O Papa Francisco fez, na Catequese desta quarta-feira (16), uma profunda reflexão sobre a paixão, morte e ressureição de Cristo. Os fiéis, que lotaram a Praça São Pedro em Roma, juntamente com todos os católicos do mundo, foram convidados a contemplar de forma intensa Jesus na cruz durante esta Semana Santa. Leia na íntegra:

Queridos irmãos e irmãs, bom dia!

Hoje, no meio da Semana Santa, a liturgia nos apresenta um episódio triste: a história da traição de Judas, que vai aos líderes do Sinédrio para negociar e entregar a eles seu Mestre. “Quanto me dão se eu entregar ele a vocês?”. Jesus, nesse momento tem um preço. Este ato dramático marca o início da Paixão de Cristo, um caminho doloroso que Ele escolhe com liberdade absoluta. Ele mesmo diz claramente: “Eu dou a minha vida”… Ninguém a tira de mim: eu dou a mim mesmo. Eu tenho poder para dá-la e autoridade para tomá-la de novo” (Jo 10,17-18). E assim, com essa traição começa o caminho da humilhação, a espoliação de Jesus como se ele estivesse no mercado: isso custa trinta moedas de prata… Uma vez no caminho da humilhação e espoliação, Jesus o percorre até o fim.

Jesus chega à humilhação completa com a morte de cruz. Se trata da pior morte, que estava reservada para escravos e criminosos. Jesus foi considerado um profeta, mas ele morreu como um criminoso. Olhando para Jesus em sua paixão, podemos ver como em um espelho os sofrimentos da humanidade, e encontramos a resposta divina para o mistério do mal, da dor, da morte. Tantas vezes sentimos horror pelo mal e pela dor que nos circunda e perguntamos: “Por que Deus permite isso?”. É uma ferida profunda para nós ver o sofrimento e a morte, especialmente dos inocentes! Quando vemos crianças que sofrem é uma ferida para o coração: o mistério do mal. E Jesus toma todo este mal, todo esse sofrimento em si mesmo. Nesta semana, fara bem a todos nós olhar para o crucifixo, beijar as feridas de Jesus, beijar o crucifixo. Ele tomou sobre si todo o sofrimento humano, ele se revestiu daquele sofrimento.

Esperamos que Deus, em sua onipotência, derrote a injustiça, o mal, o pecado e o sofrimento, com uma vitória triunfante divina. Ao invés disso, Deus nos mostra uma vitória humilde que humanamente parece uma falha. Podemos dizer que Deus vence em fracasso! O Filho de Deus, de fato, aparece na cruz como um homem derrotado: sofre, é traído, insultado, e enfim, morre. Jesus, porém, permite que o mal se volte a ele e toma sobre si para vencê-lo. Sua paixão não é um acidente; sua morte – aquela morte – estava escrita. Realmente não encontramos muitas explicações. É um mistério intrigante, o mistério da grande humildade de Deus: “Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho único” (Jo 3:16). Nesta semana, vamos pensar muito na dor de Jesus e que possamos dizer para nós mesmos: isso é por mim. Mesmo que eu fosse a única pessoa no mundo, Ele o teria feito. Ele fez isso por mim. Vamos beijar o crucifixo e dizer: por mim, obrigado Jesus, por mim.

Quando tudo parece perdido, quando não resta ninguém porque “ferirão o pastor, e as ovelhas do rebanho se dispersarão” (Mt 26,31), é então que Deus intervém com o poder da ressurreição. A ressurreição de Jesus não é o final feliz de um conto de fadas, não é o fim de um filme feliz; mas é a intervenção de Deus Pai, em que se rompe a esperança humana. O momento em que tudo parece perdido, no momento da dor, em que muitas pessoas sentem que precisam descer da cruz, é o mais próximo de ressurreição. A noite fica mais escura pouco antes de nascer a manhã, antes da aurora, quando vem a luz. No momento mais sombrio, Deus intervém e ressuscita.

Jesus, que escolheu ir por esse caminho, nos chama a segui-lo em seu mesmo caminho da humilhação. Quando em determinados momentos da vida não encontramos nenhuma maneira para sair de nossas dificuldades, quando nos afundamos na escuridão mais profunda, é a hora da nossa humilhação e espoliação total, é o momento em que nós experimentamos que somos fracos e pecadores. É então, naquele momento, que não devemos esconder a nossa falha, mas abrir-nos com confiança a esperança em Deus, como fez Jesus.

Queridos irmãos e irmãs, esta semana, nos fará muito bem pegar o crucifixo nas mãos e beijá-lo muitas vezes, muitas, e dizer obrigado Jesus, obrigado Senhor. Que assim seja.

Fonte: Boletim Santa Sé