Queridos irmãos, graça e paz, da parte de Deus nosso Pai.

Eis que se aproxima o grande dia de Pentecostes, dia do “derramamento do Espírito Santo sobre todos os viventes” (cf. Jl 3, 1). Dia “da Maravilha das maravilhas” (Beata Elena Guerra). Dia em que o desejo de Deus se cumpre: morar no coração do homem e gravar em seu coração a Sua Lei. (cf. Jr 31, 33). Dia em que recebemos de Deus uma “outra humanidade”, àquela pneumatificada, segundo São Gregório de Nissa. Dia em que Pedro, de discípulo medroso, se tornara um Apóstolo cheio de Sua audácia.

Sim, irmão. “Este é o dia que o Senhor fez para nós. Alegremo-nos e nele exultemos! Aleluia”. Mas, diante de tão grande dom, diante de tão grande Amor, o que fazer? Como esperar o Espírito prometido do Pai? Como permitir Sua doce morada em nossa alma?

Detenhamos um pouco o nosso olhar sobre a figura do Apóstolo Pedro e com ele aprendamos a ser verdadeiros hospedeiros do Espírito Santo. Este homem, que segundo o papa emérito Bento XVI, na Audiência geral do dia 17 de maio de 2006, era um simples pescador, como o seu irmão, e com sua família de Zebedeu, pai de Thiago e João, e que tinha uma pequena atividade de pesca no lago de Genesaré. (cf. Lc 5, 10). Judeu crente e praticante, convencido da presença ativa de Deus na história de seu povo, com o caráter decidido e impulsivo; ao mesmo tempo, ingênuo e medroso, e ainda honesto, até chegar ao arrependimento mais sincero (cf. Mt 26, 75).

Chamado a ir para águas mais profundas (Lc 5, 4) e a reconhecer a Jesus como o Messias (Mc 8, 29), por graça e revelação do Pai (cf Mt 16, 17). Pedro, foi aquele que pôde experienciar em sua humanidade a sua própria fraqueza e a Força soberana de Deus, que o tomara, o transformara, e que o levara para além dos seus limites e o tornara um Apóstolo audacioso, cheio da Força imorredoura de Pentecostes.

Nós também, por tantas vezes decididos e impulsivos, por vezes ingênuos e medrosos, mas, como Pedro, estamos sendo chamados por Deus, a uma profunda atitude de conversão, e arrependimento de nossos pecados. Foi assim que Pedro entrou no Cenáculo para receber o Paráclito. Profundamente compungido e reverente a voz do Senhor que o ordenara: “Permanecei em Jerusalém até que venha sobre vós o prometido do Pai.” ( cf. At 1, 4). Em seu interior não havia mais dúvida, pois durante os quarenta dias em que o Ressuscitado estivera manifestando-se aos seus, o encontrou em uma manhã de primavera e o confirmou na fé, para que o mesmo confirmasse os seus irmãos. (cf. Jo 21, 15-17)

Mas ainda faltava ser infundida nele a Força divina, a Alma e Vida da Igreja. Não haveria possibilidade alguma de executar a missão que Nosso Senhor lhe ordenara sem a Sua graça, sem o Seu poder. Por isto, dócil e obediente entrou no Cenáculo, com Maria e os outros discípulos para que pudesse ser revestido desta Força e ser de fato, testemunha do Ressuscitado. (cf. At 1, 8). Nós também, ao longo destes quarenta dias tivemos a oportunidade de tocar e ser tocado pelo Senhor Ressuscitado, por meio de cada Eucaristia celebrada e de cada Palavra proclamada. Chegou a hora e é agora, de sermos coroados pelo seu Espírito no dia de Pentecostes.

Sejamos portanto, dóceis e obedientes a voz do Mestre e Senhor. E com a Igreja oremos incessantemente ao Espírito Santo, pois “sem a Sua força nada existe no homem”. Mas não ore a Ele como Santo Agostinho orou a Deus antes de sua conversão: “Cura-me, Senhor, mas não logo!” (Agostinho, Confissões, VIII, 7.). “Vinde Espírito Santo, somos tentados a dizer – , mas não já e sobretudo nada de estranhezas e singularidades.” (Raniero Catalamessa, O mistério de Pentecostes, p.94).

Não! Pedro só se tornou um Apóstolo cheio de Parresía, de vigor e de coragem porque entrou no Cenáculo disponível e dócil a vontade do Pai, não ficou preso ao passado, tão pouco ao seu pecado perdoado, e muito menos em suas redes rasgadas. Mas lançou-se nas redes que Nosso Senhor o em laçara e pelo Seu Espírito, se tornou rede para pescar muitos homens para Deus.

O mundo, o Brasil, tem sede de novos Apóstolos e profetas, tem sede de novos pescadores de almas; tem sede de novos mártires e amigos de Deus. Porém estes só surgirão a medida que nos colocarmos na Presença de Deus, como Pedro, disponível e obediente. Não tenhamos medo! Deixemo-nos o Espírito Santo fazer em nós uma obra nova e por meio de nós instaurar no mundo a civilização do amor. Chegou o tempo! É agora! Não queira controlar o Espírito. Não o engaiole. Não diga a Ele o que precisa ser feito. Mas lança-se no Fogo de Seu Amor e Deus realizará em você, muito mais do que ousas pedir e esperar. Pois aquele que crer em mim realizará as obras que eu faço e ainda maiores, disse Jesus. (cf. Jo 14, 12).

Pedro assim o fez! Convertendo mais de três mil pessoas em sua primeira pregação (cf. At 2, 41); curando o coxo à porta do Templo (cf. At 3, 4); testemunhando o Senhorio de Jesus perante as autoridades (cf. At 4, 1); anunciando o que viram e ouviram da parte de Deus. (cf. At 4, 20). e você o que fará em nome do Senhor?

Seja dócil, disponível e obediente ao Espírito Santo como Pedro!

Feliz e Santo Pentecostes!

 

Sem. André Luiz dos Santos

Arquidiocese do Rio de Janeiro

Coord. Estadual do Ministério para Seminaristas – RJ