Vigília Pascal: A celebração da vida que vence a morte

Os antigos cristãos tinham o costume de celebrar cada Eucaristia em forma de vigília. Santo Agostinho dizia que a Vigília Pascal era a “mãe de todas as vigílias”, a mais solene, porque nela celebramos a Ressurreição do Nosso Senhor Jesus Cristo. É uma noite de luz, uma noite de alegria, porque a graça venceu o pecado, o amor venceu o ódio, a luz venceu as trevas e a vida venceu a morte, que outrora triunfava sobre os homens.

Um dos sentidos da festa cristã é a da sua diferença com os outros dias. No livro “O Pequeno Príncipe”, de Saint-Exúpery, há uma frase que define bem o sentido da festa, embora apareça para definir o que é um ritual. Esta frase vem no capítulo da conversa entre a raposa e o principezinho. O Pequeno Príncipe não sabia o que era um ritual. E a raposa disse-lhe que era uma coisa que toda o mundo se tinha esquecido. E explicou assim a ele: “um ritual é o que faz com que um dia seja diferente de todos os dias e uma hora, diferente de todas as horas”.

A Liturgia da Vigília Pascal é repleta de sinais e significados, como a bênção do fogo e do lucernário, o Círio Pascal aceso que nos recorda Cristo, luz do mundo. Temos a execução do belíssimo Precônio Pascal, proclamando a Páscoa de Nosso Senhor. Em seguida, a Liturgia da Palavra nos leva a compreender a história do Povo de Deus, no introduzindo no sentido profundo da Páscoa de Cristo. Começamos pelo relato da criação, passando pela travessia do Mar Vermelho e ouvindo os profetas, Isaías, Baruc e Ezequiel. Até chegarmos, depois no hino do Glória, à leitura da Carta aos Romanos, ao anúncio Solene do Aleluia Pascal, ao Salmo 117 e ao coração dessa liturgia da Palavra, que é o Evangelho (Lc 24,1-12): “Por que estais procurando entre os mortos aquele que está vivo”?

Após a Liturgia da Palavra, inicia-se a “Liturgia Batismal”, onde há a bênção da água para o Batismo, que pode acontecer dentro da celebração, e a renovação das promessas batismais, nos fazendo recordar que, em Cristo, renascemos pela água e pelo Espírito Santo.

O coroamento de tudo isso se dá na Eucaristia! A Eucaristia é o coração de tudo o que nossa fé nos leva a viver. Nela, celebramos de maneira sublime o sacrifício de Cristo. Nela, nós fazemos memória da morte e da ressurreição gloriosa de nosso Redentor. Nela, esse sacrifício de amor se renova e nós, que comungamos, dessa mesa mística, nos tornamos uma eucaristia viva e um só Corpo em Cristo Jesus. Quando comungamos, comungamos da sua Ressurreição e da vida plena que só Ele possui.

 A Ressurreição de Cristo, que celebramos em cada Eucaristia e que, de maneira especial, celebramos nesta Páscoa anual, é a nossa alegria e a certeza da nossa vitória. Cremos que, cada vez que celebramos a Páscoa, Cristo passa pela nossa vida e a renova. Cremos que, cada vez que ouvimos a Palavra, ela gera algo novo em nós, como nos ensina o Profeta Isaías (55,10-11): “Como a chuva e a neve descem do céu e para lá não voltam mais, mas vêm irrigar e fecundar a terra, e fazê-la germinar e dar semente, para o plantio e para a alimentação, assim a palavra que sair de minha boca: não voltará para mim vazia; antes, realizará tudo que for de minha vontade e produzirá os efeitos que pretendi, ao enviá-la.”

Sejamos portadores dessa certeza da Ressurreição! Sejamos mensageiros dessa boa-nova, como as mulheres que outrora encontraram o túmulo vazio. Sejamos portadores da alegre notícia: “Ele Ressuscitou!” Ele não está mais no sepulcro. Ele agora está vivo e ressuscitado no meio de nós.

 E não cessemos de pedir que venha sobre nós o Espírito Santo, como nos ensinou Santa Elena Guerra! Não precisamos aguardar Pentecostes, porque a Páscoa já é a certeza de que o Espírito do Senhor está sobre nós. Peçamos que o Santo Espírito nos envolva com a sua graça, para que possamos, animados pela alegria da Ressurreição, viver também uma vida nova em Cristo Jesus.

Pe. Heldeir Gomes Carneiro

Arquidiocese de Palmas/TO

Assessor do Brasil no CONCCLAT 

e da Secretaria Latinoamericana de Jovens