A paz de Jesus, meus irmãos!

“Acolheu a Israel, seu servo, lembrado de sua misericórdia…” (Lc 1,54).

Neste ano da misericórdia, Maria nos aponta, através do Magnificat, que Deus é sempre pronto a nos acolher e nos ajudar. Nesse cântico, ela faz diversas citações bíblicas, e nesse versículo acima ela cita a misericórdia de Deus que acolhe. Maria, Jovenzinha ainda, já conhece a palavra de Deus e por meio da palavra exalta ao Senhor. O Magnificat, é também o canto da misericórdia, por isso vamos seguir assim, de mãos dadas a Nossa Senhora para assim mergulharmos na misericórdia de Deus. Vamos novamente utilizar o texto do Filho pródigo, agora de forma um pouco mais aprofundada.

“Entrou então em si e refletiu: Quantos empregados há na casa de meu pai que tem pão em abundância… e eu, aqui, estou a morrer de fome! Vou me levantar e irei a meu pai, e lhe direi: Meu pai, pequei contra o céu e contra ti; já não sou digno de ser chamado teu filho. Trata-me como a um dos teus empregados. Levantou-se a foi ter com seu pai. Estava ainda longe, quando seu pai o viu e, movido de compaixão, correu-lhe ao encontro, o abraçou e o beijou.” (Lc 15,17-20)

Enxergamos aí, três passos importantíssimos para ser acolhido:

1º Passo – Entrou em Si

No mês passado, nós já meditamos sobre esse primeiro passo, e vou me utilizar de alguns trechos da reflexão da carta de Janeiro/Fevereiro e vou aprofundar mais sobre esse assunto.

Vejamos então no versículo 17, qual é esse passo: “Entrou então em si e refletiu: Quantos empregados há na casa de meu pai…” O passo que ele deu foi esse, “entrou em si”. Se esse moço não parasse para olhar pra dentro de si, jamais ele voltaria pra casa, e assim, jamais saberia que seu pai estava pronto para o acolher com um coração misericordioso. O ato de “entrar em si” é fundamental para alcançar a misericórdia. Pois, quando se tem coragem de olhar para si mesmo, vai com certeza se deparar com suas misérias. O termo “coragem”, não está no texto despretensiosamente, muito pelo contrário, é o melhor termo a se usar quando se trata dessa ação: Olhar pra si. Pois, é sem dúvida uma violência essa disposição de se demorar em si mesmo. Numa atitude humilde, buscar a verdade a qualquer custo. A verdade do filho pródigo foi assumir que estava a morrer de fome, por que estava longe da casa do pai. Não deve ter sido nada fácil pra ele, pois com certeza tinha vergonha de sua decisão que foi por água a baixo. Se você se dispor a olhar para si, provavelmente vai se deparar com as lavagens em que está enfiado.

Lute para que o orgulho não tenha chance de maquiar, e querer tornar as coisas menos feias do que realmente são. Tente não se esconder atrás de desculpas e justificativas para amenizar seus erros. É hora de “cair em si”, de olhar para dentro de nós mesmos e sermos sinceros diante das trevas que ainda carregamos. Pois, irmãos, chega uma hora que é necessário arrancarmos as máscaras até mesmo diante de Deus. Chega a ser insano, entrar na presença de Deus e não se mostrar como verdadeiramente é. Diante de Deus, nada fica oculto. A luz do Senhor é tão forte e penetrante que nada fica escondido, tudo transparece. É bobagem perder tempo tentando esconder algo Dele. Tudo o que somos Ele tem diante dos olhos. Fugir de Deus, fugir da verdade só nos faz ficar presos no mesmo lugar, sem conseguirmos aceitar a liberdade verdadeira que Ele tem para nós.

Nesse primeiro passo, coloque-se na presença de Deus e pergunte você pra ele: Quem sou eu? Como estou de verdade? Sim, pergunte a Ele qual é sua própria verdade. Tenha coragem de se olhar através dos olhos de Jesus. Tenha coragem de ouvir o que Ele pensa sobre você hoje. Talvez o que Ele vê em você seja bem diferente do que os outros enxergam, e até do que você mesmo pensa sobre si próprio. Entenda que sua visão sobre você mesmo nunca será perfeita e suficiente, você precisa do auxílio de Deus para esse processo. “Quando chegar o que é perfeito, o imperfeito desaparecerá. Hoje vemos como por um espelho, confusamente; mas então veremos face a face. Hoje conhecemos em parte; mas então conhecerei totalmente, como eu sou conhecido” (1Cor 13, 10; 12). Entendam isso, não somos perfeitos suficientes para nos enxergar, ainda veremos confusamente, em partes… Peça o auxílio de Deus.

E por fim, não se iludam pensando que esse primeiro passo acontece somente num único momento de oração. Nós somos lentos e medrosos. Permitam-me o trocadilho, mas pra que esse primeiro passo aconteça, precisamos dar vários passos em direção a ele. Oremos, com sinceridade, oremos.

2º – Passo – Teve a intenção

“Vou me levantar e irei ao meu pai” (Lc 15,18)

Aqui não mostra a ação, mas a intenção de voltar. Ele entra em si, reflete e tem a intenção correta de voltar, mas ainda não voltou. Nesse passo temos uma necessidade e um perigo.

É necessário vislumbrar aonde se quer chegar. Ficar estacionado lamentando a situação não ajuda em nada. Quantos que vivem numa melancolia, como num estado de comodismo e aceitação da vida de pecado. É preciso enxergar o que há adiante e ter o desejo de sair do estado de penúria. Sim, existe a casa de meu pai que é a minha morada, infinitamente melhor que este lugar. Mais do que isso, existe a presença de meu pai, que pode me ajudar. Esses porcos não me ajudam em nada, aqui só há sujeira e lavagem.

O perigo é ficar só na intenção. Reconhecer que está no lamaçal, saber que o Pai te espera, ter a intenção de voltar pra casa e ficar ali, parado. Quantas vezes você, diante do Senhor já fez juras de amor? Quantas vezes você prometeu mudar de vida, e passando alguns dias percebeu que nada mudou? Por quanto tempo suas confissões têm sido repetição dos mesmos pecados? Isso não é a mesma coisa que dizer: “vou me levantar e irei ao meu pai” e permanecer sentado com os porcos? Perceba: quantas missas você já foi, quantos Grupos de Oração você já participou, quantos encontros da RCC você esteve… Quantas pregações que mexeram com você, quantas orações em que se sentiu tocado…? Será que você também não está somente nas intenções? Isso tudo torna a pessoa morna, alguém que tem vida ativa na  Igreja e no grupo com seus ministérios, mas não consegue avançar. Não é mais tão mundano, mas também não quer ser santo. Vive em um estado de mornidão e comodismo, e a isso é dado o nome de TIBIEZA.

A tibieza que impede nossa santificação é aquela que chamamos de evitável: cometer pecados veniais refletidos. Todos esses pecados cometidos de olhos abertos, bem que podemos evita-los em nossa vida, com a graça de Deus. Por isso dizia Santa Teresa: “Que Deus nos livre dos pecados deliberados, por pequeno que seja!” Assim, por exemplo, as mentiras voluntárias, as pequenas murmurações, o desejo que o mal aconteça, os ressentimentos, o caçoar do próximo, as palavras picantes, a vaidade, as antipatias nutridas no coração, a afeição desordenada a pessoas. Santa Teresa dizia: Esses pecados são como vermes que não se deixam conhecer enquanto não roerem as virtudes em nós… Com as coisas pequenas o demônio vai abrindo buracos onde entram as coisas grandes. Por esses pecados, vem a diminuição das orações pessoais, das idas ao sacrário, e pior, deixa-se de comungar, e por fim, deixará tudo como já tem acontecido muitas vezes a tantas pessoas infelizes.

A pessoa tíbia espiritualmente acostuma-se a ficar dormindo nas suas faltas, não pensa no seu mal, não pensa em se emendar, e assim a sua cura se torna quase desesperada. Algumas pessoas fazem as pazes com suas faltas. A ruína vem daí, principalmente quando a falta se junta com alguma paixão de apego a si mesmo, desejo de se mostrar, ódio ao próximo. Um passarinho quando é solto do laço, logo voa livremente; a pessoa quando está livre de todo apego deste mundo, voa depressa para Deus. Mas se estiver presa, qualquer pequeno fio bastará para impedi-la de caminhar para Deus. Quantas almas não se fazem santas, porque não se esforçam para se desprenderem de certas afeições passageiras!

Nossa esperança para sairmos desse estado morno, é nos voltarmos a Cristo Crucificado para que nos aqueça o coração insensível, e nos dê uma determinada determinação. Aproveite essa Semana Santa e se coloque diante da Cruz. “As chagas de Jesus Cristo ferem os corações mais duros e aquecem as almas mais frias. Quantas flechas de amor saem dessas chagas e ferem os corações mais insensíveis! Quantas chamas saem do Coração ardente de Cristo e aquecem os corações mais frios! Quantas cadeias saem do lado ferido e prendem os corações mais endurecido!” (São Boaventura).

Leia, releia esse trecho, reze, se demore… Essa oração de São Boaventura é o remédio para nossa tibieza.

3º Passo – Levantou-se e foi

Irmãos, existe um momento no qual precisamos tomar a grande decisão de nossas vidas. É exatamente quando saímos da intenção (que não deixa de ser importante) e transformamos em atos concretos que vão mudar tudo em nós. É sair da admiração e partir para a conquista. Tenho certeza que você conhece diversas histórias dos santos, e você admira, contempla, até pode ter pregado e meditado… Mas só! Acredite, o ano da misericórdia está nos convidando para sairmos da admiração e conquistarmos a santidade. É possível!

Santa Teresa D’Ávila, já estava no convento há 40 anos quando viveu a Determinada Determinação. A luta e os passos para a santidade. Isso me intriga tanto, o que essa mulher viveu de tão extraordinário que fez com que desse um salto e lutasse pela santidade, levando tantas outras pessoas para essa conquista? Porque só depois de 40 anos, depois de tantas outras experiências? É isso irmãos, é exatamente isso que precisamos avaliar: O que nós precisamos? O que tem nos faltado?

Aquele Jovem saiu do plano das intenções e partiu para a decisão concreta, levantou-se e foi ao encontro da misericórdia. Santa Teresa saiu do estado morno e viveu um amor intenso por Jesus no qual ela mesma dizia que lamentaria demais ao encontrar no céu alguém que amasse a Jesus mais que ela. Fez a reforma do Carmelo, tantos carmelitas se tornaram santos depois disso, como por exemplo, Santa Teresinha do Menino Jesus (que quis se chamar Teresinha por causa de Santa Teresa). Vejam o tamanho dessa decisão, entendam o que é isso: LEVANTOU-SE E FOI. Eu entendo que o ano da misericórdia é um convite para a santidade acima de tudo. É Deus nos acolhendo sim, mas também nos dando vestes novas, sandálias novas e um anel no dedo, pois voltamos pra casa.

Vivamos com intensidade não só esse dia 22 de Março, mas essa semana santa e esse ano da misericórdia. Deus quer que ao se concluir esse tempo, os frutos sejam de santidade.

Ministério de Música e Artes, faz tempo que falo pouco de música e artes, e isso acontece exatamente porque entendo que o chamado à santidade é tão mais urgente. Se em todas as áreas da minha vida for santo, qualquer coisa que eu fizer, seja tocar um violão, trocar as fraldas da minha filha, pregar no grupo ou almoçar com minha família, trará alegria ao coração de Deus e gerará frutos bons e que permanecerão.

Uma santa semana a todos e feliz páscoa!

 

Juninho Cassimiro

Coordenador Nacional do Ministério de Música e Artes

Renovação Carismática Católica do Brasil – RCCBRASIL

 

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