Vigiai, portanto, porque não sabeis quando o dono da casa vem: à tarde, à meia-noite, de madrugada, ou ao amanhecer. Para que não suceda que vindo de repente, ele vos encontre dormindo. O que vos digo, digo a todos: Vigiai! (Mc 13, 35-37).

 

 “O que vos digo, digo a todos: vigiai!”. Nesse tempo do Advento nos é pedida uma alegre expectativa, e nesse primeiro domingo do ano B, no qual meditaremos o Evangelho de Marcos, é ordenado a cada um de nós: Vigiai! Em grego, “gregoreite”, advindo do verbo “egueiro”, quer dizer ficar em pé. Ficai atentos, ficar de pé na posição de ressuscitados.

O bom empregado que vigia é aquele que contempla o mundo buscando os sinais de Deus e assim segue o Senhor através de suas boas obras que brotam em seu coração. Mas precisamos nos aprofundar no sentido desse verbo vigiar, para não cairmos em erro ao interpretarmos as Sagradas Escrituras (Cf. Mt 22,29).

Um exemplo é o que nos traz a primeira carta de São Paulo aos Coríntios: “Vigiai! Sede firmes na fé! Sede homens! Sede fortes!” (1 Cor 16,13). O vigiar é associado com estar firme na fé e na força que vem do Senhor, e a virilidade que está associada à prática das virtudes. Vejamos também a carta aos Colossenses: “Sede perseverantes, sede vigilantes, na oração, acompanhada de ações de graças” (Cl 4,2). É o mesmo verbo na língua grega, egueiro, estar vigilante é na oração, na intimidade com o Senhor, em ações de graças, sempre agradecidos a Deus que nos chama para estar com Ele.

A carta aos tessalonicenses foi o primeiro escrito do Novo Testamento (escrita pelo ano cinquenta do primeiro século), até antes do Evangelho de Marcos que estamos analisando, e nela fica ainda mais claro o que o Senhor quer dizer por vigiar. “Porque todos vós sois filhos da luz e filhos do dia. Não somos da noite nem das trevas. Não durmamos, pois, como os demais. Mas vigiemos e sejamos sóbrios” (1 Ts 5,5-6).

Quando Jesus nos diz para não encontrar o dono da casa dormindo, não quer dizer a morte ou o sono natural, mas não estar preparado com as boas obras. E, São Paulo, segue a mesma linha ao afirmar que devemos estar sóbrios, que é o oposto de embriagado (Cf. 1 Ts 5,7). Mais adiante fica mais clara essa ideia: “Ele morreu por nós, a fim de que nós, quer em estado de vigília, quer de sono, vivamos em união com Ele” (1 Ts 5,10). Aqui fica evidente o sentido de vigiar, é estar em união com o Senhor, união de pensamento, união de vontade, união de amor e principalmente união espiritual que nos faz praticar as ações de acordo com sua vontade, e essas ações serem uma verdadeira ação de graças a Deus, um verdadeiro louvor. Porém, o que nós vemos muitas vezes, é que a interpretação desse vigiai beira uma paranoia vazia. Grandes cartazes, nos quais está escrito: “Jesus está voltando!” não garante em nada que as pessoas se convertam, e se se converterem será que esta conversão é verdadeira?

O nosso desejo da vinda do Senhor deveria ser como na primeira leitura desse primeiro domingo do Advento, na qual o Profeta Isaías exclama: “Ah! Se rompesses os céus e descesses!” (Is 63,19b). E para ficar mais claro de como essa passagem concorda com o verdadeiro sentido do “Vigiai!” do Evangelho, o profeta nos diz: “Vens ao encontro de quem pratica a justiça com alegria, de quem se lembra de ti em teus caminhos” (Is 64,4). O profeta nos deixa claro o que é a posição de quem vigia, pratica a justiça, mas não com medo como o terceiro servo da parábola dos talentos, que enterra o talento por medo do Senhor (Cf. Mt 25, 24); mas o Senhor vem ao encontro de quem pratica a justiça, a virtude da justiça, com alegria. Esse é o servo que o Senhor quer encontrar quando voltar! Servo que quando caminha, isto é, quando pratica obras de justiça, vive o caminho reto, lembra-se do Senhor, porque sabe que o Senhor cuida dele.

Concluindo, peçamos que nós tenhamos uma verdadeira espiritualidade do Advento, de esperar o Senhor que vem, numa verdadeira vigília de quem pratica as virtudes e ama o Senhor que vem. Renunciemos a todo medo do terceiro servo da parábola dos talentos, peçamos que o Senhor nos cure de toda falsa imagem que temos d’Ele, mas como felizes crianças que vão ao encontro do pai, e que o ama e quer estar junto dele, assim sejamos esses filhinhos (Cf. Jo 13, 33) que vão ao encontro do Senhor que vem.

Feliz Advento a todos! 

 

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Padre Micael Moraes
Instituto Missionário Servos de Jesus Salvador