Estamos na Semana Santa, um tempo propício para meditar com intensidade a Paixão de Cristo. As leituras de todas as celebrações desta semana vão nos remeter ao mistério da Santa Cruz. A pergunta que tantos de nós podem se fazer é: por quê? Por que tudo isso teve que acontecer? Outros, sem fé, podem ainda zombar: que Deus é esse que deseja o sofrimento do próprio Filho? A resposta para todas essas perguntas pode ser encontrada no coração daquela que mais amou a Jesus nesta terra: a Virgem Maria.

Diante de seu Filho crucificado, de seu Deus adorado, a Virgem Maria sofreu também a paixão de Cristo. A reação humana diante de uma pessoa desfigurada é de virar o rosto, como bem falou o profeta Isaías a respeito da Paixão de Cristo: “ele não tinha mais aparência nem aspecto humano, humilhado e ultrajado, diante dele as pessoas viraram o rosto” (Is 52). Mesmo que a gente se compadeça do sofredor, dentro de nós existe um resquício de egoísmo, que faz com que a gente vire o rosto.  Na verdade, estamos muito mais preocupados com nosso bem-estar do que com o sofrimento do outro. Nós não queremos sofrer. É uma espécie de mecanismo de defesa. Mas diante de seu Filho crucificado, a Virgem Maria não virou o rosto. São Boaventura se perguntava: “Mãe santa, o que fazias diante da cruz? Diante daquele horror, por que estavas ali para viver aquele sofrimento?” E ele mesmo respondia: “Na alma de Maria, ela estava mais preocupada com a dor de seu Filho do que com o horror de seu coração”. A Virgem Maria estava completamente voltada para o seu Filho. Essa foi uma graça que ela recebeu de Deus. Nós, que estamos aos pés da cruz de Cristo como o apóstolo São João, queremos pedir essa graça de também sermos sustentados nessa capacidade de não virar o rosto!

Isso acontece no nosso dia a dia. Quando vamos rezar, sempre nos distraímos na oração. E isso é virar o rosto, porque sei que se eu me aprofundar na oração, posso encontrar uma verdade dolorosa, a verdade da minha alma, da minha realidade de pecador, encontre as ofensas que fiz diante de Deus. Para se preservar da dor e do sofrimento dessa verdade, nos dissipamos em distrações, pelas coisas do mundo. Na verdade, como a Virgem Maria, deveríamos nos voltar totalmente para Cristo crucificado.

Sim, eu e você fomos amados de uma forma muito específica por Jesus. O amor de Cristo é infinito: se pegar esse amor e dividir ao meio, ele continua sendo infinito. Assim, Cristo ama a cada um de nós individualmente, de forma infinita. Tudo o que está sendo vivido ali na Paixão, é vivido por mim! Foi por mim, só por mim, que Cristo morreu na Cruz. Todo aquele sangue, todo aquele sofrimento, toda aquela Paixão, foi por mim.

Na hora da Paixão, Cristo pensou em mim. Na sua alma humana, o Filho tinha cada um de nós individualmente. Jesus, Deus que se fez homem, me amou e pensou em mim. Eu ainda não existia, mas Ele já me tinha diante dos seus olhos. Nesta Sexta-Santa precisamos pedir mais fé: Senhor, eu creio no vosso amor, mas eu não creio de uma forma suficiente. Se eu cresse nesse amor com a profundidade que eu deveria, minha vida seria muito mais diferente. Verdadeiramente, sou eu o causador da Paixão de Cristo. E mesmo assim Ele não deixa de me amar, de me perdoar e de me abrir com o seu santo sacrifício as portas do céu.

Que nesta Semana Santa, abracemos a Cruz de Cristo com o mesmo amor com que a Virgem Maria a acolheu. Que possamos retribuir, ao menos um pouco, o imenso amor com que Cristo nos amou. Deus abençoe!

 

Padre João Paulo Veloso

Arquidiocese de Palmas (TO)