São João Evangelista narra no livro do Apocalipse: “Depois disso, vi uma grande multidão que ninguém podia contar, de toda nação, tribo, povo e língua: conservavam-se em pé diante do trono e diante do Cordeiro, de vestes brancas e palmas nas mãos… Esses são os sobreviventes da grande tribulação; lavaram as suas vestes e as alvejaram no sangue do Cordeiro”(Ap 7, 9.14).

No dia 1° de novembro, a Igreja celebra a Solenidade de todos os santos, desses sobreviventes que São João diz e que veem Deus face a face. A celebração é para recordar o chamado de Cristo a cada pessoa e o convite a cada cristão para segui-Lo e ser santo, à imagem e semelhança de Dele.

Essa celebração acontece há muitos anos na Igreja e teve início com o Papa Bonifácio IV, quando recebeu o edifício Pantheon(construção dedicada a todos os deuses pagãos, localizado no centro de Roma). Depois de recebido, Bonifácio IV consagrou esse templo a Santíssima Virgem e a todos os mártires, dando início assim a celebração de todos os santos. Contudo, foi mais tarde que o papa Gregório III (731-741) a transferiu para 1º de novembro, em resposta à celebração pagã do dia anterior. Posteriormente, a festa começou a ser celebrada por toda a Igreja como Solenidade.

Nesse dia, celebramos os santos da Igreja, os escolhidos que tiveram suas vestes alvejadas, pessoas que alcançaram a graça da pátria celeste. Conhecidos ou não, esses santos e mártires são honrados pelo esforço e testemunho que deixaram. Homens e mulheres mostrando que alguém que busca a graça de Deus e vive na obediência a Ele, nunca estará destinado ao fracasso, mas tem reservado um prêmio muito valioso.  “Resta-me agora receber a coroa da justiça, que o Senhor, justo Juiz, me dará naquele dia, e não somente a mim, mas a todos aqueles que aguardam com amor a sua aparição” ( II Tim 4,7).

Não apenas um dia com uma liturgia especial, mas é um momento para todo batizado refletir sua vocação, afinal, a santidade é a vocação universal. É a solenidade de todos os santos e, também, a solenidade para refletir o maravilhoso convite que Deus faz todos os dias: vem e segue- me (cf. Mat 19, 21). Nos últimos anos de seu pontificado, São João Paulo II, proclamava na Praça de São Pedro:“A Santidade é a prioridade de todos os tempos”, ou seja, a santidade é urgente, é para agora. Todos os tempos compreende o hoje, e, em dias tão difíceis, esse discurso é mais atual que nunca.

A luta contra o pecado, vida de oração, vivência dos sacramentos, a busca por Deus, a unidade entre irmãos; toda uma caminhada de vida com o Senhor aqui na terra, já torna muito mais intensa a vontade de viver eternamente com Ele no céu. A santidade é possível e o convite de Deus é para todos, sem predileção. A Igreja militante, caminha com os olhos para o alto, para onde está Cristo, a dor e angústia da vida presente, servem de impulso para viver eternamente onde já vivem esses eleitos! E sobre isso, o apóstolo Paulo já alertava: “E, se filhos, também herdeiros, herdeiros de Deus e coerdeiros de Cristo, contanto que soframos com ele, para que também com ele sejamos glorificados. Tenho para mim que os sofrimentos da presente vida não têm proporção alguma com a glória futura que nos deve ser manifestada” (Rm 8,18).

A Solenidade de todos os santos é um convite da Igreja a todos os féis: aspirem ao céu, busquem as coisas do alto, lá se encontra o verdadeiro tesouro. Concedei-nos o convívio dos eleitos! Essa é a expressão diária, usada na Santa Missa a fim de reforçar a necessidade e a profunda vontade de viver junto ao Senhor.  Senhor, dai-nos participar da vida eterna, junto aos escolhidos; é a Igreja militante demonstrando o desejo ardente de se unir a Igreja triunfante, de viver eternamente junto ao Amado.

“Com efeito, a santidade é a prioridade de todos os tempos e, por conseguinte, inclusivamente desta nossa época. A Igreja e o mundo têm necessidade de santos, e nós somos tanto mais santos quanto mais deixamos que o Espírito Santo nos configure com Cristo. Eis o segredo da experiência regeneradora da efusão do Espírito”.São João Paulo II (em 14/03/2002, em um discurso a delegação da Renovação no Espírito Santo).