Na Exortação Apostólica: “A missão da Família Cristã no mundo de hoje” de João Paulo II, em sua terceira parte lemos: “Família, torna-te aquilo que és!”. Neste momento em que o povo sofre com as inseguranças da pandemia vale refletir sobre a real necessidade das famílias voltarem a ser uma comunidade, onde o amor é experimentado de maneira integral entre os seus membros, onde se vive a dimensão do perdão intensamente de maneira horizontal no seio familiar. Faz-se necessário perceber as maravilhas existentes dentro da minha família e não abrir mão delas. Quando falamos de preciosidade, nos vêm ao coração e pensamento algo valioso. Nossa família, depois de Deus, é o nosso bem precioso, o nosso bem maior.

Fala-se que a família é um tesouro, podemos comprovar na prática em tempo de isolamento social quão preciosa é e quão importante é fazer coisas simples, que no cotidiano não valorizamos tanto:

– Estarmos juntos o tempo todo, já que temos rotinas e horários dos mais diversos;

– Fazer as refeições e lanches juntos;

– Assistir filmes;

– Arrumar a casa;

– A preocupação e cuidado com as pessoas de nossa casa, principalmente nossos pais e avós;

Podemos enxergar nessas situações ordinária que estamos vivendo o extraordinário de Deus.

 

altO recolhimento que nos aproxima

O isolamento tem aproximado famílias que estavam vivendo um esfriamento, um afastamento entre os membros. Mesmo com o esgotamento dos assuntos, temos conversado e escutado mais. Geralmente a qualidade de vida em família está muito relacionada com a qualidade do tempo que dedicamos a ela, o tempo que gastamos com aqueles que amamos. O termo “tempo de qualidade” se refere ao tempo útil, produtivo e frutuoso. Este tempo deve ser planejado para ser usado com o que realmente importa, ou seja, com aqueles que amamos, com nossa família.

Nesse período em que estamos vivendo, com o isolamento social, muitos foram até “obrigados” a voltarem para as suas casas e se surpreenderam, pois perceberam que em suas rotinas estavam afastados de suas famílias. E, é fato que família que permanece unida aproveita melhor o tempo.

 

altRealinhar prioridades

Um exemplo são as pessoas estão em casa e ficam o tempo todo no celular, respondendo outras pessoas e navegando em redes sociais. Então é preciso cuidado em relação a isso. Cada vez mais, os pais têm tido menos tempo para os filhos. Sabemos que no nosso dia a dia estamos vivendo acelerados, mas não podemos permitir que isso impeça de dedicarmos um tempo para a família, mesmo que o tempo seja pouco, irá valer a pena, pois os unirá e fortalecerá.

 

altLar: local de encontro, escuta e partilha

Além do contato físico, como abraços e cafunés, os pais precisam prestar atenção no que os filhos têm a dizer, em especial com os adolescentes e jovens, perguntar como foi o dia deles, inserir toda a família em uma conversa descontraída, afinal, saber servir-se do tempo para com o outro, é um ato de amor.

Outra sugestão são as atividades manuais. As crianças e os adultos estão vivendo nessa era tecnológica, então é agradável um momento em família, é legal a família toda se divertir unida, montar quebra-cabeças, desenhar, jogar bolinha de gude, pintar um vaso, ensinar brincadeiras antigas, “seja criativo”. São coisas simples, mas que podem marcar de forma positiva tanto as crianças como os adultos.

Porém, o encontro familiar deve ser agradável e não uma cobrança. “Um ritual em família”, por exemplo, como um “Dia da pizza”, “Dia do terço” ou um “Dia do bate papo”, pelo menos uma vez por semana. Assim, o tempo gasto dessa forma é vivido com qualidade e a família toda verá que a união desperta o crescimento, não importando a idade.

 

altEsperança e fortaleza nutridas a partir da vivência familiar

Não podemos esquecer que o mais importante é cuidarmos da nossa vida espiritual, e da espiritualidade de nossa família, proporcionando momentos de oração, tendo contato com a Palavra de Deus e cultivar a devoção ao santo terço, pois isto nos sustentara diante de todas as diversidades da vida.

Estamos diante da oportunidade maravilhosa para colocar em dia a convivência familiar e para imprimir lembranças que, devido às circunstâncias extraordinárias que as envolvem, serão inesquecíveis. Vivemos um momento histórico para a humanidade e da mesma forma, para cada um de nós. As lembranças destes dias em que o mundo parou e teve que se unir contra um inimigo invisível, terão na vida dos nossos filhos uma importância referencial, apontando como viver momentos de crise, ou melhor, ensinando como a nossa família reage nas dificuldades. É tempo de demonstrar claramente que Jesus está no comando das nossas vidas e que não temos o que temer, que Nele temos paz ainda que recolhidos em casa, porque confiamos tudo ao Seu cuidado, e ainda que não possamos sequer ir à missa, o Sacrifício de Cristo continua sendo a razão da nossa fé.

 

altAprender com o Mestre

Viver com a família na maior normalidade possível, dentro das restrições, esse é o nosso grande desafio de fé para estes tempos. Não podemos confundir, no entanto, o nosso papel de sacerdotes do lar com uma militância evangelizadora exagerada, que acabe saturando todos os assuntos, ao contrário, temos que aprender do nosso Mestre, que para falar aos corações acessava os interesses do ouvinte, tecendo comparações familiares ao interlocutor com o objetivo de anunciar o Reino de Deus. São Paulo nos fala da necessidade de nos fazermos “tudo com todos”, nisso temos uma inspiração para agirmos na nossa casa. Percebendo a individualidade de cada um, sua idade, seus interesses e sua forma de pensar. Crianças pequenas precisam brincar e ouvir histórias fabulosas. Um mundo mágico pode ser criado sem sair do tapete da sala, apenas com alguma dose de criatividade. É tempo de escrever pra sempre no coração dos pequenos, através da imaginação o amor que vocês têm como família, que brota do coração bondoso de Deus. Já os filhos adolescentes e jovens têm uma tendência a se fecharem em seu próprio mundo, especialmente neste tempo em que parece que a diferença entre as gerações são aprofundadas pela experiência tecnológica, do qual eles são nativos e nós eternos aprendizes de ferramentas que invadiram nossas vidas. Grande desafio é respeitar e ao mesmo tempo conhecer o mundo dos filhos, maior desafio ainda é introduzi-los no nosso mundo. Ensinar o que sabemos, contar quem somos e por que somos assim. Declarar as razões da nossa fé. É impressionante quantos filhos católicos, recebem a fé por herança de forma “aleijada”. Recebem uma herança, mas não sabem onde encontrar o testamento, correndo o risco de perder o tesouro já conquistado na sua família.

São muitos os desafios, mas neste momento temos que manter a fé e mais do que nunca confiar que Deus vai nos mostrar o que precisamos saber sobre os nossos filhos e o que temos que ensinar a eles. É imprescindível viver este tempo na visão espiritual, porque o Senhor desacelerou o mundo por um propósito, talvez tenha sido somente para nos fazer olhar pra dentro de nós, para aqueles que amamos, pra tudo o que realmente importa em nossas vidas e dizer ao nosso Deus: “Leva-me aonde os homens necessitem da tua Palavra, mesmo que seja dentro da minha própria casa”.

 

Ministério Nacional para as Famílias – RCCBRASIL