Em comemoração ao dia dos avós, nós viemos partilhar com nossos leitores este lindo testemunho da senhora Hyde Flávia, coordenadora nacional do Ministério para as Crianças, mas, primeiramente, avó da Gabriela.

Leia a seguir o testemunho na íntegra desta avó guerreira e temente a Deus:

“Meus pensamentos não são os vossos pensamentos, vossos caminhos não são os meus – oráculo do Senhor” (Is 55, 7).

Grandes desafios a fé nos remete. Não se trata de tentar entender ou aceitar os desígnios de Deus, mas de manter a paz e a esperança diante do inesperado. Diante de uma realidade não sonhada, das surpresas distantes do esperado, como viver a esperança?

São situações em que você se sente como Maria e José. Imaginem a cena: Maria foi visitar sua prima, Isabel, e José, carpinteiro, se preparando para o casamento de seus sonhos. Imaginem tudo o que é possível sonhar. Imaginem a alegria ao receber a notícia de que Maria estava voltando. Imaginem a expectativa. Imaginem o reencontro. Agora, era preciso José trocar seus sonhos pelos sonhos de Deus. Imaginem Maria tendo que dar a luz a um filho numa cidade estranha, longe de seus familiares e, na sequência, tendo que fugir para o Egito protegendo a criança de soldados bem treinados em cumprir ordens. Paz na adversidade é possível?

Foi meditando estas realidades nada românticas que encontrei consolo em Deus quando minha neta, aos nove meses, sofreu um acidente e passou a ter paralisia cerebral. Engatinhava no chão, quando achou um grão de feijão cru, o aspirou e o grão obstruiu o oxigênio que o cérebro necessitava. Como pode um grão de feijão causar tanto dano, desfazer tantos sonhos?

Dor, sofrimento e notícias nada agradáveis. Tudo junto. Minha neta mora no Pará, em um local sem recursos. Foi transferida em avião UTI para Belém, que não tinha profissionais para atendê-la, pois era final de semana. Na segunda-feira, o médico chega, mas o anestesista, não. Na terça, precisou operar, pois o grão inchou e soltava substancias tóxicas e sofreu infecção hospitalar e longe de casa… e a noticias eram: o quadro se agravou.

Que menina valente, sobreviveu!

Ela sobreviveu, mas a fé da avó ficou muito abalada. Minha oração era assim: Deus é bom. Deus é bom. Me perguntavam como ela estava e eu só conseguia dizer: Deus é bom. Não estava tentando convencer as pessoas, mas a mim mesma.

Imaginem, tinha acabado de dizer SIM para o chamado de evangelizar as crianças de todo o Brasil e ver minha única neta nesta situação?

Descobrir a bondade de Deus na adversidade é uma grande graça. Deus não só é bom, mas misericordioso. Hora nenhuma faltou Sua mão poderosa. Meu filho já não ia à Igreja. Ainda em Belém, enquanto esperava a hora de entrar no CTI, encontrou um povo fiel da RCC que rezava numa Igreja perto do hospital e lá o amor de Maria o alcançou.

Ter um Deus que é capaz de tirar do mal um bem (Gn 50, 20-21) e que dá sentido até ao sofrimento (At 2, 22-36) é uma grande graça. O Senhor, a cada dia, cuidou das feridas. Várias vezes experimentei a graça da oração de Tomé: Tomé põe teu dedo aqui e olha as minhas mãos (Jo 20,27). Ver as feridas serem transformadas em estigmas que não doem mais, é uma grande graça. Por suas feridas fomos curados.

Domingo, dia 18 de julho de 2015, minha neta fez a Primeira Eucaristia. Olhar para ela comungando é uma grande graça. Sua alegria, sua presença nos faz entender que há pessoas que nascem para aprender, outras para ensinar.

Ah, me esqueci de dizer o nome de minha neta. Ela se chama Gabriela, a mensageira de Deus”.

Hyde Flávia

Avó da Gabriela