O texto bíblico inicial, alusivo aos dias de Noé, fez-nos ver como crescera o mal nos seres humanos, corrompendo-lhes o coração a ponto de sentir a perversidade como um estilo normal de vida; tornara-se uma corrupção generalizada. Deus arrependeu-se da obra que criou e, para pôr a salvo desta corrupção a vida na terra, confia o empreendimento à fidelidade do mais idoso de todos: o «justo» Noé. Poderá a velhice salvar o mundo? De que modo? Vemos que a pessoa humana, quando se limita a gozar a vida, nem se dá conta da corrupção que está a envenenar os seus dias. Despreocupada e leviana, goza os bens da terra sem se preocupar com a qualidade espiritual da vida, sem atender à miséria e degradação que muitos sofrem. Contanto que a vida normal lhe proporcione “bem-estar”, o homem não quer saber daquilo que a torna vazia de justiça e de amor. É como se a corrupção fizesse parte da normalidade do bem-estar humano. Poderá a corrupção tornar-se normalidade? Infelizmente sim! E aquilo que lhe abre o caminho é esta despreocupação leviana em que se vive, pensando cada qual só no cuidado de si mesmo: isso amolece as nossas defesas, ofusca a consciência e torna-nos cúmplices, mesmo involuntariamente, do mal que envenena a comunidade. Poderá a velhice salvar o mundo? De que modo? A velhice está na melhor posição para captar o engano duma vida vendida ao prazer e vazia de interioridade: vida sem preocupações, sem interioridade, sem justiça, nem amor. A especial sensibilidade que vemos na terceira idade para com as atenções, lembranças e carinhos que nos tornam humanos, deveria voltar a ser a sensibilidade de todos. Acordar esta sensibilidade será uma opção de amor dos idosos pelas novas gerações. A bênção de Deus escolhe a velhice para este carisma tão humano e humanizador.
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Fonte: Vaticano