“De agora em diante todas as gerações me chamarão bem-aventurada” (Lc 1, 48).

             Vivendo a graça do Ano Santo Mariano na Igreja do Brasil somos chamados a pensar nas raízes da nossa devoção à Mãe de Deus que estão presentes desde os primórdios na nossa Terra de Santa Cruz!

            Inicialmente gostaria de alertar para os dois perigos opostos, quase sempre presentes quando pensamos na doutrina e no culto à Virgem Maria: O perigo do minimalismo que desconsidera toda e qualquer importância de Maria na história da salvação, e a atitude maximalista, que desviando-se da sã mariologia pelo exagero, chega a atribuir e estender a ela prerrogativas que são somente de Cristo.

            Iniciando o nosso tema precisamos afirmar categoricamente que a devoção à Nossa Senhora teve um papel importantíssimo no processo de evangelização do Brasil. Na verdade, foi por meio dela, que em muitos momentos e lugares, o povo se abriu à mensagem do Evangelho. Como bem disse São Bernardino de Sena, “toda a santa Igreja tem uma dívida para com a Virgem Mãe, por ter recebido a Cristo por meio dela”. E nós, católicos brasileiros, não temos dúvida desta verdade! Poderíamos até dizer que o Brasil, um dos maiores países cristãos do mundo, possui uma dívida de amor e reconhecimento para com Maria, Mãe de Jesus! Aqui também, podemos afirmar tranquilamente, que a Mãe nos apresentou o Filho!

            Como bem sabemos, nossa cultura brasileira foi formada por três povos principais: Os portugueses, os índios e os negros. Sendo os portugueses os nossos colonizadores, fomos evangelizados por um catolicismo mariano! Portanto, não se pode negar que a devoção mariana chegou com os portugueses durante a conquista do Brasil Colônia e teve um imenso alcance na sociedade colonial. Ninguém também tem dúvida de que o catolicismo português era profundamente mariano. Portugal inclusive chegou a chamar-se “Terra de Santa Maria”, e em 1142 foi consagrado a Nossa Senhora.

            No tempo da expansão marítima, na descoberta de nosso continente americano, a Virgem era considerada como a grande protetora dos conquistadores. A figura de Maria estava sempre presente em quase todos os estandartes quando eles chegavam no litoral. Historicamente sabemos que a Esquadra de Cabral trouxe consigo um quadro de Nossa Senhora da Piedade e uma imagem de Nossa Senhora da Esperança. Também sabemos que a primeira capelinha construída em nossas terras no ano de 1503 recebeu o título de Nossa Senhora da Glória. Fomos evangelizados com Maria!

            O Espírito Santo, agente principal e protagonista de todo processo de evangelização aperfeiçoou a relação dos brasileiros com a Mãe de Deus. Isto foi maravilhoso! Só Deus, por meio de Seu Santo Espírito, poderia trazer esta surpresa, fazendo esta santa passagem: Da imposição dos colonizadores à cultura da mensagem salvífica! Explico através dos dois grandes sinais marianos dos nossos povos latinos: Em Guadalupe, México, Maria aparece a um índio com características indígenas e aqui, em Aparecida, Brasil, Maria é encontrada com a cor da pele dos escravos. Sim, povos nativos e negros escravos foram visitados pela Mãe do Senhor! A Senhora dos povos dominadores europeus se tornou Mãe dos pobres e pequenos, dos preferidos do Reino! Maria assume assim a fé, a dor, a esperança e os sonhos dos primeiros brasileiros, nossos antepassados na fé!

            Assim, até hoje a pluralidade das representações marianas constituiu e constitui certamente a promoção da identidade de nosso povo católico brasileiro tão heterogêneo em seus grupos étnicos, em sua cultura religiosa e em sua piedade popular! Nossa devoção mariana traduzida nas igrejas e santuários dedicadas a ela, nas confrarias, nas pequenas comunidades, nas ordens e institutos religiosos,  nas cidades que receberam seu nome ou a possuem como padroeira colaboraram como um instrumento eficaz de confirmação da fé católica brasileira  neste período colonial. Quando pela primeira vez São João Paulo II visitou o santuário de Aparecida, ele percebeu e declarou em um dos seus discursos: “O Amor e a devoção a Maria são um dos traços característicos da religiosidade do povo brasileiro”.

            Em nosso tempo, ávido de equilíbrio e avivamento espiritual, somos chamados a ser gratos pela herança mariana que recebemos; mas também a orientarmos cristologica e eclesiologicamente nossa relação com Maria. Para isto, convém recordar as palavras do Concílio Vaticano II ao falar da devoção correta a Maria: “Na Santa Igreja, Maria ocupa o lugar mais alto depois de Cristo e o mais perto de nós” (LG 54).

            Neste período em que a Igreja do Brasil, pede um Novo Pentecostes para uma Nova Evangelização, conclamando todos os batizados para a missão continental, Maria começa a ser vista como modelo da Igreja missionária em saída, a verdadeira e primeiradiscípula-missionária. Alegremo-nos, por fazermos parte do número incontável de homens e mulheres crentes que no Brasil e no mundo aceitaram pertencer a geração dos que honram a Mãe Daquele que vive e reine com o Pai e o Espírito Santo pelos séculos sem fim. Amém!                                                                                                         

 

Pe. Dudu

Membro do Ministério Cristo Sacerdote

Vice-Postulador para a Causa de Canonização da Beata Elena Guerra