Apresentamos a seguir a catequese dada pelo Papa Bento XVI na Praça de São Pedro, na quarta-feira passada.
* * *
A oitava de Páscoa
Queridos irmãos e irmãs!
A habitual Audiência geral da quarta-feira está hoje inundada pela alegria luminosa da Páscoa. De facto, nestes dias a Igreja celebra o mistério da Ressurreição e experimenta a grande alegria que lhe provém da boa nova do triunfo de Cristo sobre o mal e sobre a morte. Uma alegria que se prolonga não só na Oitava de Páscoa, mas que se propaga por cinquenta dias até ao Pentecostes. Depois do choro e do temor da Sexta-Feira Santa, e após o silêncio cheio de expectativa do Sábado Santo, eis o anúncio maravilhoso: “Deveras o Senhor ressuscitou e apareceu a Simão!” (Lc 24, 34). Esta, em toda a história do mundo, é a “boa nova” por excelência, é o “Evangelho” anunciado e transmitido ao longo dos séculos, de geração em geração.
A Páscoa de Cristo é o acto supremo e insuperável do poder de Deus. É um acontecimento extraordinário, o fruto melhor e mais maduro do “mistério de Deus”. É tão extraordinário, que se torna inenarrável naquelas suas dimensões que se furtam à nossa capacidade humana de conhecimento e de averiguação. E contudo ele é também um facto “histórico”, real, testemunhado e documentado. É o acontecimento que funda toda a nossa fé. É o conteúdo central no qual cremos e o motivo principal pelo qual acreditamos.
O Novo Testamento não descreve a Ressurreição de Jesus no seu actuar-se. Refere apenas os testemunhos de quantos Jesus encontrou pessoalmente depois de ter ressuscitado. Os três Evangelhos sinópticos narram-nos que aquele anúncio – “Ressuscitou!” – é proclamado inicialmente por alguns anjos. É portanto um anúncio que tem origem em Deus; mas Deus confia-o imediatamente aos seus “mensageiros”, para que o transmitam a todos. E assim são os próprios anjos que convidam as mulheres, que foram de manhã cedo ao sepulcro, a irem imediatamente dizer aos discípulos: “Ele ressuscitou dos mortos e vai preceder-vos a caminho da Galileia; lá O vereis” (Mt 28, 7). Deste modo, mediante as mulheres do Evangelho, aquele mandato divino alcança todos e cada um para que, por sua vez, transmitam aos outros, com fidelidade e coragem, esta mesma notícia: uma notícia bela, jubilosa e portadora de alegria.
Sim, queridos amigos, toda a nossa fé se funda na transmissão constante e fiel desta “boa nova”. E nós, hoje, queremos manifestar a Deus a nossa profunda gratidão pelas numerosas multidões de crentes em Cristo que nos precederam nos séculos, porque nunca faltaram ao seu mandato fundamental de anunciar o Evangelho que tinham recebido. A boa nova da Páscoa, por conseguinte, exige a obra de testemunhas entusiastas e corajosas. Cada discípulo de Cristo, também cada um de nós, é chamado a ser testemunha. É este o exacto, empenhativo e exaltante mandato do Senhor ressuscitado. A “notícia” da vida nova em Cristo deve resplandecer na vida do cristão, deve ser viva e activa em quem a anuncia, realmente capaz de mudar o coração, toda a existência. Ela é viva antes de tudo porque o próprio Cristo é a sua alma vivente e vivificante. Recorda-no-lo São Marcos no final do seu Evangelho, quando escreve que os Apóstolos “partiram e foram pregar por toda a parte, e o Senhor cooperava com eles, confirmando a sua Palavra com os milagres que a acompanhavam” (Mc 16, 20).
A vicissitude dos Apóstolos é também a nossa e a de cada crente, de cada discípulos que se faz “anunciador”. De facto, também nós temos a certeza que o Senhor, hoje como ontem, coopera com as suas testemunhas. Este é um facto que podemos reconhecer todas as vezes que vemos rebentar os germes de uma paz verdadeira e duradoura, onde o compromisso e o exemplo de cristãos e de homens de boa vontade é animado pelo respeito à justiça, pelo diálogo paciente, por estima convicta em relação aos outros, por abnegação, sacrifício pessoal e comunitário. Infelizmente vemos no mundo também tanto sofrimento, tanta violência e inúmeras incompreensões. A celebração do Mistério pascal, a contemplação jubilosa da Ressurreição de Cristo, que vence o pecado e a morte com a força do Amor de Deus é a ocasião propícia para redescobrir e professar com mais convicção a nossa confiança no Senhor ressuscitado, o qual acompanha as testemunhas da sua palavra realizando prodígios juntamente com eles. Seremos deveras e profundamente testemunhas de Jesus ressuscitado quando deixarmos transparecer em nós o prodígio do seu amor; quando nas nossas palavras e, mais ainda, nos nossos gestos, em total coerência com o Evangelho, se puder reconhecer a voz e a mão do próprio Jesus.
Portanto, em toda a parte, o Senhor envia-nos como suas testemunhas. Mas só o podemos ser a partir e em referência contínua com a experiência pascal, a que Maria de Magdala expressa anunciando aos outros discípulos: “Vi o Senhor” (Jo 20, 18). Neste encontro pessoal com o Ressuscitado estão o fundamento inabalável e o conteúdo central da nossa fé, a nascente fresca e inexaurível da nossa esperança, o dinamismo fervoroso da nossa caridade. Assim a nossa própria vida cristã coincidirá plenamente com o anúncio: “Deveras, Cristo Senhor ressuscitou”. Por isso, deixemo-nos conquistar pelo fascínio da Ressurreição de Cristo. A Virgem Maria nos ampare com a sua protecção e nos ajude a apreciar plenamente a alegria pascal, para que, por nossa vez, a saibamos levar a todos os nossos irmãos.
Mais uma vez, Boa Páscoa a todos!
Saudação
Queridos peregrinos vindos de Lisboa e demais localidades de língua portuguesa, a minha saudação amiga para todos vós, com votos duma boa continuação de santa Páscoa! Que o Ressuscitado seja sempre o centro da vossa fé, a fonte da vossa esperança e o dinamismo ardente da vossa caridade. Sobre vós e vossas famílias, desça a minha Bênção Apostólica.
© Copyright 2010 – Libreria Editrice Vaticana