Por: Reinaldo Beserra dos Reis
Em todas as suas festividades litúrgicas, a Igreja não cessa de nos ensinar que o que se celebra nessas ocasiões é sempre algum aspecto proveniente de uma missão, do Filho ou do Espírito (que são as duas pessoas da Trindade com missões entre os homens). Mas a honra, a adoração, a celebração devem, na verdade, dirigir-se e homenagear as três Pessoas conjuntamente, pois que “todas as vezes que age para fora de si” (ad extra), Deus o faz, inevitavelmente, pelo operar de Sua tri-unidade.
Assim também, do acontecimento pascal, pode-se, com segurança teológica e doutrinária, afirmar que se trata de um acontecimento da história trinitária de Deus, embora se atribua – e se evidencie – um desempenho singular da parte do Senhor Jesus. A ressurreição é também história do Pai, porque, como nos relata as Escrituras, é antes de tudo uma iniciativa d’Ele, do Pai; “Deus o ressuscitou” (At 2, 24), repete por diversas vezes a Palavra. Mas ela – a ressurreição – é também a história do Filho: “Cristo ressuscitou” (cf. I Ts 4, 14; I Cor 15, 3-5; Rm 8, 34; Mc 16, 4; Mt 27, 64; etc.). E mesmo antes de Sua Páscoa, Jesus já tinha essa consciência de seu papel na ressurreição: “Destruam este templo e em três dias Eu o levantarei” (…). “E Ele falava do templo do seu corpo” (Jo 2, 19-21). E, por fim, podemos também constatar que a ressurreição é a história do Espírito, por cujo poder o Cristo foi ressuscitado. “Morreu segundo a carne, mas foi vivificado segundo o espírito” (I Pd 3, 18). E mais: “Segundo o Espírito de santidade, foi estabelecido Filho de Deus no poder pela ressurreição dos mortos” (Rm 1, 4).
Páscoa, História da Trindade, pois, mas que tem no centro a figura singular do Homem-Deus, Jesus de Nazaré. E é na figura de Jesus de Nazaré que a nossa história cruza os limites do tempo e incita sua caminhada de vitória rumo a novos céus e a nova terra, que nunca passarão. Embora a ressurreição de Jesus seja um evento trans-histórico, ocorrido séculos atrás, ele é de fato um acontecimento que vai muito além de um simples fato histórico, pois o poder e os efeitos de Sua ressurreição permanecem fluindo através da vida do seu povo desde a aurora radiante daquela nova Páscoa.
Nós, que cremos e somos batizados, recebemos aquela “incomensurável grandeza de Seu poder”, que Deus “manifestou na pessoa de Cristo, ressuscitando-O dos mortos e fazendo-O sentar-se à sua direita no céu” (Ef 1, 19-20).
O grande motivo de celebrarmos a ressurreição do Senhor, o fato primeiro que deve encher o nosso coração de júbilo indescritível e de alegre esperança, é este: o grande milagre da Páscoa não é apenas a certeza de que Jesus ressuscitou, mas… de que nós também seremos ressuscitados Nele, com Ele, e por Ele! Aleluia, pois: a morte morreu! A vida eterna existe, e nos é possível; é a nossa herança em Jesus. Pois “se Aquele que ressuscitou Jesus dos mortos habita em vós, Ele, que ressuscitou Jesus Cristo dos mortos, também dará a vida em vossos corpos mortais, pelo Seu Espírito que habita em vós (Rm 8, 11). “Deus, como ressuscitou o Senhor, também ressuscitará a nós pelo seu poder (I Cor 6, 14), Aleluia!
Possa o Espírito Santo aprofundar em nós, por nossa participação na celebração desta Páscoa do Senhor, o sentido e o alcance de Sua ressurreição, a fim de podermos com certo “orgulho espiritual”, dizer, com fé e alegria: “Onde esta, ó morte, a tua vitória?” (I Cor 15, 55a).