Em abril do ano passado, o Santo Padre fez um importante chamamento aos fieis católicos quando proclamou o Jubileu Extraordinário da Misericórdia. Com o lema “Misericordiosos como o Pai” (Lc 6, 36), o Ano Jubilar abriu – literalmente – inúmeras “Portas Santas” para que o povo de Deus, peregrino em busca da grande meta, pudesse “experimentar o amor que consola, perdoa e dá esperança.” Com a chegada da Solenidade de Cristo Rei e o consequente encerramento do ano jubilar, é hora de fazermos memória sobre o ano que passou, refletindo sobre o que foi edificado em nossa caminhada de fé e em nossas comunidades, a partir da proposta do Ano Santo. Nesse sentido, cabe relembrar os principais desafios propostos para este tempo.

Vejamos que a primeira afirmação da Bula Papal que proclamou o Ano Santo ressalta que “Jesus Cristo é o rosto da misericórdia do Pai.” Ao longo deste tempo favorável, fomos instigados a recordar que em Cristo, tudo fala de misericórdia e tudo é movido pela misericórdia. O Santo Padre chega a dizer que “ninguém pode colocar um limite ao amor de Deus que perdoa.” A mesma afirmação está presente em diversos momentos narrados por Santa Faustina Kowalska, em seu Diário Espiritual. Considerada a Apóstola da Divina Misericórdia, essa freira polonesa declarou incansavelmente que a misericórdia é o grande atributo de Deus, que é a última tábua de salvação para os pecadores. No parágrafo 718, de seu Diário, Santa Faustina escutou de Jesus a seguinte revelação: “O meu amor e a minha misericórdia não conhecem limites”. Partindo dessa reflexão, você pode dizer que neste ano santo, conseguiu realizar ou atualizar o seu encontro pessoal com Jesus Cristo? O rosto da misericórdia alcançou você e as realidades da sua vida? Você se sentiu verdadeiramente perdoado e amado por esse Jesus que é rosto de misericórdia?

No segundo ponto, encontramos um programa de vida que nos convidou a “viver de misericórdia” . Aqui, a misericórdia nos foi revelada não apenas como o agir de Deus para conosco, mas como um critério para reconhecer os verdadeiros filhos de Deus. O Pai, que primeiro usa de misericórdia para conosco, pede também esforços nossos para sermos compassivos com todos. O exercício do perdão, a meditação da Palavra de Deus, o abrir-se para perceber as misérias do mundo e o fato de não julgar nem condenar as fraquezas do outro, foram caminhos sugeridos para a prática deste programa de vida. Além, é claro, da realização das obras de misericórdia corporais e espirituais. Qual foi o seu progresso, nesse sentido? Você conseguiria destacar as pessoas que foi capaz de perdoar? É capaz de citar pelo menos três (03) episódios nos quais realizou obras de misericórdia? Não tenha medo desses questionamentos e se as respostas forem negativas, lembre-se que ainda é tempo de viver a misericórdia!

Por último, desperta especial atenção outro ponto que, para mim, constitui o grande legado do Ano Jubilar: o convite à conversão para aqueles que estão completamente longe da graça de Deus pela sua conduta de vida. O Santo Padre fez dois apelos específicos às pessoas envolvidas com o crime e também com a corrupção: “Para vosso bem, peço-vos que mudeis de vida”. O que o Papa Francisco tentou incutir em nós foi a renovação da nossa fé de que nenhuma pessoa está perdida para Deus, por mais difíceis que sejam as circunstâncias nas quais ela se encontra. “Deus não se cansa de estender a mão. Está sempre disposto a ouvir, e eu também estou, tal como os meus irmãos bispos e sacerdotes. Basta acolher o convite à conversão e submeter-se à justiça, enquanto a Igreja oferece a misericórdia”, ressaltou ainda o Sumo Pontífice, na Bula do Ano Jubilar. Nesse caminho, pergunto: temos acreditado nisso ou estamos sentenciando as pessoas à condenação eterna, antes mesmo de apresentá-las ao rosto da misericórdia que é Jesus? Temos tido ousadia e coragem para anunciar a misericórdia nas situações adversas? Em nossas famílias e comunidades, ainda há pessoas que não foram alcançadas pela verdade do Evangelho e pelo amor do Senhor? Tais questionamentos precisam ressoar em nossos corações, inflamando-nos de entusiasmo para a missão de continuar anunciando a misericórdia de Deus.

O Ano Santo terminou. Contudo, a misericórdia do Pai continua de portas escancaradas, esperando nosso consentimento e com o grande desejo de nos surpreender. Que a Virgem Santa, Senhora Aparecida, ajude-nos a prosseguir neste que é um programa para toda a vida! Assim seja!

 

Ana Mariana Araújo

Comissão Nacional de Intercessão do Ministério de Comunicação Social

Grupo de Oração Coração do Pai

Missão Sacramento

 

Referências:

Misericordiae Vultus, Bula de Proclamação do Jubileu Extraordinário da Misericórdia.

Diário de Santa Irmã Maria Faustina Kowalska, p 611 e 998.