A data foi oficializada pela Lei nº 11.635, de 27 de dezembro de 2007, sancionada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O dia 21 de janeiro é comemorado também o Dia Mundial da Religião. Para marcar a data, a Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República promoveu, no Memorial dos Povos Indígenas, em Brasília, uma celebração ecumênica com diversos segmentos religiosos.

O subsecretário nacional de Promoção e Defesa dos Direitos Humanos, Perly Cipriano, participou do encontro.

O secretário geral do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil (CONIC), reverendo Luiz Alberto Barbosa, emitiu uma nota. Nela o reverendo diz que as Igrejas Cristãs são chamadas a refletir internamente como andam as suas ações em relação ao próximo, principalmente em relação àqueles que não professam as mesmas crenças, no exercício do diálogo ecumênico, assim como na relação com as outras religiões, no diálogo interreligioso.

Leia abaixo a íntegra do texto do reverendo Luiz Alberto, secretário geral do Conic.

21 de janeiro – Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa

“Pois vá e faça a mesma coisa” – Lucas 10,37

Caros Irmãos e Irmãs, mais uma vez estamos celebrando o Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa, 21 de janeiro. Trata-se de uma iniciativa do Governo Federal, e esta data deve ser celebrada anualmente em todo o território nacional, fazendo parte do Calendário Cívico da União. Como Igrejas Cristãs somos também chamados a refletir internamente como andam as nossas ações em relação ao próximo, principalmente em relação àqueles que não professam as mesmas crenças que nós, seja dentro do âmbito do Cristianismo, no exercício do diálogo ecumênico, assim como na relação com os nossos irmãos e irmãos de outras religiões, no diálogo inter-religioso.

O exercício da caridade, da tolerância, do respeito ao diferente não é fácil, principalmente quando envolve elementos do sagrado. Muitas vezes a razão humana é ofuscada por uma névoa de intolerância fundamentada em princípios religiosos capazes de levar às maiores atrocidades contra o próximo. Como Cristãos somos chamados a estar sempre alertas, olhando sempre com o olhar misericordioso de Jesus, que na Parábola do Bom Samaritano (Lc 10, 25-37) nos ensina na prática a lição da tolerância e do amor fraterno.

A Virtude da Tolerância deve ser vista dentro do contexto da aceitação e compreensão das diferenças, sempre dentro de um ambiente de respeito e diálogo. Usar o nome de Deus para perseguir, humilhar, agredir ou mesmo matar o próximo é algo inconcebível, e com certeza condenado, por qualquer religião. Na palavra Tolerância encontra-se contido o sentido pleno de humanidade, igualdade de oportunidades e condições e livre pensar e crer. Voltaire, grande iluminista, já foi sábio ao afirmar em sua obra: “Tratado sobre a Tolerância” de que “Não é preciso uma grande arte, uma eloqüência menos rebuscada, para provar que os cristãos devem tolerar-se uns aos outros. Vou mais longe: afirmo que é preciso considerar todos os homens como nossos irmãos. O quê? O turco, meu irmão? O chinês? O judeu? O siamês? Sim, certamente; porventura não somos filhos do mesmo Pai, criaturas do mesmo Deus?” (Tratado, p. 125).

Tolerar, todavia, não significa compactuar com tudo, ou seja, com comportamentos que infrinjam a ordem jurídica, ética ou moral de uma sociedade. O conceito de liberdade religiosa, neste contexto, estará sempre cerceado pelos direitos e deveres individuais e coletivos impostos pelo ordenamento legal de um País, que deve proteger a liberdade religiosa, e ao mesmo tempo vigiar para que nenhum cidadão seja vitima de intolerância ou discriminação no exercício de suas crenças. Como perspicazmente coloca André Comte-Sponville, filósofo francês, nascido em 1952: “a simplicidade é a virtude dos sábios e a sabedoria dos santos, assim a tolerância é sabedoria e virtude para aqueles que – todos nós – não são nem uma coisa nem outra. Pequena virtude, mas necessária. Pequena sabedoria, mas acessível”.

Essa pequena sabedoria foi exercida com grandeza pelo Samaritano da parábola contada por Jesus. Judeus e Samaritanos não se toleravam, tinham rivalidades, tensões, divergências na prática e no pensar religioso. Todavia, é um samaritano que, ao ver um judeu caído à margem da estrada necessitando de ajuda, consegue passar por cima de todas as diferenças religiosas e culturais, e presta ajuda solidária, exercitando assim a grande virtude da tolerância, do respeito e do amor fraterno. O exemplo do Samaritano se torna um mandamento de Cristo para todos nós: “Pois vá e faça a mesma coisa” Lc 10,37.

O Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa serve para nos mostrar que ainda estamos muito distantes do cumprimento deste mandamento de Cristo. A próxima Campanha da Fraternidade Ecumênica, que se inicia no dia 17 de fevereiro, é mais um momento em que, como Igrejas, podemos dar o testemunho de que conseguimos trabalhar em conjunto, no exercício prático da tolerância fraterna, na busca de um mundo melhor e solidário para todos.

Rev. Luiz Alberto Barbosa
Secretário Geral do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil (CONIC)
 

Fonte: CNBB