Este artigo foi extraído da Revista Renovação, Edição 75 (Eu creio em ti), pois ele é um convite para que nesta quaresma somos chamados a aproximar a cruz da própria história, vivenciar a experiência de dor e também da ressurreição, nos configurando ao Cristo. Uma relação pessoal com a realidade da cruz nos fortalece na fé e nos molda na autenticidade cristã.
“Ao descobrir, pela fé, o sofrimento de Cristo, o homem descobre nele, ao mesmo tempo, os próprios sofrimentos, reencontra-os mediante a fé, enriquecidos de um novo conteúdo e com novo significado” (João Paulo II).
Olhar para Cruz de Cristo sem a dimensão da fé é enxergar apenas o sofrimento e, quem sabe, a derrota. Olhar para a Cruz de Cristo com os olhos da fé é enxergar a vitória, a vida nova. Para compreendermos esse ensinamento, muitas vezes, nos é dado como estratégia divina o próprio sofrer, a própria dor, na qual, unindo nossa vida à vivência de Cristo, encontramos força para superar as dificuldades.
Quando falamos em unir nossa vida à cruz de Cristo podemos pensar em três aspectos. O primeiro é o conteúdo atual da nossa vida. O segundo aspecto é o nosso entendimento sobre a cruz. E o terceiro é o desafio de como unir as duas abordagens: vida e cruz. De maneira simples e prática, convido você a, juntos, olharmos para a cruz e nos deixarmos ser alcançados pela potência do amor que irradia dela para nós.
I – Qual é o conteúdo atual de nossa vida?
A pergunta acima abre margens para infinitas respostas, principalmente se nos encontramos num emaranhado de situações-problema. Como sabemos, tudo que faz parte de nossa história é conteúdo de vida, alguns são mais fáceis de serem enfrentados, outros são mais difíceis. Alguns desses conteúdos, conseguimos assimilar com rapidez, outros exigem um pouco de nós. Mas quando falamos em conteúdo de vida que nos une à cruz, temos uma certeza: diante dela tudo é alcançado. E para sabermos quais são aos conteúdos atuais da nossa vida, podemos pensar: o que está fazendo parte de nossos pensamentos? O que está conduzindo nossos sentimentos? Por onde andamos? O que temos visto? A partir disso, vamos elencando os nossos conteúdos.
E agora, o que fazer com tudo isso? Primeiro, precisamos compreender que os conteúdos que são vivenciados por nós e são significativos geram aprendizagem. Então, não posso tratá-los de qualquer maneira, nem desprezá-los, mesmo porque muitos conteúdos nos são pesados, envolvem sofrimentos e esses são conteúdos de cruz. O segredo é “erguer a cruz de Cristo sobre nossos sonhos” e deixar que dela irradie a luz do amor de Deus.
II – O que eu entendo por cruz?
Ao falar da cruz, associamos o seu sentido à passagem de sofrimentos. Realmente, Cristo passou pela cruz, mas depois desse momento veio a ressurreição. O período de Calvário de Jesus foi intenso, muito sofrido, mas já faz cerca de dois mil anos que Ele está ressuscitado em nosso meio. Com isso, podemos afirmar que, mesmo sendo intensos nossos momentos de cruz, de sofrimento, de tribulações, nós vamos alcançar a ressurreição.
Só podemos falar em cruz, nesse sentido, se já experimentamos julgamentos, condenações, flagelos, caminhos de dor, morte e, até, se já passamos pela situação de perder entes queridos. Após situações assim, percebemos que não há como falar de cruz sem falar de Jesus, pois Ele experimentou a cruz e só Ele tem o poder de nos ajudar a passar da cruz para a ressurreição.
A cruz revela o sinal dos cristãos:
“A eloquência da Cruz e da morte, no entanto, é completada com a eloquência da Ressurreição. O homem encontra na Ressurreição uma luz completamente nova, que o ajuda a abrir caminho através das trevas cerradas das humilhações, das dúvidas, do desespero e da perseguição. Por isso, o Apóstolo escreverá ainda na segunda Carta aos Coríntios: Pois, assim como são abundantes para nós os sofrimentos de Cristo, assim por obra de Cristo é também superabundante a nossa consolação.”(Salvifici Dolores, n. 20). A cruz não é derrota, é vitória, porque a vida vence a morte.
III – Como unir as duas abordagens: vida e cruz
Não vejo como falar de cruz sem falar daquele que foi crucificado e venceu. Nãohá como unir nossa vida à cruz sem unir nossa vida à vida daquele que passou pela cruz, Jesus Cristo.
Quando olhamos para os santos, percebemos o quanto suas vidas aproximavam-se dos ensinamentos da cruz. Inclusive, muitos deles encontravam forças para suas missões apoiando-se na potência do Cristo Crucificado. Vejamos como Santa Catarina de Sena nos ensina a subir os degraus da cruz de Cristo, passando pelo corpo do Crucificado. Confira a riqueza desse ensinamento:
“O primeiro degrau desta escada está nos pés do Crucificado: é o amor. De fato, como os pés conduzem o corpo, o amor conduz a alma”. Segundo os escritos sobre este degrau, a pessoa que o atinge purifica a sua maneira de amar. Dessa forma, alcançando esse degrau podemos ver todo amor apegado e desordenado ser ordenado em Cristo. Nesse degrau, temos a oportunidade de caminhar com Cristo, aprendendo com sua vida a missão de amar, de cuidar, de zelar por aqueles que nos são confiados. Jesus pode nos ensinar a avançar nas dimensões do amor que ainda nos são difíceis.
“O Segundo degrau é o da chaga do peito do Crucificado; lá conhecereis os segredos do coração de Cristo, o amor com que Ele nos lavou em seu sangue”. A pessoa que atinge o coração aberto de Cristo tem a experiência de seu amor misericordioso. Amor que obedeceu ao Pai, que acolheu a cruz, que nos amou. Aquele que adentra o coração de Cristo Crucificado, experimenta o amor e ama. É bom lembrar que o melhor lugar desta escola da paixão é o coração de Cristo Crucificado, pois lá conseguimos recuperar todos os conteúdos de vida que ficaram soltos pela história, difíceis de serem assimilados. O coração de Jesus se transforma numa sala particular onde podemos expor todas as nossas dúvida, tendo a oportunidade de alcançar os ensinamentos da cruz.
“O terceiro degrau é o da boca de Cristo, neste degrau a alma encontra a paz”. Imagine o que é alcançar esse degrau e poder aprender com Cristo como podemos nos comunicar melhor, anunciar a Palavra que salva e que foi proclamada primeiramente pela boca de Cristo?
Conclusão
Podemos perceber a grande notícia que a Cruz anuncia na vida da pessoa que se volta para ela. É do conhecimento de muitos irmãos que passei por um acidente e durante um período de 50 dias fiquei no leito hospitalar sem poder me mexer e recebendo cuidados médicos. Durante esse período, fui consolada pelas Palavras de Deus proferidas pelos meus irmãos e familiares. Fui alimentada pelos sacramentos e tive a oportunidade de unir minha vida aos sofrimentos de Cristo. Aprendi com Jesus a aceitar o que estava me acontecendo; aprendi a ser amada, a receber cuidados e, ao mesmo tempo, a aceitar a solidão. Percebi, ainda dentro do ônibus em que me acidentei, que era tempo de parar tudo e entrar na escola da paixão. Eu não sabia se conseguiria aprender o que Jesus queria me ensinar, mas tenho claro em minha vida uma coisa: essa escola marcou minha história, o que estou aprendendo está sendo muito significativo para mim, tenho a cruz de Cristo nas paredes da minha vida.
Lucimar Maziero
Presidente do Conselho Estadual da RCC São Paulo
Grupo de Oração Fonte de Bençãos.
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