No dia marcado para início do Conclave, ainda pela manhã, a Basílica de São Pedro acolhe a Missa Pro Eligendo Papa, onde os religiosos pedem ao Pai “um pastor segundo o Seu Coração”. Em seguida, em cortejo solene, com suas vestes corais, cada cardeal carrega seu livro de orações e entoando o hino Veni Creator Spiritus seguem em direção a Capela Sistina.

Ao chegarem na Capela, os cardeais fazem um juramento de sigilo, o Mestre das Celebrações Litúrgicas pronuncia em latim “Extra omnes!” (“Todos para fora”), e as portas se fecham por dentro.

A mecânica do voto, a mística da escolha

Cada sessão de votação inicia‑se com oração e só depois o escrutínio de fato acontece. Nas cédulas estão impressas a frase “Eligo in Summum Pontificem” (“Eu elejo como pontífice supremo”) e um espaço em branco onde cada um dos purpurados deve escrever, de próprio punho, o nome de seu candidato escolhido. Pela regra, os cardeais não podem votar em si próprios e os votos são anônimos.

Em ordem decrescente de idade, eles caminham até o altar, erguendo a cédula visivelmente para todo o colégio, e a depositam num cálice. Os votos são recolhidos, contados e os nomes lidos em voz alta. O candidato é escolhido quando alcançar dois terços dos votos. Enquanto essa média necessária não for alcançada as votações serão repetidas, sendo feitas até quatro por dia, duas pela manhã e duas pela tarde, por três dias ininterruptos. No quarto dia, caso os purpurados não tenham chegado a um consenso, será feita uma pausa para oração e discussão.

Essas orações são momentos importantes do Conclave, afinal se trata de uma eleição que deve acontecer de acordo com a vontade de Deus. Sendo assim, os religiosos rezam muito pedindo para que Deus oriente essa escolha.

A fumaça: branca ou preta?

Caso nenhum dos candidatos receba os dois terços dos votos, as cédulas são queimadas com substâncias químicas que fazem subir a clássica fumaça preta. Mas, se a porcentagem ideal for alcançada, a substância utilizada para a queima faz subir a fumaça branca, avisando a todo o mundo que a Igreja tem um novo Pastor. Nesse momento a Capela Sistina suspira na certeza de que o Espírito falou por meio da comunhão.

O ritual da fumaça, ainda que seja uma simbologia simples, tornou‑se reconhecida em todo o mundo: jornalistas, fiéis, peregrinos e até as crianças compreendem o sinal antes mesmo de ouvir o anúncio. Esse é mais um dos gestos simples pelos quais a Igreja sempre prezou e que falam direto ao coração do povo. Assim, quando a fumaça branca surge, sinos explodem em júbilo e câmeras do planeta se fixam na chaminé testemunhando que Pentecostes acaba de se renovar.

Do “Aceito” ao “Habemus Papam”

O próximo passo é a confirmação do aceite do escolhido. Sendo assim, no interior da Capela Sistina, o Cardeal Decano do Colégio, em nome de todos os outros, aproxima‑se do eleito e pergunta: “Eminentíssimo Senhor, aceita a tua eleição canônica para Sumo Pontífice?”. Após receber o consentimento, ele pergunta: “Qual nome você deseja ser chamado?”, gesto esse cheio de simbolismo e que remete a exemplos bíblicos que receberam um novo nome ao aceitarem o chamado de Deus.

Deste momento em diante o novo Papa se torna a autoridade suprema sobre a Igreja Católica e o Conclave se encerra em definitivo. Os cardeais prestam homenagem e juram obediência ao Papa recém-eleito. Finalmente, o Cardeal Protodiácono, na Loggia da Basílica de São Pedro, anuncia aos fiéis a eleição e o nome do novo Pontífice com a famosa frase: “Annuntio vobis gaudium magnum; Habemus Papam” (Anuncio-vos uma grande alegria; Temos um Papa”). Ali mesmo, o primeiro gesto do novo Papa não é um discurso, mas a bênção apostólica Urbi et Orbi – abençoando Roma e o mundo.

Por fim, quando o Papa recém‑eleito se dirige à Basílica de São João de Latrão para tomar posse da cátedra do Bispo de Roma, consuma‑se a sucessão apostólica. Aquela cadeira, outrora ocupada por Pedro, é novamente preenchida. E o Povo de Deus, que acompanhou tudo rezando o terço, jejuando ou em vigílias, reconhece que o Senhor cumpriu a promessa feita em Cesareia de Filipe: “Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela”.