Apresentamos a intervenção que Bento XVI dirigiu neste domingo (14) ao meio-dia, ao rezar a oração mariana do Angelus com os peregrinos na praça de São Pedro.
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Queridos irmãos e irmãs:
Neste quarto domingo da Quaresma, proclama-se o Evangelho do pai e dos dois filhos, mais conhecido como a parábola do “filho pródigo” (Lucas 15, 11-32). Esta passagem de São Lucas constitui um marco da espiritualidade e da literatura de todos os tempos. De fato, que seriam nossa cultura, a arte e, mais em geral, nossa civilização sem esta revelação de Deus Pai cheio de misericórdia? Não deixa nunca de nos comover, e cada vez que a escutamos ou a lemos, tem a capacidade de nos sugerir sempre novos significados. Este texto evangélico tem sobretudo o poder de nos falar de Deus, de nos dar a conhecer seu rosto, mais ainda, seu coração. Depois de que Jesus nos falou do Pai misericordioso, as coisas já não são como antes; agora, conhecemos Deus: é nosso Pai, que por amor nos criou livres e dotados de consciência, que sofre se nos perdemos e que faz festa se regressamos. Por esse motivo, a relação com ele se edifica através de uma história, como sucede a todo filho com seus pais: ao início, depende deles; depois, reivindica sua própria autonomia; por último – se há um desenvolvimento positivo – alcança uma relação madura, baseada no reconhecimento e no amor autêntico.
Nestas etapas, podemos interpretar também momentos do caminho do homem na relação com Deus. Pode-se dar uma fase que é como a infância: uma religião movida pela necessidade, pela dependência. Na medida em que o homem cresce e se emancipa, quer libertar-se desta submissão e fazer-se livre, adulto, capaz de regular-se por si mesmo e de tomar as próprias opções de maneira autônoma, pensando inclusive que pode prescindir de Deus. Esta fase é delicada: pode levar ao ateísmo, mas com frequência esconde também a exigência de descobrir o autêntico rosto de Deus. Felizmente, Deus não desfalece em sua fidelidade e, ainda que nos distanciemos e fiquemos perdidos, Ele nos segue com seu amor, perdoando nossos erros e falando interiormente a nossa consciência, para nos atrair a si. Na parábola, os dois filhos se comportam de maneira oposta: o menor se vai e cai sempre cada vez mais baixo, enquanto que o mais velho fica em casa, mas ele também tem uma relação imatura com o Pai; de fato, quando o irmão regressa, o mais velho não se mostra contente como o Pai, e mais, enfada-se e não quer voltar a casa. Os dois filhos representam os dois modos imaturos de se relacionar com Deus: a revolta e uma obediência infantil. Ambas formas se superam através da experiência da misericórdia. Só experimentando o perdão, reconhecendo que somos amados com um amor gratuito, maior que nossa miséria e que nossa justiça, entramos finalmente em uma relação verdadeiramente filial e livre com Deus. Queridos amigos, meditemos nesta palavra. Identifiquemo-nos com os dois filhos, e sobretudo contemplemos o coração do Pai. Lancemo-nos em seus braços e deixemo-nos regenerar por seu amor misericordioso. Que nos ajude nisso Maria, Mater misericordiae [Mãe da Misericórdia].
[Ao final da audiência, o Papa saudou os peregrinos em vários idiomas. Em português, disse:]
Saúdo também os peregrinos de língua portuguesa, especialmente o grupo de brasileiros que quis fazer deste encontro com o Sucessor de Pedro na Oração do Angelus uma etapa de sua caminhada quaresmal. Possam a oração, a penitência e a solidariedade ajudar-vos a preparar com mais fervor e fé para as festas que se aproximam. Ide com Deus.
Fonte: ZENIT