Esta formação é a continuação do texto da semana passada. Para ver o artigo anterior, clique aqui.

Conhecer a Deus passa necessariamente por sua Palavra. São Jerônimo chega a dizer que “ignorar as Escrituras é ignorar a Cristo”. O Magistério, citando Santo Ambrósio, nos ensina: “Lembrem-se, porém, que a leitura da Sagrada Escritura deve ser acompanhada pela oração a fim de que se estabeleça o colóquio entre Deus e o homem; pois ‘a Ele falamos quando rezamos; a Ele ouvimos quando lemos os divinos oráculos’” (DV 25). “Nos Livros Sagrados, com efeito, o Pai que está nos céus vem carinhosamente ao encontro de seus filhos e com eles fala. E é tão grande o poder e a eficácia que se encerra na Palavra de Deus, que ela constitui sustentáculo e vigor para a Igreja, e, para os seus filhos, firmeza da fé, alimento da alma, pura e perene fonte de vida espiritual” (DV 21).

Conhecer a Deus passa também por conhecer e venerar igualmente a Tradição da Igreja. “Para que o Evangelho sempre se conservasse inalterado e vivo na Igreja, os apóstolos deixaram como sucessores os bispos, a eles transmitindo o seu próprio encargo de Magistério. Com efeito, a pregação apostólica, que é expressa de modos especial nos livros inspirados, devia conservar-se por uma sucessão contínua até a consumação dos tempos. Essa transmissão viva, realizada no Espírito Santo, é chamada de Tradição enquanto distinta da Sagrada Escritura, embora intimamente ligada a ela. Através da Tradição, a Igreja, em sua doutrina, vida e culto, perpetua e transmite a todas as gerações tudo o que ela é, tudo o que ela crê. O ensinamento dos Santos Padres testemunha a presença vivificante dessa Tradição, cujas riquezas se transfundem na praxe e na vida de Igreja crente e orante. […] Daí resulta que a Igreja, à qual estão confiadas a transmissão e a interpretação da Revelação, não deriva sua certeza a respeito de tudo o que foi revelado somente da Sagrada Escritura. Por isso, ambas devem ser aceitas e veneradas com igual sentimento de piedade e reverência” (CIC 77-78.82).

Juntamente com as Escrituras e a Tradição, o Magistério completa o tripé que fundamenta nossa fé católica, através da qual Deus se revela a nós. “O ofício de interpretar autenticamente a Palavra de Deus escrita ou transmitida foi confiado unicamente ao Magistério vivo da Igreja, cuja autoridade se exerce em nome de Jesus Cristo, isto é, aos bispos em comunhão com o sucessor de Pedro, o bispo de Roma. Tal Magistério não está acima da Palavra de Deus, mas a serviço dela, não ensinado senão o que foi transmitido, no sentido de que, por mandato divino, com a assistência do Espírito Santo, piamente ausculta aquela palavra, santamente a guarda e fielmente a expõe, e deste único depósito de fé tira o que nos propõe para ser crido como divinamente revelado. Os fiéis, lembrando-se das palavras de Cristo a seus apóstolos: ‘Quem vos ouve, a mim ouve’ (Lc 10, 16), recebem com docilidade os ensinamentos e as diretrizes que seus Pastores lhes dão sob diferentes formas” (CIC 86-87). Devemos, portanto, buscar tanto quanto incentivar nossos jovens a conhecer a Tradição e o Magistério da Igreja, através dos escritos dos Papas e dos Bispos. Cabe a nós sermos fiéis a eles, aos quais estamos confiados, como ovelhas a seus pastores.

Através da Palavra, da Tradição e do Magistério, podemos encontrar a Deus, conhecê-lo melhor e dizer como o apóstolo: “Sei em quem pus minha fé” (2Tm 1, 12).

O relacionamento com Deus nos impele a seguir seus mandamentos. “Aquele que afirma permanecer Nele, deve também viver como Ele viveu” (1Jo 2, 6). “O dom dos mandamentos é dom do próprio Deus e de sua santa vontade. Ao dar a conhecer as suas vontades, Deus se revela a seu povo” (CIC 2059). Nas palavras de Santo Irineu: “Assim, pelo Decálogo, Deus preparou o homem para se tornar seu amigo e ter um só coração para com o próximo… Da mesma maneira, as palavras do Decálogo continuam válidas entre nós cristãos. Longe de serem abolidas, elas foram levadas à plenitude do próprio significado e desenvolvimento pelo fato da vinda do Senhor na carne”. “Não julgueis que vim abolir a lei ou os profetas. Não vim para os abolir, mas sim para levá-los à perfeição” (Mt 5, 17). Essa plenificação dos mandamentos pela encarnação de Cristo está manifesta principalmente no Sermão da Montanha (cf. Mt 5-7). Nas bem-aventuranças, o Senhor manifesta Seu projeto de vida (cf Mt 5, 3-12). Além disso, quando perguntado sobre os maiores mandamentos, Jesus esclarece: “Amarás o Senhor teu Deus de todo o coração, de toda a tua alma e de todo o teu espírito. Este é o maior e o primeiro mandamento. E o segundo, semelhante a este é Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Nesses dois mandamentos se resumem toda a Lei e os Profetas” (Mt 22, 37-40). “Se me amais, guardareis os meus mandamentos” (Jo 14, 15).

Desta forma, percebemos que outra maneira de nos relacionarmos com Deus é através dos irmãos. “Ninguém jamais viu a Deus. Se nos amarmos mutuamente, Deus permanece em nós e o seu amor em nós é perfeito” (1Jo 4, 12).

Nunca nos esqueçamos de que todo o conhecimento de Deus é pura Graça. “Porque é gratuitamente que fostes salvos, mediante a fé. Isto não provém de vossos méritos, mas é puro dom de Deus” (Ef 2, 8). Assim, precisamos pedir sempre ao Doador de todas as Graças que nos mostre a Face do Senhor. Clamar em oração para conhecê-lo e ter um relacionamento equilibrado com Ele é o único meio de obter a graça da intimidade. Essa intimidade com o Senhor é fundamental para nossa caminhada espiritual.

Outro ponto importante que deve ser lembrado é que muitas vezes nos perdemos em nossos afazeres, no serviço dentro da Igreja, nos Grupos de Oração. Para muitos, a obra acaba tomando o lugar de Deus. É o início do ativismo, que é sempre estéril. Devemos tomar cuidado para não cair nessa tentação e para evitar se deixar enganar por esse ímpeto de serviço que afasta de Deus. Devemos sempre, em primeiro lugar, buscar a intimidade com o Senhor. Muitos precisam ouvir do Senhor o mesmo que uma das irmãs da aldeia de Betânia: “Marta, Marta, andas muito inquieta e te preocupas com muitas coisas; no entanto, uma só coisa é necessária; Maria escolheu a boa parte, que não lhe será tirada” (Lc 10, 41s). Isso não quer dizer que podemos apenas rezar. Quer dizer que devemos primeiro rezar. Estar aos pés do Senhor como a irmã de Marta o fez é a ‘boa parte’, a parte principal. É aos pés do Senhor que o discípulo é formado para a missão. Não podemos sair em missão sem antes ter ficado aos pés do Mestre. Se assim o fizermos, corremos o risco de ter uma missão estéril, tentando levar aos outros o que não recebemos. Primeiro, é preciso estar com o Senhor para depois sair em missão: “Depois subiu ao monte, e chamou os que Ele quis. Designou doze entre eles para ficar em sua companhia. Ele os enviaria a pregar com o poder de expulsar demônios” (Mc 3, 13).

Peçamos a nossa mãe, Maria Santíssima, Mãe de Deus, que viveu a intimidade de esposa do Espírito Santo guardando ‘tudo isso’ no coração, que nos ensine o caminho da intimidade com o Senhor através do Paráclito prometido, que nos ensina e recorda ‘todas as coisas’. Assim seja.

QUIROGA, Aldo Flores e FLORES, Fabiana Pace Albuquerque. Práticas de Vida e Relacionamento – Ministério Jovem RCCBrasil. Módulo Serviço – Apostila I. 2ª edição.

Siglas:
CIC – Catecismo da Igreja Católica
DV – Constituição Dogmática Dei Verbum

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