A paz de Jesus, irmãos!

“Acolheu a Israel, seu servo, lembrado de sua misericórdia…” (Lc 1,54).

No mês passado nós vimos a indicação de alguns passos para alcançar a misericórdia como meta de santidade. Lógico que contando com o auxílio da graça. Mas, tudo partia de um esforço e decisão particular e próprio de cada pessoa. Nesse mês vamos ver que o irmão pode e deve ajudar para que eu alcance a misericórdia e a conversão. E uma das formas mais eficazes para que ele faça isso é a correção fraterna.

Vejamos esse trecho do evangelho:

“Se teu irmão tiver pecado contra ti, vai e repreende-o entre ti e ele somente; se te ouvir, terás ganho teu irmão. Se não te escutar, toma contigo uma ou duas pessoas, a fim de que toda a questão se resolva pela decisão de duas ou três testemunhas. Se recusa ouvi-las,  dize-o  à Igreja. E se recusar ouvir também a Igreja, seja ele para ti como um pagão e um publicano. Em verdade vos digo: tudo o que ligardes sobre a Terra será ligado no Céu, e tudo o que  desligardes sobre a Terra será também desligado no Céu. Digo-vos ainda isto: se dois de vós se unirem sobre a Terra para pedir, seja o que for, consegui-lo-ão de meu Pai que está nos Céus. Porque onde dois ou três estão reunidos em Meu nome, aí estou Eu no meio deles” (Mt 18, 15- 20).

Como vemos, a correção fraterna tem um princípio evangélico, é o próprio Jesus quem nos ensina. E é com clareza que vemos que a motivação da correção fraterna é “ganhar o irmão” e não perdê-lo. Portanto, é um impulso para a salvação do outro, é estender-lhe a mão, é ser voz e mãos de Deus para que não se afaste, é emprestar-lhe os olhos para que enxergue a vontade de Deus, pois com certeza o pecado tem lhe deixado cego, e com isso acaba se machucando nos tropeços de cada passo.

Bento XVI nos leva mais profundo nesse pensamento. Ele nos ensina que, por causa da força da Eucaristia que faz de nós um só corpo, a correção fraterna não tem efeito somente no outro. Quando corrijo o irmão, estou fazendo um bem a mim mesmo, e quando me permito  ser corrigido, é um bem a toda a Igreja. “Os discípulos do Senhor, unidos a Cristo através da Eucaristia, vivem numa comunhão que os liga uns aos outros como membros de um só corpo. Isto significa que o outro me pertence: a sua vida e a sua salvação tem a ver com a minha vida e a minha salvação” (Bento XVI)

No Evangelho de Marcos (Mc 10,35-45), vamos ver o próprio Jesus corrigindo seus apóstolos. Tiago e João querem se sentar ao lado de Jesus quando estiverem na Glória. Jesus logo diz, “não sabeis o que pedis” e começa a explicar (abrir os olhos) aos discípulos a respeito do reino dos céus. Por causa disso os outros apóstolos ficam indignados com João e Tiago, mas Jesus entra novamente e passa a corrigir a todos, dizendo: “Sabeis  que  os  que são    considerados chefes das nações dominam sobre elas e os seus intendentes exercem poder sobre elas. Entre vós, porém, não será assim: todo o que quiser tornar-se grande entre vós, seja o vosso servo; e todo o que entre vós quiser ser o primeiro, seja escravo de todos. Porque o Filho do homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em redenção por muitos.”

Perceba que a correção de Jesus é para que não se percam. Por isso que Jesus escolheu esses homens, para que pudessem andar bem perto dele e pudessem ser moldados. Faz parte do discipulado a correção fraterna. Jesus é a Verdade, portanto só pode direcionar os seus amigos discípulos na verdade.

A caridade é a base da correção

Não existe correção para o mal. O fim último da correção é o bem. O único veículo para a correção é a caridade, se não for, deixa de ser correção e pode ser chamado com qualquer outro nome. Em vez de gerar consciência reta, geram-se traumas e medos.

“Não se pode corrigir uma pessoa sem amor e sem caridade. Não se pode fazer uma cirurgia sem anestesia: não se pode, pois o doente morrerá de dor. E a caridade é como uma anestesia, que ajuda a receber o tratamento e aceitar a correção. Apartar-se e conversar, com mansidão e com amor” (Papa Francisco).

Quando for corrigir o irmão, pergunte-se primeiro: Qual é a minha intenção em corrigi-lo?

Se a sua intenção for somente salvar o seu irmão, então aí há caridade, e tudo será refletido nos seus gestos, nas suas palavras e no seu olhar, porque o que te move é o amor pelo irmão, por isso a sua única intenção é salvá-lo.

A caridade “não se alegra com a injustiça, mas se rejubila com a verdade” (ICor 13,6). Por isso é caridade para com o irmão mostrar-lhe a verdade. Por vezes temos receio de perder o irmão se corrigi-lo, e por respeito humano, deixamos que ele persista no erro. Passando a mão em sua cabeça e privando-lhe da conversão através da correção.

Por vezes isso acontece quando o irmão a ser corrigido está numa “condição superior” à nossa, ou em uma instância de coordenação acima da nossa. Parece que corrigir esse irmão ou irmã, lhe faltará com o respeito. Muito pelo contrário, eu estou sim perdendo a minha própria vida quando decido não corrigi-lo. “Há quem perca a sua alma por causa do respeito humano; perde-a, cedendo a uma pessoa imprudente; perde-se por atender demasiadamente uma pessoa” (Eclo 20,24). Em outra leitura também vemos: “Repreende o sábio e ele te amará. Dá conselhos ao sábio e ele tornar-se-á ainda mais sábio, ensina o justo e ele aumentará o seu saber” (Prov 9,8-9).

Em Gálatas 2,11-14 (leia) vemos Paulo corrigindo a Pedro, chefe da Igreja. Isso não tira a autoridade de Pedro, e Paulo até a reconhece nos versículos anteriores. Mas, mostra que  todos eles queriam o bem da Igreja, por isso, viviam entre si a correção fraterna.

“A correção fraterna é um ato para curar o corpo da Igreja. Há um buraco, ali, no tecido da Igreja que temos de consertar. E, como as mães e avós, quando remendam, o fazem com tanta delicadeza, assim se deve fazer a correção fraterna. Se você não é capaz de fazê-la com amor, com caridade, na verdade e com humildade, você irá fazer uma ofensa, uma destruição no coração daquela pessoa, será uma conversa a mais, que fere; e você se tornará um hipócrita cego, como diz Jesus; ‘Hipócrita, tire primeiro a trave do seu olho… ‘. Hipócrita! Reconheça que você é mais pecador do outro, mas você como irmão deve ajudar a corrigir o outro”. (Papa Francisco)

Deve-se acolher a correção com humildade

Nenhuma correção é fácil. Nosso orgulho nos impede de aceitar facilmente quando somos corrigidos. São poucos os que se abrem à correção com o coração disposto. Portanto, quando for procurado por alguém que deseja lhe corrigir, abra-se, humilhe-se e esteja pronto para a conversão.  Somos um só  corpo,  logo,  não  podemos  reclamar  de  alguém  que  vem  com a intenção de sarar as feridas   esse corpo. Existem remédios que são amargos, existem injeções que doem muito, mas tudo isso é para curar a doença.

Hoje precisamos ter visão e atitude de adultos para sermos corrigidos e também corrigir. Pois vemos muitos ainda com pensamentos e atitudes infantis quando corrigidos.  Tantos até deixam o caminho, outros deixam de falar com os irmãos, e assim por diante. “Quando eu era criança, falava como criança, pensava como criança, raciocinava como criança. Desde que me tornei homem, eliminei as coisas de criança.” (ICor 13,11).

Leia e partilhe com seus irmãos a Leitura de Mt 16,16-23. Nela, Jesus primeiro dá a Pedro as chaves da Igreja e logo em seguida, repreende Pedro dizendo: “Afasta-te, Satanás!”. Depois dessa carta, partilhe com seus irmãos de ministério, como vocês entendem essa passagem?

Aos meus irmãos do Ministério de Música e Artes, quero dizer que no ano da misericórdia vamos trilhando os caminhos da santidade. Que em nossos ministérios, em nossos Grupos de Oração sejamos fraternos uns com os outros. “O bem é aquilo que suscita, protege e promove a vida, a fraternidade e a comunhão. Assim a responsabilidade pelo próximo significa querer e favorecer o bem do outro, desejando que também ele se abra à lógica do bem; interessar-se pelo irmão quer dizer abrir os olhos às suas necessidades.” (Papa Bento XVI).

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