Faz parte da vida do cristão esperar o melhor, enxergar as luzes do futuro, construir o dia a dia com os valores do Reino de Deus, sem se cansar, recomeçando sempre, ainda que sejam frágeis nossas mãos e trôpegos os seus passos. Olhamos para a realidade de olhos abertos, positivamente ansiosos por descobrir os rastros da ação do Espírito Santo, que sempre nos precede, e lutamos para oferecer à humanidade, em qualquer época, o que sabemos existir de melhor.
A visão descrita pelo Apocalipse nos faz desejar a morada de Deus com os homens, que chama de “Nova Jerusalém”. Ele vai morar junto deles. Eles serão o seu povo, e o próprio “Deus-com-eles” será seu Deus. Ele enxugará toda lágrima dos seus olhos. A morte não existirá mais, e não haverá mais luto, nem grito, nem dor, porque as coisas anteriores passaram (Cf. Ap 21,1-23). Esta Jerusalém desce do Céu, é presente de Deus, “já” chegou, mas é também preparada e edificada aqui nesta terra, onde quer que se proclame e se espalhe a novidade que vem do Evangelho e, portanto, “ainda não” se manifestou em toda a sua plenitude.
Como ensinou o Concílio Vaticano II (Lumen Gentium 48), “já chegou a nós a plenitude dos tempos (Cf. 1 Cor 10,11), a restauração do mundo foi já realizada irrevogavelmente e, de certo modo, encontra-se já antecipada neste mundo: com efeito, ainda aqui na terra, a Igreja está aureolada de verdadeira, embora imperfeita, santidade. Enquanto não se estabelecem os novos céus e a nova terra em que habita a justiça (Cf. 2 Pd 3,13), a Igreja peregrina, nos seus sacramentos e nas suas instituições, que pertencem à presente ordem temporal, leva a imagem passageira deste mundo e vive no meio das criaturas que gemem e sofrem as dores de parto, esperando a manifestação dos filhos de Deus” (Cf. Rm 8, 19-22).
Caminhamos na esperança, confiantes nas promessas do Senhor, sabendo que por melhores que sejam todos os esforços humanos, o que Deus preparou para os que o amam supera infinitamente nossas capacidades e nos levará à realização plena de todas as justas aspirações plantadas por Ele mesmo nos corações. “O que Deus preparou para os que o amam é algo que os olhos jamais viram, nem os ouvidos ouviram, nem coração algum jamais pressentiu. A nós, Deus revelou esse mistério por meio do Espírito” (1 Cor 2,9-10).
O cristão peregrino, rumo ao Absoluto de Deus, carrega consigo alguns tesouros. Conhecê-los possibilita oferecê-los também a muitas outras pessoas, já que não podemos guardar escondidos os dons que Deus destinou a todos, por ser universal seu desígnio de salvação. Quando Jesus fez seus discursos de despedida, diante do evidente constrangimento de seus medrosos discípulos (Cf. Jo 14,27), garante-lhes sua presença permanente: “Se alguém me ama, guardará a minha palavra; meu Pai o amará, e nós viremos e faremos nele a nossa morada” (Jo 14,23). Não se trata de uma presença caracterizada por relâmpagos, luzes ou terremotos, mas muito viva, real e serena. Ama a Deus quem guarda e vive a sua Palavra. E vai morar o próprio Senhor no coração de quem dá este passo. O Pai e o Filho habitam em quem vive a Palavra de Deus! Esta tem a extraordinária força para transformar o mundo. Quem a acolhe vive como pessoa renovada interiormente e ao mesmo tempo capaz de semear a novidade em torno de si.
Inigualável tesouro é ainda a ação do Espírito Santo, prometido por Jesus: “O Defensor, o Espírito Santo que o Pai enviará em meu nome, ele vos ensinará tudo e vos recordará tudo o que eu vos tenho dito” (Jo 14,26). Para garantir-nos a veracidade de suas palavras, Jesus promete nada menos do que o Espírito Santo, dado em penhor a cada fiel! Daí nasce a coragem com que as sucessivas gerações de cristãos enfrentaram as dificuldades da missão evangelizadora. E a Igreja suplica incessantemente a ação do Espírito que vem!
Também nós olhamos para frente e para o alto, dispostos a fermentar com o Evangelho de Cristo todos os recantos da vida humana, com renovado ardor missionário. Não cabe desânimo no coração do cristão, pois não caminha sozinho, sustentado apenas pelas próprias forças. Entende-se assim a força com que o Papa estimula a ação missionária da Igreja: “Que toda a pastoral seja missionária. Devemos sair de nós mesmos e ir para as periferias existenciais e crescer na “paresia”, que quer dizer audácia para anunciar com coragem o Evangelho. Uma Igreja que não sai de si, mais cedo ou mais tarde adoece na atmosfera viciada de seu confinamento. Também é verdade que uma Igreja que sai pode se acidentar. Diante disso, quero lhes dizer francamente que prefiro mil vezes uma Igreja acidentada que uma Igreja doente. A enfermidade típica da Igreja confinada é o auto-referencial, que olha para si mesma. É uma espécie de narcisismo que nos leva ao mundanismo espiritual e ao clericalismo sofisticado, e nos impede de experimentar a doce reconfortante alegria de evangelizar” (Papa Francisco, Mensagem aos Bispos Argentinos).
Sejamos dignos das promessas de Cristo, assumindo com renovada audácia os desafios do presente e do futuro!
Dom Alberto Taveira Corrêa
Assessor Eclesiástico da RCCBRASIL
Arcebispo Metropolitano de Belém
Fonte: Zenit