Um reencontro entre a Igreja e o mundo da arte: com este objetivo, Bento XVI convocou, no último dia 21 de novembro, na Capela Sistina, mais de 260 artistas de renome internacional. Seus convidados compreenderam este propósito?
A agência de notícias católica Zenit reuniu os comentários que os jornalistas puderam recolher entre os participantes. Em geral, todos coincidem em constatar que esta audiência constitui um primeiro passo, como reconheceu o diretor de cinema polonês Kristof Zanussi.
“Esta é nossa expectativa – assegura o cineasta: algo mais de ação por parte da Igreja para dar um passo rumo ao mundo do espetáculo, dos artistas. Sabemos que os artistas, por sua vez, não darão nunca nenhum passo.”
Zanussi considera que as “belíssimas palavras do Santo Padre trazem mais diálogo, mais abertura, mais conhecimento entre o mundo da arte e a Igreja”. Mas ao mesmo tempo é realista, pois “a arte de hoje está em decadência, porque não há nenhum limite”.
“Não acho que a Igreja limita a liberdade, mas precisamos de inspirações, pois a arte, incluída a arte sagrada, com frequência é de baixíssima qualidade, não se inspira em uma dimensão espiritual”, acrescenta.
O ator e produtor mexicano Eduardo Verástegui, que mora atualmente em Los Angeles e é conhecido por sua participação no filme Bella, confessou que este encontro com o Papa foi “um sonho feito realidade”.
“A Igreja criou cumes de arte na história e estar na Capela Sistina, com o Santo Padre, cercado por toda esta arte, acompanhado por artistas de todas as expressões, é algo histórico. E tudo isso em silêncio, oração e reflexão. É algo que enriqueceu muito todos os que estavam presentes”, afirma.
Divórcio Igreja-arte
O motivo que levou o Papa a convocar este encontro é o mesmo que inspirou Paulo VI, quando organizou um encontro semelhante, neste mesmo cenário, há 45 anos (no dia 7 de março de 1964): o dramático divórcio que se verificou, sobretudo no século XX, entre a Igreja e o mundo artístico.
Bento XVI, inspirando-se nas palavras do seu predecessor, Giovanni Battista Montini, assumiu o compromisso de “restabelecer a amizade entre a Igreja e os artistas” e lhes pediu para “fazer o que lhes corresponde e compartilhá-lo, analisando com seriedade e objetividade os motivos que turbaram esta relação, assumindo, cada um com valentia e paixão, a responsabilidade de um renovado e profundo itinerário de conhecimento e de diálogo, frente a um autêntico ‘renascimento’ da arte no contexto de um novo humanismo”.
O diretor de cinema italiano Pupi Avati, talvez o mais exitoso em seu país neste momento, fez este balanço do encontro: “Parece-me que este encontro deu um resultado totalmente extraordinário. E isso digo eu, que esperava ver uma série de colegas de diferentes expressões artísticas, porém mais ou menos ligados à mesma ideia confessional, de prática mais ou menos religiosa”.
“Pelo contrário, e isso foi verdadeiramente milagroso: vimos colegas procedentes precisamente dos âmbitos mais afastados. Portanto, acolheram este convite já não à colaboração, que me parece uma palavra excessiva, mas sim ao diálogo. Parece que foi uma ideia extraordinária que supera muito as previsões.”
Comentários parecidos foram recolhidos, por exemplo, de Zaha Hadid, a arquiteta iraquiana mundialmente conhecida, que estava na primeira fila na Capela Sistina; ela confessou que espera que este seja o início de um diálogo, “pois é oportuno enfrentar os temas expostos pelo Papa”.
Beleza transcendente
A escritora italiana Susanna Tamaro sublinhou a importância da dimensão transcendente que Bento XVI deu à beleza, pois, “para quem não tem fé, é difícil falar de esperança neste momento”.
O diretor de cinema israelense Samuel Maoz, Leão de Ouro no Festival de Cinema de Veneza com o filme “Lebanon”, declarou: “Acho que o Papa disse um grande ‘não’ ao ódio e à guerra e um grande ‘sim’ ao amor e à arte”.
O Papa se mostrou de acordo com os artistas ao sinalizar que este encontro é o início, não o final de um caminho; de fato, ele se despediu deles com um arrivederci (até logo).
O organizador da audiência, arcebispo Gianfranco Ravasi, presidente do Conselho Pontifício para a Cultura, explicou que este encontro “deve ser entendido como o início de um diálogo novo, baseado na fraternidade entre fé e arte. Procuraremos organizar outro encontro, talvez novamente com o Papa”.
Neste sentido se enquadra o projeto, revelado pelo próprio prelado italiano, de criar pela primeira vez um pavilhão da Santa Sé na Bienal de Veneza, uma das exposições internacionais de arte de maior prestígio, cuja próxima edição acontecerá em 2011.
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