduzem alguns traços significativos da personalidade de Tomé. O primeiro refere-se à exortação, que ele fez aos outros Apóstolos, quando Jesus, num momento crítico da sua vida, decidiu ir a Betânia para ressuscitar Lázaro, aproximando-se assim perigosamente de Jerusalém (cf. Mc 10, 32). Naquela ocasião, Tomé disse aos seus condiscípulos: “Vamos nós também, para morrermos com Ele” (Jo 11, 16).
Esta sua determinação em seguir o Mestre é deveras exemplar e oferece-nos um precioso ensinamento: revela a disponibilidade total a aderir a Jesus, até identificar o próprio destino com o d’Ele e querer partilhar com Ele a prova suprema da morte. De fato, o mais importante é nunca separar-se de Jesus. Por outro lado, quando os Evangelhos usam o verbo “seguir” é para significar que para onde Ele se dirige, para lá deve ir também o seu discípulo” (Bento XVI).
2. Rezar com franqueza a Jesus
Na Última Ceia, “Jesus, predizendo a sua partida iminente, anuncia que vai preparar um lugar para os discípulos para que também eles estejam onde Ele estiver; e esclarece: “E, para onde Eu vou, vós sabeis o caminho” (Jo 14, 4). É então que Tomé intervém e diz: “Senhor, não sabemos para onde vais, como podemos nós saber o caminho?” (Jo 14, 5). Na realidade, com esta expressão ele coloca-se a um nível de compreensão bastante baixo; mas estas suas palavras fornecem a Jesus a ocasião para pronunciar a célebre definição: “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida” (Jo 14, 6).
Ao mesmo tempo, a sua pergunta confere também a nós o direito, por assim dizer, de pedir explicações a Jesus. Com frequência nós não o compreendemos. Temos a coragem para dizer: não te compreendo, Senhor, ouve-me, ajuda-me a compreender. Desta forma, com esta franqueza que é o verdadeiro modo de rezar, de falar com Jesus, exprimimos a insuficiência da nossa capacidade de compreender, ao mesmo tempo colocamo-nos na atitude confiante de quem espera luz e força de quem é capaz de as doar” (Bento XVI).
3- Não somos os únicos a ter dificuldade em acreditar quando passamos por desilusões
“Na realidade, Tomé não é o único que tem dificuldade em acreditar, aliás, representa um pouco todos nós. Com efeito, nem sempre é fácil acreditar, especialmente quando, como no seu caso, se sofreu uma grande desilusão. Depois de uma grande desilusão, é difícil acreditar. Seguiu Jesus durante anos, correndo riscos e suportando dificuldades, mas o Mestre foi crucificado como um bandido e ninguém o libertou, ninguém fez nada! Morreu e todos têm medo. Como voltar a ter confiança? Como confiar na notícia segundo a qual Ele está vivo? A dúvida estava dentro dele” (Papa Francisco). No entanto, ele retorna para a comunidade e tem sua experiência extraordinária com Jesus.
4- A vida fraterna e em comunidade é indispensável pra permanecer com Jesus
“Tomé demonstra que tem coragem: enquanto os outros, receosos, estão fechados no cenáculo, ele sai, correndo o risco de que alguém o possa reconhecer, denunciar e prender. Até poderíamos pensar que, com a sua coragem, mereceria mais do que os outros encontrar o Senhor ressuscitado. Ao contrário, precisamente porque se tinha afastado, quando Jesus aparece pela primeira vez aos discípulos na noite de Páscoa, Tomé não está presente e perde a ocasião. Afastou-se da comunidade. Como poderá recuperá-la? Só voltando a estar com os outros, voltando para aquela família que tinha deixado assustada e triste.
Para acreditar, Tomé gostaria de um sinal extraordinário: tocar as chagas. Jesus mostra-lhas, mas de modo ordinário, diante de todos, na comunidade, não fora. Como se lhe dissesse: se quiseres encontrar-me, não procures longe, fica na comunidade, com os outros; e não te vás embora, reza com eles, parte o pão com eles. E di-lo também a nós. É ali que me poderás encontrar, é aí que te mostrarei, gravados no meu corpo, os sinais das chagas: os sinais do Amor que vence o ódio, do Perdão que desarma a vingança, os sinais da Vida que derrota a morte. É aí, na comunidade, que descobrirás o meu rosto, enquanto partilhares momentos de dúvida e de medo com os irmãos, estreitando-te ainda mais fortemente a eles. Fora da comunidade, é difícil encontrar Jesus!” (Papa Francisco).
5- Sim, podemos aprender com São Tomé sobre Fé!
“Num primeiro momento, Tomé não tinha acreditado em Jesus que apareceu na sua ausência, e dissera: “Se eu não vir o sinal dos pregos nas suas mãos e não meter o meu dedo nesse sinal dos pregos e a minha mão no seu peito, não acredito” (Jo 20, 25). No fundo, destas palavras sobressai a convicção de que Jesus já é reconhecível não tanto pelo rosto quanto pelas chagas. Tomé considera que os sinais qualificadores da identidade de Jesus são agora sobretudo as chagas, nas quais se revela até que ponto Ele nos amou. Nisto o Apóstolo não se engana.
Como sabemos, oito dias depois, Jesus aparece no meio dos seus discípulos, e desta vez Tomé está presente. E Jesus interpela-o: “Põe teu dedo aqui e vê minhas mãos! Estende tua mão e põe-na no meu lado e não sejas incrédulo, mas crê!” (Jo 20, 27). Tomé reage com a profissão de fé mais maravilhosa de todo o Novo Testamento: “Meu Senhor e meu Deus!” (Jo 20, 28). A este propósito, Santo Agostinho comenta: Tomé via e tocava o homem, mas confessava a sua fé em Deus, que não via nem tocava. Mas o que via e tocava levava-o a crer naquilo de que até àquele momento tinha duvidado” (In Iohann. 121, 5)” (Papa Francisco).
Trechos retirados dos seguintes discursos dos pontífices:
PAPA BENTO XVI, Audiência Geral, 27 de setembro de 2006.
PAPA FRANCISCO, Regina Caeli, 16 de abril de 2023.