
Uma monição litúrgica é uma exortação espiritual para que os fiéis possam participar de maneira consciente e ativa de uma celebração litúrgica. Quando iniciamos solenemente a Semana Santa, no Domingo de Ramos e da Paixão do Senhor, a monição inicial desse dia assim se encerra:
“Por isso, celebrando com fé e piedade a memória desta entrada, sigamos os passos de nosso Salvador para que, associados pela graça à sua cruz, participemos também de sua ressurreição e de sua vida”
Lembremos que essa ideia de carregar a cruz para ressuscitar é evangélica.
São Pedro quis demover Jesus, quando este profetizou que iria sofrer nas mãos das autoridades, morrer e ressuscitar. Jesus o intima a voltar a ser um discípulo, ou seja, ir para trás de Jesus e segui-lo e não se tornar um opositor aos planos salvíficos do Pai. Voltando-se aos discípulos assim diz Jesus; “Se alguém quiser vir comigo, renuncie-se a si mesmo, tome sua cruz e siga-me. Porque aquele que quiser salvar a sua vida, irá perdê-la; mas aquele que tiver sacrificado a sua vida por minha causa, irá recobrá-la” (Mt 16,24b-25). A frase não é uma obrigação, mas um convite, porque o Senhor quer seguidores livres, é na liberdade que carregamos a nossa cruz (Cf. Gl 5,1). A condição primeira e renunciar a si mesmo, renegar-se, não pode haver espaço para uma autoidolatria no coração do discípulo. Como Jesus esvaziou-se de si para seguir sua missão, nós também devemos nos esvaziar para carregar a cruz (Cf. Fp 2,7). Esvaziados, tomamos nossa cruz e seguimos o Senhor. E a razão é clara, não somos os nossos salvadores, ninguém pode segurar a própria vida, mas encontramos a vida em plenitude (Cf. Jo 10,10), quando a entregamos nossa vida pelo evangelho (Cf. Mc 8,35).
Há uma frase muito celebre de São Paulo: “não sou eu quem vive, mas é Cristo que vive em mim” (Gl 2,20). Mas essa frase é precedida pela seguinte frase: “Na realidade, pela fé eu morri para a Lei, a fim de viver para Deus. Estou pregado à cruz de Cristo” (Gl 2,19). “Estou pregado na cruz”, em grego é uma palavra única, “synestauromai”, na voz passiva, o verbo é formado por “syn”, que é união, “stauro”, que crucificado, São Paulo se vê unido plenamente ao Crucificado, dessa forma é que Jesus vive no apóstolo. Assim também nós queremos estar totalmente unidos ao Cristo Crucificado, para ressuscitar com Ele. Mas como isso é possível?
Pela graça de Deus que recebemos no nosso Batismo: “Fomos, pois, sepultados com ele na sua morte pelo batismo para que, como Cristo ressurgiu dos mortos pela glória do Pai, assim nós também vivamos uma vida nova” (Rm 6,4). Assim foi crucificado o homem velho, para não mais servirmos o pecado, e se morremos com Cristo no Batismo, podemos ressuscitar com Ele. É por essa razão que liturgicamente, o Círio Pascal que entra solenemente no lucernário da Vigília Pascal em procissão, simbolizando o Cristo ressuscitado que ilumina as trevas, e que depois abençoará as águas batismais, é o mesmo Círio Pascal que pode estar junto à cabeça do defunto nas exéquias cristãs.
Que o Pai, pelo seu Filho Jesus Cristo, envie o Espírito Santo para renovar nossa fé na salvação que nos veio pela Cruz, para que nessa graça batismal vivamos e nela possamos ressuscitar. Louvado Seja, o Cristo morto e ressuscitado!
