O Senhor Jesus se manifestou de várias formas aos seus discípulos após a Ressurreição, confirmando-os para a missão que lhes seria confiada, Cerca de quarenta dias após o evento fundamental para a fé cristã, a Ressurreição, reuniu o Senhor os seus discípulos e confiou-lhes a responsabilidade de levar a todos a Boa Notícia: “Disse-lhes: ‘Ide pelo mundo inteiro e anunciai a Boa-Nova a toda criatura! Quem crer e for batizado será salvo. Quem não crer será condenado. Eis os sinais que acompanharão aqueles que crerem: expulsarão demônios em meu nome; falarão novas línguas; se pegarem em serpentes e beberem veneno mortal, não lhes fará mal algum; e quando impuserem as mãos sobre os doentes, estes ficarão curados’. Depois de falar com os discípulos, o Senhor Jesus foi elevado ao céu e sentou-se à direita de Deus. Então, os discípulos foram anunciar a Boa Nova por toda parte. O Senhor os ajudava e confirmava sua palavra pelos sinais que a acompanhavam” (Mc 16,15-20).
Na narrativa do mesmo fato, nos Atos dos Apóstolos (At 1,1-11), aqueles que tinham caminhado com Jesus olham para o alto, enquanto Jesus subia, e lhes é feita uma revelação: “Apresentaram-se então a eles dois homens vestidos de branco, que lhes disseram: ‘Homens da Galiléia, por que ficais aqui, parados, olhando para o céu? Esse Jesus que, do meio de vós, foi elevado ao céu, virá assim, do mesmo modo como o vistes partir para o céu'”. Dali para frente começa um novo tempo, que vai da Ascensão e do Pentecostes até a prometida vinda do Senhor. Trata-se do tempo da Igreja, em que a visibilidade da presença de Jesus Cristo é entregue à nossa responsabilidade, sabendo que Ele, o Senhor, continua presente misteriosa e realmente entre nós, oferecendo a sua graça para todos os passos a serem dados.
Não vivemos o tempo da saudade, mas da esperança. Assim a Igreja reza em todas as Missas, após o Pai Nosso: “Ajudados pela vossa misericórdia, sejamos sempre livres do pecado e protegidos de todos os perigos, enquanto, vivendo a esperança, aguardamos a vinda de Cristo Salvador. Vosso é o Reino, o poder e a glória para sempre!” Somos homens e mulheres da esperança. “A esperança é a virtude pela qual desejamos o Reino dos céus e a vida eterna como nossa felicidade, pondo toda a nossa confiança nas promessas de Cristo e apoiando-nos, não nas nossas forças, mas no socorro da graça do Espírito Santo. ‘Conservemos firmemente a esperança que professamos, pois Aquele que fez a promessa é fiel’ (Hb 10, 23). A virtude da esperança corresponde ao desejo de felicidade que Deus colocou no coração de todo o homem; assume as esperanças que inspiram as atividades dos homens, purifica-as e ordena-as para o Reino dos céus; protege contra o desânimo; sustenta no abatimento; dilata o coração na expectativa da bem-aventurança eterna. O ânimo que a esperança dá preserva do egoísmo e conduz à felicidade da caridade (Cf. Catecismo da Igreja Católica 1817-1818).
Como viver neste misterioso e maravilhoso tempo, clamando a cada dia “Vem, Senhor Jesus”? Não perder de vista a meta, olhar para o horizonte aberto por Deus, saber que nossa esperança não se limita a esta terra. Acreditar na eternidade e sonhar os sonhos de Deus. Só que não nos cabe ficar assentados, vendo o tempo passar. Quem vive na esperança e da esperança abraça suas responsabilidades, vive bem cada momento presente, amando a Deus e ao próximo.
Durante a vida de cada cristão, são-lhe atribuídas responsabilidades e os dons correspondentes. Colocar em prática os dons e carismas que recebemos é caminho de realização e contribuição para a construção do Reino de Deus, uma batalha a ser empreendida em comunhão uns com os outros. E aqui haveremos de estar atentos e pacientes, sem nos apavorarmos com as eventuais demoras e os defeitos das pessoas, inclusive porque nós também os temos! Lutar dia a dia para superá-los, estender as mãos para ajudar os que são mais fracos, mostrar-lhes o horizonte da vida, sem derrotismo e pessimismo.
Comprometer-se com o bem, preenchendo cada espaço com o que é digno da vida das pessoas humanas, criadas por Deus para a felicidade. Isso significa vencer a preguiça, superar as tentações de omissão, que rondam nossos passos, especialmente nos momentos mais críticos da vida. E cada pessoa pode e deve anunciar o Evangelho, pelo testemunho, pela palavra, pelo exemplo. Como sabemos que a Palavra de Deus é a verdade (Sl 18,8), nosso compromisso com a integridade do Evangelho deve resplandecer e iluminar os nossos passos.
A cada ano, a Igreja propõe, na Festa da Ascensão do Senhor, a realização do Dia Mundial das Comunicações Sociais, com os quais somos responsáveis, até a vinda do Senhor, por anunciar a Boa Nova até os confins da terra. Neste ano, a Mensagem do Papa Francisco para a ocasião tem como tema “A verdade vos tornará livres” (Jo 8, 32), ajudando-nos a enfrentar o desafio das “fake news”, as notícias falsas que revelam a presença de atitudes simultaneamente intolerantes e hipersensíveis, cujo único resultado é o risco de se dilatar a arrogância e o ódio. É a isto que leva, em última análise, a falsidade. Além disso, propõe o “Jornalismo de paz”. Ensina o Papa: “A verdade é aquilo sobre o qual nos podemos apoiar para não cair. Neste sentido, o único verdadeiramente fiável e digno de confiança sobre o qual se pode contar, ou seja, o único ‘verdadeiro’ é o Deus vivo. Eis a afirmação de Jesus: ‘Eu sou a verdade’ (Jo 14, 6). Sendo assim, o homem descobre sempre mais a verdade, quando a experimenta em si mesmo como fidelidade e fiabilidade de quem o ama. Só isto liberta o homem: ‘A verdade vos tornará livres’ (Jo 8, 32). Libertação da falsidade e busca do relacionamento: eis aqui os dois ingredientes que não podem faltar, para que as nossas palavras e os nossos gestos sejam verdadeiros, autênticos e fiáveis”. Propostas desafiadoras que nos acompanham em busca da plenitude que vem de Deus, enquanto esperamos a vinda do Senhor!