Apresentamos as palavras pronunciadas pelo Papa Francisco neste domingo, 22 de março, aos fiéis e peregrinos presentes na Praça de São Pedro para a tradicional oração do Angelus.
Queridos irmãos e irmãs,
Neste quinto domingo da Quaresma, o evangelista João chama a nossa atenção com um detalhe curioso: alguns “gregos”, judeus, vindos de Jerusalém para a festa da Páscoa, se voltam para o apóstolo Filipe e dizem: “Queremos ver Jesus”(Jo 12, 21). Na cidade santa, onde Jesus foi pela última vez, havia muitas pessoas. Havia os pequenos e simples que acolheram festivamente o profeta de Nazaré reconhecendo-o como o enviado do Senhor. Havia os sumo sacerdotes e chefes do povo que querem elimina-lo porque consideram-no herético e perigoso. E havia também pessoas, como os “gregos”, curiosos para vê-lo e saber mais sobre a sua pessoa e as obras por Ele realizadas, entre as quais – a ressurreição de Lázaro – que causou grande alarde.
‘Queremos ver Jesus’: estas palavras, como tantas outras no Evangelho, ultrapassam determinado episódio e exprimem algo universal; revelam um desejo que atravessa as épocas e as culturas, um desejo presente no coração de tantas pessoas que ouviram falar de Cristo, mas que ainda não o encontraram. ‘Eu quero ver Jesus’, isso sente o coração deste povo.
Respondendo indiretamente, de maneira profética, o pedido para vê-lo, Jesus faz uma profecia que revela a sua identidade e indica o caminho para conhecê-lo verdadeiramente: “Chegou a hora do Filho do Homem ser glorificado” (Jo 12, 23). É a hora da cruz! É o tempo da derrota de Satanás, o príncipe do mal, e do triunfo definitivo do amor misericordioso de Deus. Cristo declara que será “elevado da terra”, uma expressão com duplo significado. (V 32): “elevado” porque crucificado, e “elevado” porque exaltado pelo Pai na Ressurreição, para atrair todos a si e reconciliar os homens com Deus e uns com os outros. A hora da Cruz, a hora mais escura da história, é também a fonte da salvação para todos os que acreditam n’Ele.
Prosseguindo a profecia sobre sua iminente Páscoa, Jesus utiliza uma imagem simples e sugestiva, a do “grão de trigo”, que cai na terra e morre para dar fruto (cf. v. 24). Nesta imagem encontramos um outro aspecto da cruz de Cristo: o da fecundidade. A cruz de Cristo é fecunda. A morte de Jesus, de fato, é uma fonte inesgotável de vida nova, porque traz em si a força regeneradora do amor de Deus. Imerso nesse amor pelo Batismo, os cristãos podem se transformar em “grãos” e produzir muitos frutos se, assim como Jesus, “perdem a própria vida” por amor a Deus e aos irmãos (cf. v. 25).
Por esta razão, àqueles que ainda hoje “querem ver Jesus”, àqueles que estão buscando a face de Deus; que receberam uma catequese quando pequeno e depois não aprofundaram mais, talvez tenham perdido a fé; tantos que ainda não conheceram Jesus pessoalmente…; às todas essas pessoas podemos oferecer três coisas: o Evangelho; o crucifixo e o testemunho da nossa fé, pobre, mas sincera. O Evangelho: nele podemos encontrar Jesus, escutá-lo, conhecê-lo. O crucificado: sinal do amor de Jesus que se entregou por nós. E, depois, uma fé que se traduz em simples gestos de caridade fraterna. Mas principalmente, na coerência de vida, entre o que dizemos e aquilo que vivemos, coerência entre a nossa fé e a nossa vida, entre as nossas palavras e as nossas ações. Evangelho, crucifixo, testemunho. Que Nossa Senhora nos ajude a levar essas três coisas.
Depois do Angelus
Queridos irmãos e irmãs,
Apesar do mal tempo, vocês vieram, muitos, parabéns. Vocês são corajosos, os maratonistas também são corajosos, saúdo-os com afeto. Ontem eu estive em Nápoles para uma vista pastoral, quero agradecer a calorosa acolhida de todos os napolitanos. São ótimos. Muito obrigado!
Hoje é o Dia Mundial da Água, promovido pelas Nações Unidas. A água é o elemento mais essencial para a vida, e da nossa capacidade de cuidar e compartilhar depende o futuro da humanidade. Portanto, incentivo a comunidade internacional a garantir que as águas do planeta sejam devidamente protegidas e ninguém seja excluído ou discriminado no uso desse bem, que é um bem comum por excelência. Como dizia São Francisco de Assis: “Louvado sejas, meu Senhor, pela irmã Água, que é muito útil e humilde e preciosa e casta”(Cântico do Irmão Sol).
Saúdo todos os peregrinos presentes, especialmente o coral do “Conservatorio Profesional de Música” de Orihuela (Espanha), os jovens do Collège Saint-Jean de Passy de Paris, os fiéis da Hungria, e as bandas do Cantão Ticino (Suíça). A Ordem Franciscana Secular de Cremona, UNITALSI da Lombardia, o grupo devotado ao bispo mártir Oscar Romero, que em breve será beatificado; bem como os fiéis de Fiumicino, as crianças da Primeira Comunhão de Sambuceto, os jovens de Ravenna, Milão e Florença, que receberam recentemente ou estão prestes a receber o Crisma.
E agora vamos repetir um gesto já feito no ano passado: de acordo com a antiga tradição da Igreja, durante a Quaresma se entrega o evangelho àqueles que se preparam para o batismo; então, eu ofereço a vocês que estão na Praça um presente, um Evangelho de bolso. Serão distribuídos gratuitamente por alguns moradores de rua que vivem em Roma. Mais uma vez, vemos um gesto muito bonito, que agrada a Jesus: os mais necessitados são os que nos dão a Palavra de Deus, peguem e levem com vocês, leiam frequentemente, todos os dias, levem na bolsa, no bolso, e leiam muitas vezes, um trecho a cada dia. A Palavra de Deus é luz para o nosso caminho! Fará bem a vocês!
Desejo a todos um bom domingo. Por favor, não se esqueçam de rezar por mim. Bom almoço e até logo!”
Fonte: Zenit