No mês de agosto a Igreja celebra as diversas vocações: o sacerdócio, o matrimônio, a vida religiosa, a vida consagrada de muitos leigos engajados (catequistas, missionários (as) das Novas Comunidades, etc). Agosto é o mês vocacional, dedicado à reflexão e o incentivo à vocação na Igreja. Mas, talvez você possa estar se perguntando o que é vocação? De acordo com o Dicionário da língua portuguesa Aurélio, a palavra vocação tem sua origem no latim vocare que significa chamado.

Para mim, vocação significa um grande dom de Deus que Ele concede a cada um de nós. Pois, pelo batismo nos tornamos todos vocacionados (chamados) ao exercício da vocação cristã: anúncio e vivência da Boa Nova. No entanto, Jesus em sua vida terrestre quis chamar alguns para dar continuidade a sua missão de modo especifico, a estes deu o nome de apóstolos. “Depois subiu à montanha, e chamou a si os que ele queria, e eles foram até Ele. E constituiu Doze, para que ficassem com ele, para enviá-los a pregar, e terem autoridade para expulsar os demônios” (Mc 3, 13-15). O Senhor chamou quem Ele queria! É obvio que Jesus não chamou os melhores, os perfeitos e os prontos, pelo contrário Ele chamou e ainda hoje continua a chamar os mais necessitados do seu amor e da sua misericórdia. Eu sou um exemplo dessa escolha de Jesus!

A nossa maior alegria em ser vocacionado do Senhor é experimentar a ação de Deus na nossa vida. Gosto muito daquela expressão: “somos apenas barro nas mãos do oleiro”. Essa expressão por si só, já nos alerta quem somos e para que estamos sendo preparados. O barro talvez seja a matéria prima mais simples de se encontrar e a menos atraente aos olhos humanos… Porém, depois que o artesão com muito capricho e cuidado trabalha o barro, a peça se torna uma obra de arte maravilhosa e não somente, ela se torna extremamente útil. Basta, perguntarmos aos nossos antepassados qual era a utilidade do pote de barro, da panela de barro para o dia-a-dia de uma família. Conosco não é diferente, o Senhor nos trata como barro porque temos uma grande missão no mundo, o Senhor nos molda e está trabalhando em nós para sermos úteis no seu Reino.

Partilhando um pouco do meu chamado com você, gostaria que percebesse como Deus é amável e deseja fazer a sua obra acontecer na vida daqueles que se abrem ao chamado. Eu como tantos outros, também brincava de ser padre quando era criança e celebrava missa com bolacha e suco de uva. Comecei minha vida na Igreja muito cedo, fui levado por meus avós paternos que eram bastante católicos, in memoriam minha saudosa avó Maria Edivirge. Ela fora minha primeira catequista, aprendi a rezar o terço com ela quando nas noites do mês de maio saímos de casa e pegávamos um transporte chamado “Pau de arara” que nos levava até a casa onde seria celebrada a noite de maio em Riacho das Almas interior de Pernambuco. Nessa época, tinha em torno de 7 a 8 anos de idade. O tempo passou, após ter feito a Primeira Comunhão e Crisma, já estava me preparando para trabalhar, aliás, comecei a trabalhar muito cedo também, fui feirante, locutor de Rádio e professor. Aos 15 anos de idade recebi um convite que me fez ter uma nova visão de ser Igreja e me proporcionou um belíssimo encontro pessoal com Jesus Cristo, participar do EJC (Encontro de Jovens com Cristo). Nunca tinha ouvido falar nesse encontro, mas ele existe e me fez muito bem e continua fazendo muito bem a milhares de jovens que tem a graça de participar dele.

Ao fazer o EJC me aproximei do Pároco da minha Paróquia de origem e não sabia que poucos dias depois, iríamos trabalhar juntos na Rádio Comunitária de minha cidade, onde eu era funcionário e ele iniciava um programa da Igreja Católica. Por muito tempo, fiz a técnica desse programa e concomitantemente continuava o meu trabalho na vida comunitária. Coordenei o Grupo de Jovens da Paróquia, participei da Equipe de Liturgia, do EJC, CPP (Conselho Pastoral Paroquial). Nesse envolvimento todo, sentia muita alegria em servir a Deus, mas sempre algo me inquietava, ainda não me sentia tão feliz como poderia vir a ser, estava faltando algo… foi aí, que surgiu o chamado a uma entrega total, a uma vida consagrada.

Imagine você, eu sou filho único, naquele tempo jovem de 17 anos, com muitos sonhos, ideias e projetos… O Senhor chega e me chama: “Eu quero você!” Quando falei para os meus pais que estava pensando em ser padre, recebi um balde de água fria. Eles nunca pensavam que um dia eu resolveria ser padre. Como quaisquer outros pais de filho único desejam que seu filho(a) case e lhes dê netos. Esse foi o momento mais difícil de minha caminhada vocacional quando tive que mostrar razões para a minha família que Deus estava me chamando. Enfrentei uma barra, mas sabia que Deus estava comigo. Encontrei abrigo no Grupo de Oração que estava dando os seus primeiros passos na Paróquia. Era um Grupo de mais ou menos 15 pessoas, não tinha ministério de música, não tinha grandes pregadores, mas contava com a alegria e a doação de pessoas que tinham sido batizadas no Espírito e simplesmente amavam. E foi aí, que me convidaram para um retiro de Carnaval e nesse retiro participei do Seminário de Vida no Espírito e recebi o Batismo no Espírito Santo. Pra mim, aquela foi, senão a maior, mas uma das maiores experiências que já tive com o Senhor. Na hora não senti nada, mas depois que saí daquele Ginásio, sentia o coração arder e a vontade que me dava era de amar, amar todos aqueles que não estavam compreendendo o meu chamado. E ainda mesmo sem entender o que tinha acontecido comigo, voltei pra casa e mesmo naquele clima chato, meu pai ficou uma semana sem olhar pra mim, eu só amava ainda mais meus pais e a minha vontade de doar-me à Igreja só aumentava.

Então, no dia 11 de fevereiro de 2008, definitivamente ingressei no Seminário com o apoio dos meus pais. Sim, com o apoio e ajuda deles, porque como o Amor me amou, eu não tinha outra escolha a fazer a não ser amá-los. E eles não resistiram a esse amor e retribuíram amor também!

Hoje, estou no 2º ano de Teologia, atualmente coordeno o Ministério para Seminaristas (RENASEM) na RCC do Brasil e a Palavra de Ordem que o Senhor me deu foi “Deixai-vos conduzir pelo Espírito” (Gl 5, 16). Acredito que nesses seis anos de Seminário tenho me esforçado para deixar que o Espírito Santo ganhe forma em mim e eu faça somente a vontade D’Ele. É claro que sou pecador e falho, assim como os Doze que Jesus escolheu, mas o desejo de servir e amar a Igreja de Jesus Cristo muito tem me impulsionado para uma vida digna e em comunhão com aquele que me chamou. Acima de tudo, acredito que o chamado é para mim um grande dom de Deus!

Por fim, gostaria de pedir vossas orações, rezem pela santificação do clero, mas não deixem de rezar por nós seminaristas que estamos a caminho do sacerdócio. O inimigo tem sido muito astuto conosco, não podemos e não queremos ceder jamais às tentações dele, mas isso só será possível se nos decidirmos por Jesus. No nosso Seminário todos os dias celebramos a Eucaristia, faço um compromisso de rezar por você, na certeza que posso contar com vossa oração!

Um forte abraço!

Em Cristo,

William Francisco da Silva

Seminarista da Diocese de Caruaru/PE

Coordenador Nacional do Ministério para Seminaristas RCCBRASIL