Thaisson Santarém, coordenador nacional do Ministério para Seminaristas, faz uma reflexão a respeito do Tempo Quaresmal. Leia a carta enviada para os membros do Ministério:

Brasília, 18 de Fevereiro de 2015.

Caros irmãos, a Paz e a Graça da parte de nosso Senhor Jesus Cristo!

Escutamos e iremos escutar muito durante esse ano: “Se vivemos pelo Espírito, andemos de acordo com o Espírito” (Gl 5,25), não é? Se perguntarmos para qualquer carismático o que vem a ser “viver no Espírito”? Talvez saiba dizer muitas coisas. Contudo, para dizer sobre “andar no Espírito” não é tão simples, porque devemos primeiro saber “onde andaremos” ou “onde estamos andando”.

Eis que o Senhor nos convida a entrar no tempo litúrgico da Quaresma. Eis o “onde” devemos andar HOJE! Não pensemos que estaremos sempre na mesma estrada. A cada momento percorremos estradas cada vez mais diferentes. Mas a estrada que o Senhor nos indica HOJE para andar é a Quaresma.

Enquanto o nosso núcleo rezava segunda (16/02), o Senhor nos deu a Palavra de Mc 1,9-15. Está certo que essa Palavra-tema é para o nosso Grupo de Oração (São Miguel Arcanjo) – que se reunirá, pela primeira vez esse ano, amanhã (19/02) -, mas o Senhor me dava o discernimento de que é um convite para todos nós. Não simplesmente entrar na Quaresma como todos os anos, com uma passagem bíblica “clichê” desse tempo litúrgico, mas eu, em nome do Ministério para Seminaristas, convido-vos a lembrar do tema da RCC para esse ano e fazer uma ligação com o Batismo e a Tentação de Jesus.

Nosso Senhor recebe o Espírito Santo. O Espírito o impele a ir ao deserto. Nos quarenta dias de JEJUM e ESCUTA, Jesus é tentado, mas é servido pelos anjos. Depois sai a anunciar o Evangelho dizendo que completou-se o tempo e o Reino de Deus está próximo, indicando o povo a fazer penitência e crer no Evangelho (utilizo aqui a tradução da Bíblia Ave Maria).

Grifei acima as palavras Jejum e Escuta, pois é o pedido que o Senhor faz a nós nessa Quaresma. Jejum como algo mais do que sabido por nós. Mas a Escuta é algo que desde muito tempo vem sendo dito na RCC, principalmente nos últimos tempos, e podemos, nessa reflexão quaresmal, perceber dois tipos: na Palavra e na Eucaristia. Fico maravilhado com as formas que o Senhor nos deixou para escutá-Lo e encontrá-Lo vivo e ressuscitado! O mesmo Jesus que morreu e ressuscitou há cerca de dois mil anos atrás, é o mesmo Jesus que se encontra na Palavra e na Eucaristia. Escutamos o Senhor na Palavra proclamada na Santa Missa sentindo o coração arder como os discípulos de Emaús (Lc 24,25-27.31-32), e O vemos e reconhecemos na Eucaristia (v.30-31); escutamos Jesus na Lectio Divina e O vemos no prolongamento visível da Missa que é a Adoração Eucarística (cf. Sacramentum Caritatis, nºs. 66-67). E que grande maravilha esse dom de encontrar Jesus tão próximo de nós em nossos seminários! Entretanto, Jesus Ressuscitado se encontra em outros lugares disposto a ser VISTO e ESCUTADO, lugares tais que nos obrigam a quebrar nossos “esquemas” e sair da nossa “zona de conforto”.

Para encontrarmos o Senhor, precisamos vê-Lo primeiramente na Palavra de Mt 25,31-46, que diz exatamente sobre o “critério” ou o “crivo” que passaremos no Juízo Final para recebermos a vida eterna ou o castigo eterno. O Ressuscitado se dispõe a ser encontrado também no pobre, no sofredor, no doente, naquele que precisa ser OUVIDO, VISTO, ACOLHIDO, AMADO! Mas como é que consigo quebrar-me? Como consigo sair de mim? Como consigo sair dos meus confortos e ir até os que sofrem? É necessário um CORAÇÃO ADORADOR!

O que tem a ver: Adoração com Caridade com os pobres?

Pe. Antônio José, do RJ, dizia, lá na Reunião do Conselho Nacional da RCC (22/01), que a palavra “adoração” na Bíblia tem alguns significados: RENDIÇÃO, SUBMISSÃO, COLOCAR-SE À DISPOSIÇÃO, SERVIR DEDICADAMENTE, RECONHECER O VALOR, GRATIDÃO. Não é necessário pensar muito sobre esses significados para ver que adoração é também ato de AMAR o RESSUSCITADO. Para isso, precisamos pedir ao Senhor que arranque nosso coração apegado às comodidades e nos dê um novo coração (Ez 36,26), um CORAÇÃO MISERICORDIOSO.

O Papa Francisco, em sua mensagem para a Quaresma desse ano de 2015, nos ensina o que é ter esse coração misericordioso: “Ter um coração misericordioso não significa ter um coração débil. Quem quer ser misericordioso precisa de um coração forte, firme, fechado ao tentador, mas aberto a Deus; um coração que se deixe impregnar pelo Espírito e levar pelos caminhos do amor que conduzem aos irmãos e irmãs; no fundo, um coração pobre, isto é, que conhece suas limitações e se gasta pelo outro. Por isso, amados irmãos e irmãs, nesta Quaresma desejo rezar convosco a Cristo: ‘Fac cor nostrum secundum cor tuum – Fazei o nosso coração semelhante ao vosso’”. E ainda: “Amados irmãos e irmãs, como desejo que os lugares onde a Igreja se manifesta, particularmente as nossas paróquias e as nossas comunidades, se tornem ilhas de misericórdia no meio do mar da indiferença!”.

Então, irmãos, peçamos ao Senhor que é VIVO E RESSUSCITADO que nos dê nessa Quaresma a graça de um coração misericordioso para andarmos com o Espírito pelo deserto, adorando o Senhor na Palavra e na Eucaristia, mas também nos irmãos mais pobres. Esse caminhar de conversão faz de nós oferta, tornamo-nos cinzas, tornamo-nos pó. Não deixemos que a chama no altar do sacrifício se apague quando as cinzas forem retiradas, pois o fogo jamais deve ser apagado (cf. Lv 6,1-6), ou seja, a presença do Espírito é o que nos garante passar pelo deserto até o fim, fazendo-nos ter compaixão, sofrer com o outro, sentir até a fome e a sede de Jesus no irmão pobre.

Que a Virgem Aparecida, padroeira do Brasil, possa interceder a Jesus para que Ele nos dê o Seu coração.

Abraço fraterno!

Thaisson da Silva Santarém
Seminarista da Arquidiocese de Brasília
Coordenador Nacional do Ministério para Seminaristas da RCC do Brasil