Por Padre Angelo del Favero
Irmãos, Cristo ressuscitou dos mortos, primícias daqueles estão mortos. Como de fato em Adão todos morrem, assim em Cristo todos recebem a vida: primeiro Cristo, as primícias; depois, na sua vinda, aqueles que são de Cristo.
“O templo de Deus que está no céu se abriu, e apareceu no templo a arca da sua aliança. Houve relâmpagos, vozes, trovões, terremotos e uma grande tempestade de granizo. Um sinal grandioso apareceu no céu: uma Mulher vestida com o sol, tendo a lua sob os pés e sobre a cabeça uma coroa de doze estrelas; estava grávida e gritava, entre as dores do parto, atormentada para dar à luz. Apareceu então outro sinal no céu: um grande Dragão… O Dragão colocou-se diante da Mulher que estava para dar à luz, a fim de lhe devorar o filho, tão logo nascesse. Ela deu à luz um filho, um varão, que irá reger todas as nações com um cetro de ferro. Seu filho, porém, foi arrebatado para junto de Deus e de seu trono… e a Mulher fugiu para o deserto, onde Deus lhe havia preparado um lugar … Ouvi então uma voz forte no céu, proclamando: ‘Agora realizou-se a salvação, o poder e a realeza do nosso Deus, e a autoridade do seu Cristo’” (Ap 11,19a; 12,1-6a.10ab)
“Naqueles dias, Maria pôs-se a caminho para a região montanhosa, dirigindo-se apressadamente a uma cidade de Judá. Entrou na casa de Zacarias e saudou Isabel. Ora, quando Isabel ouviu a saudação de Maria, a criança lhe estremeceu no ventre e Isabel ficou repleta do Espírito Santo. Com um grande grito, exclamou: ‘Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto de teu ventre! Donde me vem que a mãe do meu Senhor me visite?’. (…) Maria, então, disse: ‘Minha alma engrandece o Senhor’” (Lc 1,39-56).
“A imaculada Mãe de Deus, a sempre virgem Maria, terminado o curso da vida terrestre, foi assunta em corpo e alma à glória celestial”: estes são os termos concisos da proclamação dogmática da Assunção de Maria Santíssima ao céu (Pio XII, “Munificentissimus Dominum”, 1950).
E assim anunciado pela Igreja ao mundo inteiro que, junta a “Cristo ressuscitado dos mortos, primícias dos que adormeceram” (1Cor 15,20), no paraíso atualmente já está presente em alma e corpo sua Mãe Maria, ainda que a hora da segunda vinda de Jesus não tenha ainda chegado (1Cor 15,23).
Ao definir o dogma da Assunção, deliberadamente Pio XII não responde às perguntas relativas ao desaparecimento de Maria: onde, como, quando Ela morreu?
Do ponto de vista histórico, podemos dizer apenas que ignoramos quase tudo, mas o beato João Paulo II ensinou que o fato constitutivo humano do morrer é afirmado também pela Mãe de Jesus: “A experiência da morte enriqueceu a pessoa da Virgem: passando pela sorte comum dos homens, Ela é capaz de exercitar com mais eficácia a sua maternidade espiritual para com aqueles que estão na hora suprema de suas vidas” (Audiência Geral, 25 de junho de 1997).
Na encíclica Redemptoris Mater, João Paulo II escreveu que a maternidade amorosa de Maria abraça e defende toda a humanidade, como se fosse um filho único. “Maria, presente na Igreja como Mãe do Redentor, participa maternalmente na luta contra o poder das trevas que acontece em toda a história humana” (nº 47).
À luz da Palavra de Deus, o papa enfatiza a luta dramática e ímpar entre a arrogância diabólica do mal e a fragilidade do bem, que está todos os dias diante dos nossos olhos.
São João a descreve no Apocalipse, referindo-se historicamente às perseguições contra os cristãos no Império Romano. Bento XVI faz o seguinte comentário sobre os dois grandes sinais que ele viu:
“Primeiro, o dragão vermelho, fortíssimo, com uma manifestação impressionante e inquietante do poder sem a graça, sem o amor, do egoísmo absoluto, do terror, da violência… O poder militar, político, propagandístico do Império Romano diante do qual a fé, a Igreja, aparecia como uma mulher indefesa, sem nenhuma chance de sobreviver, muito menos de vencer. E, no entanto, sabemos que no fim quem venceu foi a mulher indefesa; não foi o egoísmo nem o ódio que venceu; foi o amor de Deus. E o Império Romano se abriu à fé cristã. As palavras da escritura sempre transcendem o momento histórico” (Homilia da Assunção, 2007).
Esta última afirmação de Bento XVI sobre o valor meta-histórico das Escrituras não significa a ausência de um vínculo profundo e significativo entre a Palavra e a vida presente. Ele logo acrescenta: “Nós vemos que ainda hoje o dragão quer devorar o Deus que se fez menino”.
Aqui, o dragão que ameaça a mulher e a criança, que ameaça a Igreja, ameaça o próprio Deus. Ameaça Deus porque ameaça o homem. Sim, porque desde que Deus se fez um de nós, o destino de cada um de nós é também o destino de Deus.
A encíclica Evangelium Vitae (25 de março de 1995) o ensina explicitamente: “Na carne de cada pessoa, Cristo continua a revelar-se e a entrar em comunhão conosco, de modo que a rejeição da vida humana, nas suas várias formas, é realmente uma rejeição de Cristo” (nº 104).
O símbolo do dragão infernal faz pensar nas muitas formas de violência brutal do homem contra o homem. Entre elas, é emblemático o que acontece na China há décadas, com a imposição de abortos criminosos, aos quais milhões de mulheres são obrigadas.
Imagens terríveis deste furor mostraram recentemente o cadáver de um filho assassinado colocado ao lado da mãe: uma monstruosidade que a mídia mundial denuncia, ainda que timidamente, há anos, e que traz o nome estratégico de “política do filho único”.
Mas esta denúncia, para não ser parcial e enganosa, não pode deixar de reconhecer também que o “grande dragão vermelho” continua a devorar milhões de crianças na maioria das nações do mundo, graças à indiferença quase geral dos meios de comunicação e daqueles que estão no poder político.
Na Itália, em particular, não existe oficialmente a “política do filho único”, mas há uma cultura perversa, inevitavelmente acompanhada pela “política” da liberdade de escolha de matar as crianças concebidas e indesejadas: seja diretamente (Lei 194, Normas para a proteção social da maternidade e da interrupção voluntária da gravidez), seja indiretamente (Lei 40: Normas sobre a procriação medicamente assistida).
Há quem pense que, quando escolhido voluntariamente, o aborto não é uma violência contra a mulher. Falso! É justamente quando é voluntário que o aborto destrói, além do filho, também a pessoa da mãe, moralmente. Pelo simples fato de querer suprimir o fruto do próprio ventre, a mãe nega a si mesma, nega a sua consciência e o seu ser materno, como bem indica e sempre indicará em todo o mundo a conhecida “síndrome pós-aborto”.
Se considerarmos o lado oposto, do pretenso direito de ter um filho, veremos que a mulher que apela para a fertilização in vitro, quando dá o aval à matança “técnica” de uma dúzia de seus pequenos filhos no afã de conseguir “ter um nos braços”, se deixa envolver objetivamente por um contexto moral ainda mais horrível do que o da China.
O que dizer, então, como conclusão de tudo isto e à luz do sinal luminoso de Maria Assunta?
Com a palavra, Bento XVI: “Não temam por esse Deus aparentemente fraco. A luta já foi vencida. Este Deus frágil é forte: é a verdadeira força. E, assim, a festa da Assunção é um convite a confiarmos em Deus. Olhemos para Maria, que foi assunta. Deixemo-nos encorajar à fé e à festa da alegria: Deus vence! A fé aparentemente frágil é a verdadeira força do mundo. O amor é mais forte do que o ódio” (Homilia da Assunção).
Fonte: ZENIT