Dom Azcona é natural da Espanha, nasceu na mesma região do padroeiro das missões, São Francisco Xavier. Assim como o Santo conterrâneo, Dom Azcona tem a Missão no coração. Foi isso que o motivou a abandonar a terra natal, em 1983, e vir para o Brasil, evangelizar na Amazônia. Nunca mais foi embora e não se cansa de dizer que deseja “morrer no Marajó”. Por anunciar o Evangelho de “Cristo Crucificado”, em lugares onde impera a injustiça, tem sofrido ameaças de morte. Dom Azcona não se intimida, pelo contrário, diz que se sente honrado em poder morrer por Jesus. Sem dúvida, trata-se de um Pastor com quem temos muito a aprender. Por isso, observando seu testemunho de quem vive sob o Senhorio de Jesus, abrimos este espaço para conhecê-Io um pouco mais. Um servo de Deus que a RCC admira e ama!
Renovação: Como o senhor descobriu a vocação para o sacerdócio?
Dom Azcona: Eu creio que foi uma semente que Deus colocou no meu coração, desde sempre. Eu era coroinha, e ao ver o padre olhar a Santa Hóstia com tanta reverência e respeito, eu imaginava, no meu jeito de criança, também, um dia ser padre, para oferecer aquela Hóstia, que eu sabia pouca coisa Dela, mas que era tão importante para o povo e para mim. Entrei no seminário com dez anos. Eu chorava nos primeiros dias lembrando do papai, da mamãe, dos meus irmãos que tinham ficado, mas a graça de Cristo me abraçou, me apoiou e superei esta saudade, estes sentimentos de criança; Cristo foi bom, também, dando-me essa plenificação afetiva, desse vazio familiar naqueles primeiros anos do seminário.
Renovação: Como foi sua experiência de Batismo do Espírito Santo?
Dom Azcona: Foi em 1980, em Madri, num retiro espiritual para sacerdotes. O Batismo no Espírito Santo aconteceu para mim como uma experiência do Amor de Deus. Descobri que Deus me amava, não como uma teoria que eu havia estudado em teologia moral. Eu já era doutor em Teologia. Tinha estudado os textos no Novo Testamento, sobretudo em relação ao Espírito Santo e o Amor. Mas a experiência com o Amor eu não a tinha tido, a qual é fundamental para a vida do cristão, para vida do sacerdote, do religioso. As pessoas devem imaginar que um sacerdote, com 41 anos de idade, que não teve a experiência do amor de Deus deve ser um sacerdote anormal e muito anormal. Uma frase do livro de Santo Agostinho, Confissões: “Oh beleza tão antiga e tão nova, que tarde te amei, que tarde te amei”, se aplicava diretamente a minha vida. E a experiência com Jesus preenchia o vazio de 41 anos e minha arrogância farisaica havia sido destruída. Ele estava me preenchendo com seu amor, com sua misericórdia, com seu carinho. Sem essa experiência, com certeza, eu não seria missionário, não estaria aqui, sem esta comunicação do Espírito Santo, poderosa, que Deus me deu através da experiência do amor.
Renovação: Como se deu a sua vinda para o Brasil?
Dom Azcona: A minha vinda para o Brasil foi a realização de um sonho missionário. Em 1983, me apresentei como voluntário. A Amazônia oferece grandes possibilidades para viver o Evangelho. É uma grande ocasião para viver as bem-aventuranças, para viver a missão intensamente, para lançar-se à pregação do Evangelho e para construir a Igreja de Jesus Cristo que está fragilizada, muito fragilizada, porque nunca teve, aqui na Amazônia, uma evangelização consistente, segura até o dia de hoje.
Aqui, há todas as oportunidades para realizar o chamado do Evangelho à santidade. A santidade que passa, necessariamente, pelo mandato missionário: “Ide e anunciai o Evangelho”, e anunciai Jesus! Então eu convido que as pessoas venham aqui santificar-se, a dar glória a Deus com a entrega da sua vida, a entregar sua vida na área missionária, sem olhar aquilo que vai deixar, para que não se converta numa estátua de sal, como a mulher de Ló. Porque tem cristãos que esmorecem, que buscam algum tipo de respaldo nessa vida missionária.
Renovação: O que o faz permanecer no Marajó?
Dom Azcona: Eu adoro a Cristo que morreu por mim na cruz e me enviou a anunciar este amor a todo mundo. Portanto, a partir da obediência aqui cheguei. Esta é a motivação: Cristo que morreu por mim; eu tenho que anunciar esta morte amorosa que transforma o mundo inteiro. Para mim, este é o motivo único da presença aqui no Marajó.
Renovação: O que é ser missionário?
Dom Azcona: Ser missionário é ser servo do Evangelho. Pegando aquela frase de São Paulo do início da carta aos Romanos: “Paulo, servo de Jesus Cristo, destinado por Deus para o Evangelho”. Isto é, ser um servo de Jesus Cristo; ser um servo de Jesus Cristo significa ser um servo do Evangelho. É isso que é ser missionário: ser servo do Evangelho.
Renovação: Como o senhor avalia a iniciativa da Renovação Carismática Católica em enviar missionários ao Marajó?
Dom Azcona: Como providencial. Vejo sempre como uma predestinação de Deus, deste amor de Deus por nós aqui do Marajó. E ao mesmo tempo como um Novo Pentecostes. Se a RCC do Brasil está atenta ao chamado missionário que o Espírito está fazendo a ela, então eu quero dizer uma palavra: Renovação Carismática não perca esta opção que leva a onda do Novo Pentecostes para cá, para a Amazônia, começando aqui no Marajó.
Renovação: Qual deve ser o compromisso dos cristãos com a missão?
Dom Azcona: É o compromisso radical, total, sem parcelamentos e sem fugas. Na essência do ser cristão, tem o ser missionário, não tem um cristão que possa entrar na vida eterna se não for missionário de corpo e alma 24 horas por dia. Dia e noite! A comunhão com Cristo, pelo mistério do corpo Dele leva necessariamente à missão.
Renovação: Em suas pregações, o senhor fala muito sobre o Cristo Crucificado. Por quê?
Dom Azcona: O Espírito Santo me revelou aos poucos com reflexões, com orações, na análise da Realidade, de que esta experiência do Amor que eu tinha recebido no Batismo no Espírito Santo não tem outra fonte a não ser o lado aberto de Cristo Jesus. É o Coração de Cristo Crucificado, entregue à morte pelos meus pecados, onde se revela, comunica e irradia o amor. Fora dessa cruz está o amor pelo mundo. E tudo na face da terra (tudo!), que se entende por amor, nasce do coração de Cristo, pela lança do soldado, e muito mais claramente pelo impulso contentíssimo de Seu amor a cada um de nós.
Renovação: O senhor tem sofrido ameaças de morte, isso o intimida?
Dom Azcona: Eu estou feliz porque Ele criou dentro de mim uma disposição para poder morrer também por Ele. E o fato de eu poder morrer, a qualquer momento, para testemunhar o Evangelho, para testemunhar a Cristo Crucificado e o amor Dele é o que me plenifica totalmente. A possibilidade do martírio é o máximo do que eu posso receber de Cristo. Creio, firmemente, que este chamado ao martírio foi Cristo quem me deu; pelo qual alcancei uma felicidade imensa, a ponto de não ter anseio de qualquer outra coisa!
Fonte: Revista Renovação, ano 10, edição 54, de janeiro/fevereiro de 2009.