Por Sueli Tronco
Caxias do Sul/RS

“Meu espírito se compraz em três coisas que têm a aprovação de Deus e dos homens: a união entre os irmãos, o amor entre os parentes e um marido que vive bem com sua mulher”. – Eclesiástico 25, 1-2

Vejam que o texto diz que essas três coisas agradam o Senhor. Alegram o Senhor: a união entre os irmãos, o amor entre os parentes e um marido que vive bem com sua mulher. Mas o texto diz também que essas três coisas não apenas agradam e alegram o Senhor, mas também têm a aprovação dos homens.

Na realidade, todos nós ganhamos com a unidade, o amor, o entendimento na família e com as outras pessoas. Deus fica feliz e derrama Suas bênçãos. Nós ficamos felizes e ganhamos as bênçãos do Senhor, e as pessoas que estão à nossa volta também ficam felizes e recebem bênçãos.

Mas, se fosse o contrário, se houvesse raiva e desentendimento, ciúmes, etc., entre irmãos e na família, dos vizinhos e parentes, perderiam todos. Desagradamos a Deus, e fica um ambiente muito ruim. Passamos a perder a confiança nas pessoas, pois ficamos desconfiados o tempo todo de que estejam tramando algo contra, de que estejam falando mal de nós, e perdemos a paz. E isso tudo, com certeza, não traz bênçãos para a nossa vida.

Começamos a erguer muros de divisão ao redor, muros de separação, e, como cristãos que somos, o amor deveria ser a raiz e o alicerce da vida.

Conhecemos aquele texto de Coríntios 13 (2-3), que diz: “Mesmo que eu tivesse o dom da profecia e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência, mesmo que tivesse toda a fé, a ponto de transportar montanhas, se não tiver caridade, não sou nada. Ainda que eu distribuísse todos os meus bens em sustento dos pobres e ainda que entregasse o meu corpo para ser queimado, se não tiver caridade, de nada valeria”.

Quando há desentendimentos, três problemas normalmente andam juntos: ciúmes, orgulho e teimosia.

As pessoas de Nazaré, que viram Jesus crescer, tinham ciúmes de Jesus, inveja, porque diziam: “Não é ele Jesus, o filho de Maria, o carpinteiro?”. No fundo, era como se dissessem: “Quem ele pensa que é para dizer que faz milagres? Que sabedoria é essa que lhe foi dada? Por que não foi dada a nós também?”.

Mas, além de ciúme, o orgulho e a teimosia também estão presentes nessa passagem, porque as pessoas não quiseram admitir, por orgulho e teimosia, os sinais da divindade de Jesus.

E diz o texto que naquele lugar Jesus não fez nenhum milagre.

O ciúme, a inveja, o orgulho, a teimosia fazem com que percamos as graças de Deus e com que suas bênçãos não cheguem a nós. Como isso é comum em nossas famílias: ciúmes entre irmãos, ou porque acham que os pais gostam mais de um do que de outro, ou porque um tem mais que o outro, ou por motivos de herança, ou por uma palavra que um irmão, uma irmã, ou mesmo o pai e a mãe, ou um cunhado, cunhada, sogro, sogra, etc. disseram! Quanta raiva, quanto ódio por palavras ditas! E, muitas vezes por coisas que aconteceram e foram mal interpretadas, guardamos ódio pelo resto da vida.

Vejam Caim e Abel. Caim mata Abel por ciúmes, porque ele achava que Deus gostava mais de Abel do que de Caim. Após a morte de Abel, o Senhor disse a Caim: “Onde está o teu irmão Abel?”. Caim respondeu: “Não sei! Sou porventura eu o guarda do meu irmão?”. E o Senhor disse-lhe: “Que fizeste? Eis que a voz do sangue do teu irmão clama por mim desde a terra. De ora em diante, serás maldito e expulso da terra, que abriu sua boca para beber de tua mão o sangue de teu irmão. Quando a cultivares, ela te negará os seus frutos. E tu serás peregrino e errante sobre a terra” (Gn 4, 9-12).

Quantos casos nós sabemos de ódio em famílias, os quais inclusive terminaram em morte! Tudo por ciúmes. Vejam que, mais uma vez, as bênçãos de Deus não foram dadas a Caim.

Temos também a história de José que, por ciúmes e inveja, foi vendido como escravo por seus irmãos a uma caravana de ismaelitas que estavam indo para o Egito. O resto da história nos mostra como José foi abençoado mais tarde, tornando-se o administrador de todo o Egito, enquanto seus irmãos passavam fome em Israel.

A unidade, o amor e o entendimento entre irmãos, parentes, cônjuges não é uma ‘opção’, mas uma condição para receber as bênçãos de Deus em nossas famílias, lares, igrejas, escritórios, comunidades, país, etc.

O salmo 132 diz:

“Oh, como é bom, como é agradável, para irmãos unidos viverem juntos.
É como um óleo suave derramado sobre a fronte,
e que desce para a barba, a barba de Aarão,
para correr em seguida até a orla de seu manto.
É como o orvalho do Hermon, que desce pela colina de Sião;
por ali derrama o Senhor a vida e uma bênção eterna”.

No Antigo Testamento, quando este salmo foi escrito por Davi, o óleo era símbolo do Espírito Santo. Derramar óleo sobre a cabeça de uma pessoa simboliza que ela está recebendo a unção do Espírito Santo. Temos também nesse salmo a imagem do monte Hermon, dizendo que a harmonia entre irmãos é como o orvalho descendo pelo Hermon. O que significa aqui ‘orvalho’? Significa um frescor matinal, algo bom, refrescante, sendo derramado sobre solo sequioso, sobre clima quente e seco, que causa mal estar às pessoas.

A harmonia entre irmãos é o Espírito Santo sobre nós, ungindo-nos, abençoando-nos. É como algo refrescante nos dando uma sensação de bem-estar, de alívio, de frescor. Vejamos o último versículo do Salmo 132: “por ali derrama o Senhor a vida e uma bênção eterna”. E nas famílias que se dão bem, nas comunidades que se dão bem, nos colegas de trabalho que se dão bem, nos vizinhos que se dão bem, que o Senhor derrama a vida e uma bênção eterna.

Alguns podem se justificar, dizendo: “Ah, mas tu não conheces o meu vizinho”, ou “Tu não sabes o que o meu irmão me fez”, ou “Não consigo esquecer o que a minha cunhada me disse”, ou “O meu pai deu tudo para ele e nada para mim” e assim por diante.

É claro que essas coisas acontecem, porque fazem parte da vida. Devemos, sim, é nos lembrar de que as pessoas são diferentes umas das outras: umas são mal-humoradas, outras fechadas, outras teimosas, outras insensíveis, outras não possuem bons modos e começam a falar tudo que se passa em suas mentes. Mas a Bíblia diz que somos todos irmãos e irmãs em Cristo. E de que adianta querermos ser cristãos se não nos tratamos como irmãos e irmãs em Cristo? Se praticamos os mandamentos (não roubar, não matar, não cobiçar a mulher do próximo etc.), mas deixamos Jesus fora de nossos relacionamentos sociais? É claro que as coisas não são sempre fáceis, e que nossos relacionamentos não são sempre perfeitos. Mas temos que nos esforçar, fazer a nossa parte para que Jesus esteja presente em cada um de nossos relacionamentos e para que o que Ele nos ensinou e nos ensina seja colocado em prática em cada vivência.

O apóstolo Paulo disse: “Sede solícitos em conservar a unidade do Espírito no vínculo da paz” (Ef 4, 3). Outra versão da Bíblia diz: “Esforçando-vos diligentemente por preservar a unidade do Espírito no vínculo da paz”. Unidade é responsabilidade nossa, de cada um. Minha e tua, e não só do outro. Se ele errou, eu, como cristão, tenho a responsabilidade de fazer de tudo para restabelecer a unidade com aquele irmão, para que dessa forma haja paz.

Só há paz se existe harmonia entre irmãos, vizinhos, maridos, cônjuges, nações.

Aproveite que um novo ano está iniciando. Pare, analise, questione-se e reflita como anda sua vida no que tange a unidade consigo e com o próximo.

Estamos nos esforçando, como cristãos, para buscar e manter essa unidade?

Os casais estão se esforçando para viver bem e em harmonia, para se perdoar e se amar?

Os irmãos e irmãs estão se esforçando para buscar o perdão e a reconciliação?

Estamos colocando Jesus em nossos relacionamentos sociais, familiares, profissionais, ou O deixamos de fora?

Fonte: Revista Renovação, edição 42, janeiro